De acordo com o British Journal of Medecine, o Pai Natal é um fraco exemplo para as crianças. DR

Vade retro Pai Natal

Ídolo das crianças e estrela super mediática dos fins de ano dos países ocidentais, o Pai Natal – mais conhecido por Santa Claus no Norte da Europa – reúne, também, um grande número de críticas. O velhinho de barba branca tem, afinal, más influências sobre as crianças: ícone pagão, embaixador do capitalismo, epicurista descarado… a Imprensa europeia não o poupa.

Publicado em 24 Dezembro 2009 às 16:08
De acordo com o British Journal of Medecine, o Pai Natal é um fraco exemplo para as crianças. DR

O Pai Natal não presta, como recita uma célebre peça de teatro francesa? A opinião do Patriarcado romeno sobre o velhinho não anda muito longe disso, porque “certas personagens devem ter apenas o estatuto de símbolos”, escreve o Gandul, que cita esta alta instituição religiosa. Através de um comunicado publicado na véspera de Natal, a cúpula da Igreja Ortodoxa, tomam “a defesa do Pai Natal enquanto símbolo religioso”, sublinha o diário de Bucareste, “e recusa o velhinho tornado símbolo de consumismo, personificando um materialismo egoísta”. Mais à frente, nesta mensagem endereçada tanto às instituições do Estado como aos romenos ortodoxos praticantes, o Patriarca Daniel, Chefe da Igreja Romena, sublinha que “o verdadeiro significado do Natal reside no regresso aos verdadeiros valores cristãos”. Na República Checa, desde há vários anos, várias pessoas protestam, igualmente, contra o facto da festa cristã ser, neste país e cada vez mais, dominada pelo Pai Natal, relegando para segundo plano a figura tradicional do Menino Jesus escreve Lidové Noviny. “O Menino Jesus e as outras tradições checas de Natal fazem parte da nossa identidade”, proclama Eva Fruhwirtová, autora da petição anti-Pai Natal entregue ao Primeiro-Ministro, Jan Fischer.

O promotor universal do capitalismo

Ele vende tudo: automóveis, esferográficas, espingardas, creme de aveia, cigarros, pneus, sabonete, café, etc (…) O Pai Natal é o caixeiro-viajante do capitalismo mundial”, escreve Jean-Jacques Delfour numa coluna do Libération intitulada: “Por que odeio o Pai Natal”. “A tríade cristã, constituída pelo amor divino, o distribuidor universal (Cristo) e a multidão de pecadores, foi substituída por uma outra tríade: o capitalismo (colocado em posição divina), o promotor universal (o Pai Natal) e a multidão de consumidores. O presente de Natal é o amor convertido em mercadoria”, defende este professor de filosofia. Outras razões para detestar esta figura: oferece “um regresso à infância por procuração aos adultos”, inculca nas crianças que “a superabundância de bens é a felicidade em si mesma” e “educa no conformismo, na obediência calculista e na hipocrisia”. Propondo uma análise psicanalítica do célebre poema de Clement Moore (1820), o Libération escreve ainda: “O Pai Natal é um pénis que penetra a casa mãe, em que a chaminé é a vagina, a lareira o útero, e os presentes as crianças geradas. Daí o corpo rechonchudo e corado. E assim se explica a colagem à festa da natividade…”.

Não contente ainda em ser um obcecado e a encarnação do capitalismo selvagem, o Pai Natal é, também, um perigo ambulante para a saúde das crianças. Em “O Pai Natal, um pária para a saúde pública”, publicado pelo British Medical Journal, o investigador Nathan Grill fustiga a péssima influência do Pai Natal neste domínio, criticando-o por promover a comida de plástico. Foram vários os jornais europeus que reagiram a este artigo. Conviria, segundo Le Fígaro, “fazê-lo emagrecer, dotá-lo de uma cor clara em vez deste corado epicurista, (…) fazê-lo abandonar as renas e obrigá-lo a distribuir os brinquedos a pé, rapidamente, como forma de incitar ao exercício físico”. Desta forma, o Pai Natal seria, enfim, “medicamente correcto”. O El Mundo sublinha , por seu lado, “na verdade, o Pai Natal transmite uma mensagem em que a obesidade está directamente ligada à felicidade e à jovialidade”.

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Um "bon vivant" pouco recomendável

Segundo o doutor Nathan Grills, “a imagem do Pai Natal corpulento, que se move a brande e empadas, atravessando o mundo de trenó para distribuir os presentes, não é nada propícia a promover um modo de vida são e prudente junto dos mais novos.” No Daily Telegraph o cientista admite que o Pai Natal “possa, eventualmente, incitar à condução automóvel sob o efeito do álcool. Além do mais, o Pai Natal pode espalhar doenças perigosas (…) como, por exemplo, a gripe A”, adverte Grills. Vítima da sua época, o Pai Natal “foi uma personagem indiscutível até agora, mas não tem futuro. E pode acontecer-lhe ainda pior quando for acusado de maltratar as renas”, conclui La Vanguardia. Mas, segundo melhor opinião, é preciso lembrar que o Pai Natal está morto e bem morto. “O santo que inspirou a lenda de Santa Claus está enterrado numa abadia de Kilkenny, segundo os historiadores locais”, recorda o diário The Independent. "Durante a sua vida São Nicolau deixava presentes anónimos aos pobres e, graças à sua famosa generosidade, foi santificado após a morte, em 346, o que inspirou a lenda do homem bom, alegre e vestido de vermelho".

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