"A EUFOR e e nós " Cartaz rasgado em Višegrad, República sérvia da Bósnia(imagem Wodnerduck)

Washington domina situação na Bósnia

Europeus e americanos tentam que os dirigentes bósnios cheguem a acordo sobre a reforma das instituições no seu país. A União Europeia (UE), contudo, revela-se incapaz de controlar as negociações cruciais para o futuro do país, constata o diário croata Novi List.
Europeus e americanos tentam que os dirigentes bósnios cheguem a acordo sobre a reforma das instituições no seu país. A União Europeia (UE), contudo, revela-se incapaz de controlar as negociações cruciais para o futuro do país, constata o diário croata Novi List.

Publicado em 13 Outubro 2009 às 17:42
"A EUFOR e e nós " Cartaz rasgado em Višegrad, República sérvia da Bósnia(imagem Wodnerduck)
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Tudo indica que a cimeira, que decorreu na base militar da Nato, em Butmir [ver ‘caixa’], terá sido a melhor prova de que os americanos, depois de terem desbloqueado as negociações sobre a adesão da Croácia à UE, decidiram manter o processo de estabilização da região e acelerar uma aproximação à Nato e à UE. A Croácia avança a passos rápidos para a UE e a Sérvia poderia em breve enveredar pelo mesmo caminho. Quanto à Bósnia-Herzegovina, somos obrigados a admitir um atraso de 14 anos. Obviamente que os Acordos de Dayton puseram fim à guerra na Bósnia-Herzegovina, mas o país perdeu a oportunidade de se preparar para a paz. Washington percebeu que se tratava provavelmente da última oportunidade para impedir a desintegração do país. Os Estados Unidos e a União Europeia conjugaram esforços. Em prol da unidade, Washington renunciou à nomeação de Clifford Bond, antigo embaixador do seu país em Sarajevo, para o cargo de Enviado Especial para a aplicação das alterações constitucionais, alterações estas necessárias para a apresentação de uma candidatura credível da Bósnia à UE, visto que Bruxelas se tinha oposto a esta nomeação. Porém, não é fácil disfarçar a divergência de opiniões. Carl Bildt, chefe da diplomacia sueca e o primeiro Alto Representante da comunidade internacional na Bósnia, entre 1995 e 1997, considera que o Gabinete do Alto Representante(GAR) está ultrapassado na medida em que os EUA não sabem de que modo é que os políticos locais conseguirão entender-se sem a protecção de um governo estrangeiro.

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"Soft power" de Obama faz a diferença

Ainda que a Bósnia-Herzegovina, à semelhança de toda a região dos Balcãs ocidentais, se encontre formalmente sob a tutela da UE, são os EUA, uma vez mais, que controlam a situação. É quase impossível pensar em verdadeiras reformas na Bósnia-Herzegovina sem a presença norte-americana.

No quadro complexo dos Balcãs, um pequeno problema pode dar azo a eventuais situações que podem degenerar em conflitos graves. Basta recordar a insólita reivindicação territorial da Eslovénia em relação à Croácia, que praticamente ninguém à volta destes dois países conseguiu compreender, mas que bloqueou durante um ano o processo de alargamento da União Europeia.

É na Bósnia-Herzegovina que Washington tenta travar o processo de desintegração dos Balcãs, apesar de ter alguma dificuldade em convencer os seus aliados sérvios devido ao apoio que presta aos separatistas albaneses no Kosovo.

Embora esteja muito interessada na estabilidade dos seus vizinhos mais próximos, a União Europeia revela-se incapaz de solucionar o conflito nos Balcãs. A política do bastão e da cenoura pode dar azo a resultados inesperados. A liberalização do sistema de vistos é o exemplo perfeito disso mesmo. Eliminar a necessidade de vistos para os cidadãos sérvios e mantê-la para os da Bósnia-Herzegovina arrisca-se a criar uma situação paradoxal. Tendo um passaporte sérvio, o "carrasco" de Srebrenica, Ratko Mladic, pode circular na UE sem visto, ao passo que as suas vítimas são privadas dessa liberdade, contrariamente aos servo-bósnios, que têm direito à dupla nacionalidade.

Esta é a razão do regresso dos americanos à região dos Balcãs. Porém, já não é a América de Bush a utilizar a linguagem da força e das armas. Neste momento, testemunhamos o "soft power" de Barack Obama, que reforça os princípios europeus: negociação, cooperação, compromisso, consenso. Contudo, os políticos dos Balcãs não compreendem esta linguagem, facto que explica o relativo fracasso da tentativa de reconstrução da Bósnia, em Butmir. Restam ainda duas possibilidades: ou os políticos locais mudam de discurso, ou irão sentir a força do "soft power".

CONTEXTO

Tensão étnica ao rubro

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Reunidos a 9 de Outubro, na base das Forças de Manutenção de Paz de Butmir, perto de Sarajevo, sob a égide da União Europeia e dos EUA, os dirigentes das comunidades bósnia, sérvia e croata da Bósnia-Herzegovina aceitaram negociar uma revisão da Constituição do país até dia 20 de Outubro. Porém, "nunca as tensões étnicas tinham sido tão grandes desde o final da guerra", em 1995, constata o Financial Times.

"Os sérvios continuam a rejeitar as alterações à Constituição baseadas nos acordos de Dayton" que garantem a existência de uma república dos sérvios da Bósnia completamente autónoma em relação à outra entidade que integra a Bósnia-Herzegovina, a federação de muçulmanos e croatas. Os observadores acreditam que o fracasso destas negociações sobre a Constituição põe em causa a própria existência do país.

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