Jogo da Taça Mundial dos Sem Abrigo 2008, Melbourne, Austrália (The Big Issue)

Um jogo que transforma homens

A sétima edição da Homeless World Cup [Taça Mundial dos Sem Abrigo] vai realizar-se em Milão (Itália), em Setembro, e reunirá 48 equipas vindas do mundo inteiro. Longe de ser miserabilista, a iniciativa visa dar uma oportunidade aos desalojados para encontrarem um emprego e um tecto. O projecto funciona, como conta o jornal Evenimentul Zilei.

Publicado em 24 Agosto 2009 às 14:03
Jogo da Taça Mundial dos Sem Abrigo 2008, Melbourne, Austrália (The Big Issue)

No próximo dia 6 de Setembro, em Milão, seis jovens romenos seleccionados em centros de acolhimento, orfanatos ou na rua lutarão por um lugar na classificação dos melhores jogadores de futebol sem-abrigo do mundo. Disputado em jogos curtos – de 14 minutos cada –, o futebol de rua conta com um orçamento muito pequeno: cada participante recebe mil euros. O mais difícil é convencê-los a não os irem gastar em "aurolac" (a cola com que alguns jovens de rua se drogam) ou álcool.

A Homeless World Cup(Taça Mundial dos Sem Abrigo) tem a sua sétima edição no próximo mês de Setembro. A competição reúne meninos de rua do mundo inteiro e dá-lhes a possibilidade de esquecer os antigos hábitos, de encontrar um emprego, de prosseguir estudos. E de jogar futebol. Para as crianças romenas, a descoberta do Campeonato foi como a primeira vez em que provaram uma barra de chocolate, depois de toda uma vida passada a ser maltratadas: uma sensação suave e, sobretudo, pouco duradoura. Porque uma das regras desta competição é que nenhum jogador pode participar mais de uma vez.

Principal obstáculo para o treinador: a agressividade das crianças

No ano passado, na Austrália, a equipa romena foi eliminada pela equipa do México: "Em doze jogos, ganharam oito", recorda Mihai Rosus, o presidente da equipa. Voltaram para a rua com os seus 1.000 euros no bolso: "Um deles alugou um estúdio por seis meses, mas outro pagou bebidas a todos os amigos sem-abrigo, durante três dias".

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A princípio, Mihai queria levá-los todos para sua casa. "Há 11 anos, via-os a drogar-se com cola. Resolvi perguntar-lhes se não preferiam ir jogar futebol comigo. Ficaram encantados. Depois, continuei a jogar à bola com eles, como amador", conta. Soube da existência da Taça do Mundo dos Sem-abrigo por intermédio de um padre escocês que foi levar ajuda humanitária a Timisoara, região ocidental da Roménia. No ano passado, Mihai Rosus começou a reunir o dinheiro que faltava para a deslocação à Austrália, batendo à porta de fundações, patrocinadores, parceiros. "Ainda me recordo de vários jogadores nunca terem entrado num avião… Alguns viram nesta manifestação uma possibilidade de se afirmar; mas a maior parte, infelizmente, voltou para a rua, porque não conseguiu alterar o seu antigo estilo de vida".

O principal obstáculo continua a ser a agressividade dos jogadores seleccionados, o que dá grandes dores de cabeça ao treinador da equipa, o ex-jogador romeno de futebol internacional Florim Batranu: "Orientámo-nos, à partida, para os que não têm um comportamento violento, mas mesmo assim tivemos dificuldades, porque, ao mínimo gesto ou palavra, zangavam-se e saíam de campo", explica Rosus. "Mas o Florim fê-los entender que não se trata de uma brincadeira. Quem não encare isto a sério é livre de voltar para a rua".

Este ano, Mihai Rosus não teve problemas em arranjar equipamento para os seus jogadores: os profissionais da Federação Romena de Futebol assumiram o patrocínio e ofereceram-lhes os seus. Em troca, os jogadores prometeram regressar a casa com uma Taça…

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