Fragmentos da "Constituição Europeia em Verso"

Uma constituição que rima

É difícil explicar aos europeus o projecto de constituição? Não seja por isso. Um colectivo de artistas reescreveu o texto em verso com algumas adaptações criativas. Criativo e ... surrealista.

Publicado em 16 Junho 2009 às 15:15
Fragmentos da "Constituição Europeia em Verso"

" Se Shakespeare pudesse dar-se ao luxo/ de se assoar no lenço de Desdémona,/ também eu gostaria de tourear o touro que raptou a Europa,/para aterrar sobre ele, metendo-lhe a minha Bic de tinta invisível entre os cornos": assim começa o artigo 44 da "Constituição europeia em verso". A obra foi publicada em três línguas e já foi apresentada em Barcelona, Bruxelas e Praga. O poeta Mircea Dinescu, pela Roménia, apoia, com ironia e humor, o direito à livre circulação na União Europeia, e incentiva a liberdade para além das diferenças religiosas ou culturais entre cidadãos da Europa.

O artigo 44 trata do direito ao "casamento branco", e faz parte do parágrafo relativo aos "direitos fundamentais" do cidadão europeu. Pode-se ler mais adiante: "Para poder casar-me com uma rapariga por interesse,/ obter sem problemas naturalização francesa, belga ou alemã,/ como o vadio que encontrei há vinte anos no comboio de Novossibirsk/que sonhava fugir para o Leste Selvagem até Israel,/ casando com uma velha judia/ porque não considerava a mulher um luxo, mas um meio de transporte,/sem complexos cristãos,/considerando afinal que/ mesmo Jesus é o fruto de uma relação a três.”

Enquanto a ratificação da Constituição Europeia se arrasta devido à recusa de certos países membros da União, parece que os poetas desempenham um papel de vanguarda e encontraram "a solução" para a unificação da Europa. O projecto de "Constituição europeia em verso" foi lançado em 2008 por um grupo de artistas belgas, intitulado "Colectivo de poetas bruxelenses". Enviaram uma primeira versão da Constituição poética a autores de todos os cantos da Europa - 50 originários da Europa, do irlandês Nobel da Literatura Seamus Heaney até Eva Cox, autora de origem austríaca instalada na Austrália.

O resultado é um texto de quase 100 páginas, que reflecte o pensamento europeu, mas também, simbolicamente, os problemas com que se confronta a União Europeia. Cada autor deu a sua contribuição na sua própria língua; seguidamente, os iniciadores do projecto, coordenado por David Van Reybrouck e Peter Vermeersch, "remisturaram" os textos.

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Quanto ao eventual impacto social da "Constituição europeia em verso" - no contexto dos debates sobre a “unificação" da Europa pela poesia -, Mircea Dinescu é bastante céptico: “Escolhi este texto porque trata do antigo tema do bárbaro do Leste, do Homo Esticus. Vivemos todos no Leste Selvagem. É uma amarga constatação. Há muito que os poetas não são já as vozes da cidade. Antes, a poesia era uma arma, pelo menos no mundo comunista. O medo das palavras, das alusões, produzia efeito. Agora, no capitalismo, o poeta não passa de um bobo, não tenhamos ilusões."

O texto está dividido em oito capítulos, estruturados em parágrafos, com títulos genéricos baseados nos da Constituição, como "Princípios", "Direitos Fundamentais", "Constituição" ou "Hino Europeu". Traduzida até agora em francês, inglês e neerlandês, será depois vertida para várias línguas.

Excertos da "Constituição europeia em verso" podem ser lidos no site respectivo.

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