Referendos - um jogo de roleta russa

A obsessão da liderança da UE pela federação política e económica é a fonte da atual crise que agita a zona euro, escreve o colunista Marek Magierowski.

Publicado em 4 Novembro 2011

As coisas na Grécia e por todo o lado estão longe de ter piada, mas tudo indica que há políticos que nunca perdem o sentido de humor.

“Espero que os gregos percebam que uma participação no referendo os torna responsáveis pelo seu país e pelo resto da Europa”, afirmou o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros alemão e presidente do SPD, Frank-Walter Steinmeier.

O referendo acabou por ser cancelado, o que não altera o facto de a análise de Steinmeier ser extremamente engraçada. O “futuro da Europa” é a última coisa com que os gregos estão hoje preocupados. Alguém consegue imaginar um desempregado de 25 anos a votar a favor de reformas radicais exigidas em nome do “futuro da Europa”? Ou um funcionário público a concordar com um corte de um quinto do seu salário porque “Berlim espera isso”?

Uma construção que pouco tem a ver com democracia

Teria acontecido o mesmo se tivesse havido um referendo ao euro na Alemanha – uma coisa que muitos políticos alemães já começam a exigir. O Bild iria certamente dizer aos seus leitores para votar na continuação dos subsídios aos “ladrões preguiçosos de Atenas” ou na expulsão dos gregos da zona euro.

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Ameaçarem-se uns aos outros com referendos não resolve nada. Infelizmente, neste caso, os culpados são aqueles líderes europeus que seduziram o público europeu com a ideia de uma Europa cada vez mais democrática, onde os cidadãos teriam cada vez mais coisas para dizer.

Em vez disso, criaram uma estrutura que nada tem que ver com democracia. Por um lado, forçaram a aprovação de várias leis alheados da vox populi e, por outro, obcecados com a ideia de uma federação política e económica, comprometeram o futuro de todo o continente com decisões de líderes não muito ajuizados em países não muito grandes.

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