Vladimir Putin e o primeiro-ministro eslovaco Robert Fico.

Todos os amigos de Putin

Um quarto de século após se terem libertado do jugo soviético, os dirigentes da Europa central aproximaram-se de Moscovo, por interesse ou por desconfiança dos Estados Unidos e… da UE.

Publicado em 16 Outubro 2014
Vladimir Putin e o primeiro-ministro eslovaco Robert Fico.

A República Checa não foi o único país a ficar surpreendido. O presidente Miloš Zeman interveio, enquanto convidado principal, na conferência “Diálogo entre civilizações”(http://dofc-foundation.org/en//news/post/62) e, durante a mesma, comparou a guerra na Ucrânia à gripe e apelou ao levantamento imediato das sanções contra a Rússia. Mas o espanto provocado pela última intervenção de Zeman não se justificava. O presidente está rodeado de empresários que têm ligações russas. Desde que a guerra na Ucrânia começou, Zeman declarou que o Governo de Kiev é o único responsável, opondo-se às sanções em várias ocasiões.

Na época soviética, foi construído um gasoduto na Eslováquia para transportar o gás da Sibéria para a Europa Ocidental. Hoje em dia, podíamos utilizá-lo para transferir 30 mil milhões de metros cúbicos de gás por ano da Europa para a Ucrânia, ou seja, mais do que a Rússia pretende enviar para a Ucrânia em 2014. Mas embora, há alguns meses, o Governo ucraniano tenha pedido aos eslovacos para utilizar este gasoduto, não obteve qualquer resposta.

Foi só depois de algum tempo que Bratislava explicou que existiam problemas técnicos e jurídicos duvidosos que tornavam esta tarefa difícil. Após uma intervenção energética da UE e da Casa Branca, a Eslováquia aceitou finalmente colocar à disposição um gasoduto minúsculo para estes fins, que só permitirá transportar 1% do gás que a Ucrânia deseja comprar à Europa. Os eslovacos estavam a tentar arranjar uma solução diplomática que não comprometesse as suas relações com a Gazprom e Putin.

O primeiro-ministro eslovaco Robert Fico – bem como Zeman – opõe-se às sanções europeias. Enquanto a Polónia, os Estados Bálticos e a Roménia têm medo da Rússia, Fico não vê como muito bons olhos a presença acrescida da NATO na nossa região da Europa. Em meados de setembro, após a cimeira da NATO em Newport(4817096), este deixou claro que nunca iria aceitar que as fundações da aliança fossem erigidas na Eslováquia, mesmo que isso significasse o fim da sua carreira política.

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Políticos como Fico, Zeman ou Orbán [o atual primeiro-ministro húngaro] ficaram muito impressionados com o sucesso de Putin. Veem, por um lado, uma UE incapaz de tomar decisões eficazes e, por outro, o Kremlin que toma decisões difíceis sem qualquer reflexão. Mas ainda há mais. Putin é um especialista em matéria de recrutamento, destaca-se nas relações pessoais, sabe construir alianças duradouras, enquanto os políticos dos grandes países europeus, sejamos francos, não levam o primeiro-ministro eslovaco a sério. As palavras amáveis que Putin dirigiu a Fico alimentaram o seu ego – é assim que o politólogo [búlgaro] Ivan Krastev(4830914) explica o poder de sedução do presidente russo.

Há dez anos, quando a União Europeia se estava a alargar para o este, vários políticos da Europa Ocidental temiam que os países que se encontravam outrora sob o domínio soviético fossem exigir uma política radicalmente anti-russa. Mas a situação é totalmente diferente nos dias de hoje. A Eslováquia escolheu uma via praticamente pró-putiniana. O mesmo se pode dizer da República Checa. Na Hungria, Orbán apresenta explicitamente Putin como um exemplo. Em todo o grupo de Visegrad, apenas a Polónia se mostra favorável a uma política intransigente contra Moscovo.

Nos Balcãs, a situação ainda está pior. [[Uma grande parte da população identifica-se com os russos.]] Não por motivos históricos. Os búlgaros consideram que são os grandes perdedores da mudança de constelação da Europa, que a posição do seu país se degradou ao longo dos últimos 25 anos, à semelhança da Rússia. Além disso, não partilham qualquer ligação com os ucranianos, afirma Krastev.

A Eslovénia e a Croácia não têm nada contra Putin e as sanções contra Moscovo não lhes agrada. A Sérvia, que aspira à adesão da UE no futuro, identifica-se completamente com a Rússia. Só os romenos é que não se sentem atraídos por Moscovo. São a exceção dos Balcãs – tal como a Polónia no Grupo de Visegrad. Esta situação não deverá muito provavelmente mudar num futuro próximo, por vários motivos. Em primeiro lugar, Bruxelas nem sequer tenta convencer Praga ou Bratislava a mudar de linha política. Merkel já tem demasiados problemas com os seus compatriotas, cuja maioria se opõe às sanções numa tentativa de mudar a opinião de outros países. Em segundo lugar, a Europa central já chegou a ser muito pró-americana, quando agora já ninguém confia nos americanos. Em suma, as tendências pró-putinianas são em grande parte um efeito secundário da crise na União Europeia e do facto de os Estados Unidos se terem afastado da Europa.

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