O pavilhão conjunto da Bélgica-UE na Exposição Internacional de Xangai 2010.

Uma guerra comercial assimétrica

Face à ofensiva comercial e monetária chinesa, a Europa dispõe de poucas armas, nomeadamente políticas. Há demasiado tempo benevolente para com Pequim, talvez comece a mudar de atitude, estimam vários especialistas europeus.

Publicado em 6 Outubro 2010
O pavilhão conjunto da Bélgica-UE na Exposição Internacional de Xangai 2010.

A China invade a Europa. Nomeadamente a Bélgica. A fábrica da Volvo em Gent (Bélgica), o mais importante centro de montagem de automóveis, é chinesa, desde que a Geely Automobile Holding tomou o controlo da empresa. Esta terça-feira, o novo "chefe", Li Shufu, patrão da Geely, faz a sua primeira visita à fábrica belga. A Huawei, um dos principais fabricantes de equipamentos para redes telefónicas móveis, celebrou contratos de fornecimento com a Proximus, Mobistar e Base.

E a Flandres conta com um comprador chinês para salvar a fábrica da Opel em Antuérpia. Este fim de semana, a Grécia, por seu turno, apertou com alívio a mão estendida de Pequim, que lhe prometeu uma ajuda financeira para a sua enorme dívida pública. Mas o apoio chinês – trazido pelo primeiro-ministro Wen Jiabao em pessoa – não é desinteressado: a China quer fazer da Grécia a principal porta de entrada dos seus produtos no grande mercado europeu.

Uma concorrência desleal

Esta ofensiva chinesa é vista com uma certa inquietação. Porque Pequim negoceia duramente para fazer valer os seus interesses. Segunda-feira, no fórum Ásia-União Europeia, em Bruxelas, Wen Jiabao recusou discutir o valor do iene chinês que os europeus e os americanos consideram subvalorizado – mantido por Pequim a um nível muito baixo para favorecer as exportações chinesas.

O défice comercial da China subiu sensivelmente nestes últimos dez anos: importamos mais produtos chineses do que exportamos produtos europeus para a China. Wen Jiabao chegou mesmo a atacar, denunciando o… protecionismo europeu. Ainda que a União Europeia aplique impostos alfandegários sobre a importação de alguns produtos chineses, como é o caso do calçado em pele, ou das bicicletas, o mercado europeu é um dos mais abertos do mundo.

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Será preciso ter medo da China? A mão-de-obra explorada, a moeda subvalorizada, o dumping social e fiscal destas empresas ameaçam a nossa prosperidade? A China faz concorrência desleal? Uma empresa de Lovaina, que produz (na China e na Irlanda) modems USB, está convencida que sim: "Os nossos concorrentes chineses vendem os produtos a preços anormalmente baixos e são subsidiados pelo Estado", afirma Jan Poté, porta-voz da empresa que apresentou a denúncia à Comissão Europeia. "Não digo que todas as empresas chinesas façam uma concorrência desleal, mas afirmo que algumas o fazem."

A experiência desta empresa só serve para aumentar as suspeitas. "Há muito que a Europa privilegia o diálogo com a China. Mas com muito poucos resultados. Recentemente, a situação acalmou. E a Europa está prestes a perceber que talvez tenha sido muito ingénua", explica Antoine Sautenet, investigador associado do IFRI (Instituto Francês das Relações Internacionais, em Paris).

A Europa tem muito para exigir e pouco para oferecer

Os conflitos são inúmeros: seja em termos de abertura de mercado, de investimentos diretos, ou do acesso aos mercados públicos, a reciprocidade não faz a regra. Bem pelo contrário. "As empresas chinesas não têm qualquer problema em concorrer aos mercados públicos europeus. O ano passado, ganharam o contrato de renovação e construção de autoestradas na Polónia. Em contrapartida, a China não abriu os seus mercados públicos."

Sabemos que a China impõe condições drásticas, quase abusivas, às empresas europeias que desejam investir na China, sobretudo em matéria de transferência de tecnologias, de que a China tanto precisa. "A Europa tem muito para exigir, mas pouco para oferecer. A China não precisa de acordos comerciais para ter acesso ao mercado europeu. O que Pequim exige é que a Europa lhe conceda o estatuto de economia de mercado. Mas a Europa está dividida. Enquanto a China não tiver esse estatuto, a UE pode mais facilmente impor medidas antidumping aos produtos chineses, o que faz raramente, se compararmos com os EUA. Em 2016, a China obtém este estatuto automaticamente. Quanto maior é a espera, mais o valor acrescido de um acordo diminui do ponto de vista de Pequim."

A UE, explica Pierre Defraigne, diretor executivo da Fundação Madariaga-Colégio da Europa, não fala a uma só voz quando os grandes países disputam o mercado chinês, nomeadamente os mercados públicos. "A China vai ter de modificar a sua estratégia de crescimento: o seu desenvolvimento, suportado pelas exportações, terá de assentar cada vez mais na procura interna e, em particular, no consumo das famílias e nos investimentos ambientais. Haverá assim uma pressão menor da China sobre os nossos mercados e oportunidades para as nossas empresas exportadoras.

Na condição de que a Europa invista no desenvolvimento tecnológico, nomeadamente em tecnologias que aumentem a eficiência energética, de que a China drasticamente carece. Mas a Europa não possui um grande plano tecnológico. A Estratégia de Lisboa foi uma moda. E a Estratégia 2020 não vai ser melhor. Não devíamos ter tanto medo da China, mas sobretudo da nossa incapacidade de organização."

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Cimeira do ASEM

Vista da Ásia, a UE nem sempre é um bloco

A declaração publicada no final da cimeira [Ásia-Europa, ASEM] fala do reforço da cooperação entre as duas partes para relançar a economia, mas esconde mal as diferenças que subsistem”, escreve Le Soir: “sobre as políticas monetárias, sobre a luta contra o aquecimento global, sobre os direitos do Homem, etc.”. “Os europeus tiveram que insistir para que a cimeira fosse presidida por Herman Van Rompuy", acrescenta o diário de Bruxelas, porque “os asiáticos se mostraram resistentes à ideia. Para eles, não se trata de encontros entre a Ásia e a União Europeia, mas sim entre a Ásia e a Europa, destinados a favorecerem os contactos nacionais bilaterais e não os contactos entre os dois blocos”. Ficaram convencidos com Van Rompuy?, interroga-se Le Soir. “Na cimeira, viram-no sempre ladeado [pelo presidente da Comissão] Durão Barroso e por Yves Leterme, primeiro-ministro do país anfitrião, que exerce atualmente a presidência rotativa da UE. Três presidentes para o mesmo pelo mesmo preço: é de rico, mas talvez não seja muito esclarecedor”.

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