A austeridade com um sabor germano-britânico

A imprensa europeia diz, unanimemente, que o orçamento adotado pelos Vinte e Sete, a 8 de fevereiro, marca a contração das ambições da Europa e uma mudança radical das relações de força no seio da UE.

Publicado em 11 Fevereiro 2013 às 16:02

Segundo o Dziennik Gazeta Prawna, o resultado da última cimeira da UE prova que houve “uma evolução significativa do equilíbrio do poder” com a França, outrora um dos países mais influentes da União, “numa posição defensiva”. O diário realça que isto é uma nova tendência:

A União dirige-se para uma zona de comércio livre idealizada pelos britânicos e apoiada pelos alemães, em vez de uma “estrutura federal movida pela solidariedade” pretendida por Paris. [...] Surpreendentemente, foi criada uma aliança um tanto quanto exótica, constituída pela França, Itália, Espanha e Polónia, em defesa das transferências financeiras, [resultando num] conflito entre os ricos do Norte da União e os pobres do Sul e de Leste. […] No entanto, não há dúvida de que ao impor cortes a Alemanha revelou a sua força económica. A política de Berlim tornar-se-á ainda mais rigorosa, enquanto as abundantes transferências de Bruxelas poderão não passar de uma boa lembrança, caso o clube franco-espanhol-italiano-polaco não consiga provar a sua competitividade.

Na Alemanha, Die Welt considera que este “compromisso continua muito parecido como o da velha Europa” e critica os que pensam que existe “um direito do homem europeu que garante fluxos de dinheiro provenientes de outros países”. Além disso, este aconselha o Governo alemão a reduzir a sua parceria histórica com a França:

Com esta rara determinação, a Alemanha estabeleceu-se como um peso pesado dos equilíbrios de poderes na Europa, que soube seduzir a maioria e manter-se aberto a todos. De facto, os interesses alemães coincidem mais com os de Londres do que com os de Paris.

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Em contrapartida, El País escreve que “A Europa insiste em tratar uma pneumonia como se fosse uma simples constipação [...] e obtém um acordo raquítico”, que “promove a austeridade – e portanto os cortes – para a próxima década”:

Os cinco primeiros anos da crise já passaram, os orçamentos europeus são uma espécie de bússola do projeto europeu. A UE parece distraída; caminha entre o antigo e novo regime sem que o precedente tenha desaparecido totalmente e o atual esteja verdadeiramente implementado. No meio deste marasmo, Berlim (com o apoio de Londres) aumenta o seu poder e constatamos uma retirada para o nacional ou intergovernamental.

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