Os comissários 'passam' na prova que têm de prestar perante os eurodeputados, encarregues de os confirmar nos cargos. Foto: Getty
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A grande oral já começou

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O Parlamento inicia, esta segunda-feira, as audições dos 26 comissários europeus da equipa Barroso II. O exercício, pouco apreciado pelos candidatos, permite ao hemiciclo manifestar e reforçar a sua autoridade, observa a imprensa.

Publicado em 11 Janeiro 2010
Os comissários 'passam' na prova que têm de prestar perante os eurodeputados, encarregues de os confirmar nos cargos. Foto: Getty

"Para o Parlamento Europeu, são os momentos de glória em que se sonha um par do Congresso dos Estados Unidos", lê-se em Le Figaro. Durante oito dias, os 26 comissários designados pelos países-membros são individualmente ouvidos pelos deputados europeus. Durante três horas, devem responder a um questionário bastante cerrado e preciso. O exercício consiste em avaliar as competências dos candidatos, o seu empenhamento europeu e a pertinência da sua nomeação. No final do procedimento, a 26 de Janeiro, os eleitos deverão ser formalmente investidos Comissários, com um mandato que expira em 2014. O Parlamento pode recusar a Comissão em bloco, obrigando o seu presidente, José Manuel Durão Barroso, e os Estados a reexaminarem os nomes propostos. "Trata-se de um momento forte na vida do Parlamento Europeu (…). Os eurodeputados dispõem de uma verdadeira arma para exercer o controlo político e democrático. Seria um pouco como se os deputados belgas submetessem a exame os ministros, para verificar as suas competências antes de votarem a sua investidura”, comenta La Libre Belgique. "O encadeamento de vinte e seis 'interrogatórios' dará, tanto aos actores como aos eleitores, uma rara oportunidade para um verdadeiro teatro político”, sublinha ainda o Le Figaro, recordando que este tipo "de aferição pública e individual continua a ser bastante invulgar deste lado do Atlântico". É uma ocasião para os 736 deputados "manifestarem a sua autoridade perante as 27 capitais que escolheram os comissários; e perante o presidente da Comissão, que distribuiu as pastas".

Estas audições não são uma mera formalidade. "Por trás da nuvem de fumo diplomático, esconde-se um caldeirão fervilhante de emoções", escreve o diário polaco Polska. Para algum dos candidatos, "o exercício poderá, na verdade, ser especialmente penoso", observa o diário romeno Evenimentul Zilei. Nomeadamente para o romeno Dacian Ciolos, proposto para a pasta da Agricultura, e para a búlgara Roumiana Jeleva, designada para a Cooperação e Ajuda Humanitária. Ciolos terá de "tentear os interesses dos conservadores, que apoiam os incentivos directos aos agricultores, e os liberais, que desejam a reforma da Política Agrícola Comum". Roumiana Jeleva, porque correm rumores de que o seu marido mantém relações com o crime organizado búlgaro. Outro candidato na berlinda, segundo o Polska, é o eslovaco Maros Sefkovic, designado para as relações inter-institucionais e administração, que corre o risco de ter de prestar contas pelo seu passado: diplomado numa prestigiosa escola moscovita onde o KGB recrutava agentes, tem sido criticado pelas fileiras do PPE (Partido Popular Europeu), que anunciou formalmente que "uma personalidade que manteve relações com um regime autoritário no passado não pode tornar-se Comissário Europeu", recorda o diário polaco. "Nomeado para o Mercado Interno e Serviços Financeiros, a audição de Michel Barnier será seguida de bem perto pela imprensa britânica, para ver se o francês se mostra determinado a impor medidas restritivas à City”, o centro financeiro de Londres, observa, na mesma linha, o Euobserver.com.

A primeira a iniciar as audições é a vice-presidente da Comissão e Alta Representante para a Política Externa, Catherine Ashton. Prevê-se que atraia a si "os fogos cruzados dos eurocépticos britânicos, que a acusam de ser Trabalhista, e dos entusiastas continentais, que não digerem bem que o rosto da diplomacia europeia possa ser britânico", sublinha o Le Figaro. “No entanto, se alguma das 26 audições colocar problemas, não é provável que o presidente da Comissão se obstine em impô-la. "Durão Barroso guarda uma lembrança penosa da sua casmurrice em 2004: os eurodeputados ameaçaram boicotar toda a equipa, recusando o italiano Rocco Buttiglione, considerado inapto para a pasta da Justiça devido à sua visão retrógrada sobre a homossexualidade", recorda o Le Figaro. O italiano acabou por ter de retirar a sua candidatura.

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