Atenas, 29 junho, em frente ao Parlamento. Manifestantes hostis aos planos de austeridade do Governo com faixa onde se pode ler "Não".

Um voto sobre as brasas

Entre 29 e 30 de junho, os deputados gregos deverão votar no plano de austeridade exigido pela UE e pelo FMI no sentido de evitar a falência do país. Uma decisão sem precedentes na história da democracia grega que alimenta as tensões do país.

Publicado em 29 Junho 2011
Atenas, 29 junho, em frente ao Parlamento. Manifestantes hostis aos planos de austeridade do Governo com faixa onde se pode ler "Não".

A pequena Grécia – cujo produto interno bruto representa uma pequeníssima parte do PIB europeu – pode provocar um “alerta” na Europa e ameaçar o interesse mundial? Sim, a crermos nas declarações dos líderes europeus e na chuva de artigos e análises dos jornalistas estrangeiros que estão a seguir a questão das duas votações dos deputados gregos, hoje e amanhã [a primeira votação, a 29 de junho, diz respeito a uma lei quadro que fixa à Grécia um objetivo de poupança de 28,4 mil milhões de euros entre 2012 e 2015 e a realização de 50 mil milhões de euros em privatizações. A 30 de junho, uma segunda votação deverá aprovar a lei de execução destes objetivos].

Até amanhã à noite, vivemos e continuaremos a viver tempos de incerteza. Para a Grécia e para a zona euro. Apesar do cenário de os deputados poderem rejeitar o plano de austeridade parecer remoto, não está no entanto excluído.

É a primeira vez que uma coisa destas acontece, desde o regresso da democracia ao país [em julho de 1974]. Porque chegámos ao limite. E isto reflete-se na pressão que pesa sobre os deputados que, agora, são chamados a pronunciar-se sobre o plano de austeridade.

O Governo vê-se confrontado com uma crise imprevisível. Porque, mesmo que o plano de austeridade seja aprovado (e isso será graças aos votos dos deputados da oposição, dadas as reticências dos deputados da maioria socialista), o equilíbrio do governo estará posto em causa.

Newsletter em português

Os deputados do PASOK [o partido socialista no poder, que dispõe de uma maioria de 155 dos 300 deputados] bem o sabem. Por um lado, estão pressionados pelos seus eleitores que não querem as medidas drásticas de austeridade previstas no novo plano e, por outro, têm o dever de apoiar o governo. E nada disto é desconhecido no governo, de onde partiu o trabalho de persuasão do novo ministro das Finanças, Evangelos Venizelos [para convencer a maioria parlamentar com a promessa de diálogo social].

Mas o problema grego também preocupa os centros de poder europeu. Todos eles concentram a atenção na praça Syntagma [onde se realizam as principais manifestações contra o plano de austeridade]. As declarações de Van Rompuy ou de Barroso, de Olli Rehn ou Wolfgang Schäuble, dizem que o nosso país “não tem outra alternativa” e que “não há um plano B”, podem ter o seu quê de chantagem. Mas também aumentam a incerteza.

Por um lado, as declarações categóricas dos responsáveis institucionais de que “não há um plano B” para a Grécia. Por outro, nascem iniciativas como a franco-alemã, sem que lhes conheçamos os pormenores e sem que possamos determinar qual será a reação dos mercados, que todos tememos.

Neste clima de incerteza e de contenção, os deputados são chamados, simplesmente, a dizerem sim ou não…

* Atualizaçao: O Parlamento aprova o plano de austeridade com 155 votos contra e 138 votos a favor.

Comentário

Bruxelas não brinca

“A União Europeia não brinca e colocou sobre a mesa um grande dilema. Ou a adoção de um novo plano de austeridade ou a falência. Um enorme perigo”, escreve o To Ethnos. O momento é importante e o voto crucial, escreve o diário.

“Mas as tensões na rua continuam e intensificam-se e os gregos estão decididos a insurgirem-se contra a injustiça das medidas impostas por este segundo plano de rigor”, acrescenta o To Ethnos.

É uma organização jornalística, uma empresa, uma associação ou uma fundação? Consulte os nossos serviços editoriais e de tradução por medida.

Apoie o jornalismo europeu independente.

A democracia europeia precisa de meios de comunicação social independentes. O Voxeurop precisa de si. Junte-se à nossa comunidade!

Sobre o mesmo tópico