Um sonho de prosperidade que se desvanece

Desde o início da crise, os polacos descrevem o seu país como uma “ilha verde” de prosperidade no meio de um mar de recessão. Mas as expectativas para os próximos anos não são tão otimistas, e o país deve agora criar um modelo de desenvolvimento alternativo.

Publicado em 25 Setembro 2012 às 12:14

O crescimento do PIB na Polónia não deixa margem para dúvidas: o abrandamento económico chegou. A economia continua a crescer, embora num ritmo mais reduzido. O crescimento anual desceu no segundo trimestre de 3,5 para 2,4 por cento. “O valor do crescimento do PIB ficou muito abaixo das expectativas”, disse Maja Goettig, economista responsável pela KBC Securities em Varsóvia e membro do conselho económico do primeiro-ministro.

Por que devemos preocupar-nos, perguntarão alguns neste momento, se na verdade a economia continua a crescer. De facto continua, mas o desenvolvimento económico do país segue regras diferentes das de um país desenvolvido. Para a Polónia, uma taxa de crescimento abaixo de quatro por cento equivale ao mesmo que uma recessão na Alemanha. Quando o crescimento abranda, o desemprego começa a aumentar e é a falta de emprego, e não a leitura do PIB, que representa o sinal mais agudo de uma queda económica. “A taxa de desemprego caiu para 12,3 por cento em julho, mas foi apenas um efeito sazonal. No final do ano poderá muito bem aumentar para 13,5 por cento”, disse Goettig.

Apesar de o Ministério das Finanças ter libertado recentemente 500 milhões de zlotis para estimular o mercado de trabalho, o plano de orçamento do próximo ano continua otimista: o ministro Jacek Rostowski aguarda oficialmente um crescimento económico anual de 2,2 por cento e uma taxa de desemprego dentro da marca dos 13 por cento. O problema é que Rostowski não tem qualquer controlo sobre estes indicadores e os economistas concordam de forma geral que as suas expectativas são irrealistas.

“Como todos, Rostowski tenta prever o futuro, porque não tem qualquer ideia da duração e dimensão da recessão na zona euro. Se o crescimento abrandar para 2,2 por cento, o desemprego aumentará para 15-16 por cento”, disse Piotr Kuczyński, economista responsável pela Dom Inwestycyjny Xelion.

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Falta de amortecedores

O atual orçamento da UE está a chegar ao fim, o de 2014-2020 será provavelmente menos generoso para a Polónia, e os novos projetos apoiados pela UE não terão início antes de 2015. Tal como há três anos, a Polónia teve a sorte de ver um abrandamento económico coincidir com um pico nos subsídios da UE. De acordo com o Ministério das Finanças em Varsóvia, a contribuição da UE para o crescimento polaco em 2013 não será mais do que 0,5 pontos percentuais.

O segundo “amortecedor” de há três anos – uma expansão fiscal sem precedentes – também não fará parte dos planos. Quando em 2009 a recessão mundial atingiu a Polónia e de repente as receitas fiscais caíram bruscamente, o Governo, em vez de fazer cortes nos gastos, ensaiou um aumento no défice público para 7,4 por cento do PIB, para proteger o fraco crescimento. Mas em vez de uma recuperação surgiu outro abrandamento.

Resta apenas o terceiro “escudo”, isto é, a taxa de câmbio flutuante. Em 2009, as saídas de capitais desvalorizaram o zloti cerca de 30 por cento, aumentando rapidamente a falta de competitividade da Polónia nas exportações.

Não existem praticamente quaisquer “amortecedores” à exceção do zloti, e o único instrumento que pode ser utilizado a curto prazo para estimular a economia é controlado pelo banco central em vez do ramo executivo. O presidente do Banco Nacional da Polónia, Marek Belka, deixou bastante claro que estão prestes a ser feitos cortes nas taxas de juro.

Por sua vez, o Governo não está em posição de estimular muito o crescimento. Não se trata apenas do dinheiro; o ministro das Finanças está sobretudo refém das suas próprias promessas. Prometeu à Comissão Europeia que reduziria o défice público para 2,2 por cento do PIB em 2013, e se for o caso, os mercados financeiros terão o sinal necessário para começar a libertar-se das obrigações polacas. Os custos do serviço da dívida aumentarão e o orçamento ficará num estado lamentável. Quer queira ou não, o Governo vê-se obrigado a apertar ainda mais o cinto, a terrível austeridade, muito familiar à Espanha, Portugal ou Grécia, e a disciplina fiscal irão inevitavelmente abrandar ainda mais a atividade económica.

É preciso investir em novos mercados

De que forma pretende a Polónia regressar a um crescimento rápido? Como será possível atingir um crescimento anual mínimo de quatro por cento, quando o desemprego não para de aumentar e não há equilíbrio orçamental?

Após 23 anos de uma economia baseada no mercado livre, a Polónia deixou de dispor de vantagens concorrenciais simples para estimular o seu crescimento. Os salários no país não param de aumentar e, mais cedo ou mais tarde, deixaremos de poder competir como um país de mão-de-obra barata. Alguns intelectuais dizem que a Polónia deveria desenvolver a sua própria atividade de exploração industrial, através da qual poderiam aumentar a sua produção e o seu crescimento económico. Sem copiar o modelo de outros países, a Polónia deveria identificar os setores em que os polacos têm sucesso e apoiá-los sistematicamente. Isto é, deveria pôr as mãos na massa em vez de continuar à espera de um milagre.

Ao mesmo tempo, é preciso investir em novos mercados, não necessariamente no Extremo Oriente, mas além da fronteira oriental. “A Rússia acabou de aderir à OMC, a Ucrânia e a Bielorrússia são excelentes mercados onde os produtos polacos têm boa reputação. O comércio transfronteiriço em expansão é a prova disso”, disse Kuczyński.

Acontece que a política da Polónia relativamente a estes três países que poderiam constituir os seus maiores mercados é baseada em valores e não tem sido muito eficiente. Para a Europa ocidental, a Polónia continua a ser um subcontratante ou um destino de subcontratação, mas para a Europa oriental é a economia moderna mais próxima, e culturalmente mais próxima do que a alemã ou a holandesa. Sem uma expansão no Leste, a Polónia não será capaz de compensar o declínio das exportações na zona euro.

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