"Economia", "Jogos políticos para formar governo"

A comédia do poder

Os gregos – e também toda a UE – aguardam que os dirigentes dos três principais partidos cheguem a acordo para formar governo e evitar eleições, que poderiam agravar a crise. Mas, para já, esses partidos parecem mais preocupados em garantir o seu futuro político.

Publicado em 14 Maio 2012 às 15:16
"Economia", "Jogos políticos para formar governo"

Quem tenha tido oportunidade de acompanhar, com um certo distanciamento, o encontro de domingo, dia 13, entre os dirigentes do PASOK (Partido Socialista), da Nova Democracia (ND, direita) e da Coligação da Esquerda Radical Syriza, e conheça as verdadeiras motivações de cada um desses dirigentes, deve ter morrido de riso.

A história teve claramente o caráter divertido de uma peça de teatro, com um humor grosseiro, apesar do facto de o encontro dever ser crucial e trágico: tratava-se de negociações entre os três dirigentes e o Presidente da República [Karolos Papoulias], para ver se era possível formar um governo de coligação entre partidos ou se o país deveria optar pela organização de novas eleições legislativas, em junho. O objetivo de alguns políticos é transparente. Resulta do interesse pessoal de cada um. Acontece que as eleições poderiam fazer esquecer ou apagar os resultados eleitorais de alguns partidos. Vejamos o que cada um quer:

O chefe da Nova Democracia, Antonis Samaras, quer evitar eleições, aconteça o que acontecer. A sua obsessão assenta numa avaliação errada, se considerarmos os resultados da ND nas eleições de 5 de maio [18,85%], que bloquearam o seu futuro político, em vez de lhe darem uma maioria, como Samaras desejava. A ND obteve a votação mais baixa da sua história.

Depois destes resultados, Samaras deveria ter sido expulso do cargo de dirigente, se não houvesse a possibilidade de o incluir num governo de coligação e se não houvesse a hipótese de novas eleições dentro de um mês. Tanto mais que, apesar da sua votação ridícula, a ND foi o primeiro classificado, contando com um número de deputados duas vezes superior ao que deveria ter (108 deputados num total de 300, graças ao bónus de 50 deputados que a lei atribui ao partido mais votado).

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Contudo, se houver novas eleições, o Syriza será sem dúvida o primeiro partido e beneficiará desse bónus. O que significa que a ND perderá entre 50 e 60 assentos. Se isso acontecer, Antonis Samaras deverá abandonar o partido discretamente, se quiser evitar ser devorado pelos pretendentes ao seu cargo.

Samaras fará tudo para evitar ser posto na rua

Evangelos Venizelos encontra-se na mesma situação. Depois dos 13,18% [e 41 deputados] obtidos em 6 de maio, o PASOK está desagregado, a braços com divisões e em vias de desaparecer da cena política. Portanto, o seu presidente aposta na integração. Se não participar no próximo governo, Venizelos terá o mesmo destino que Samaras. Por conseguinte, vai fazer tudo para formar um governo e evitar ser posto na rua.

Numa situação oposta encontram-se Alexis Tsipras e o Syriza [que obteve 16,78% dos votos e 52 deputados em 6 de maio]. Com a vaga de apoio de que beneficia, por ele dar voz à corrente que se opõe ao memorando [o documento assinado pelo Governo grego com a troika UE-BCE-FMI sobre as medidas de poupança e as reformas a realizar em troca da ajuda financeira], este partido tem todo o interesse em pedir novas eleições, porque poderá conseguir conquistar 120 ou 130 assentos – um resultado histórico para a esquerda. Por conseguinte, Tsipras decidiu não apoiar os partidos tradicionais.

Para sermos razoáveis, temos que admitir que Alexis Tsipras não tem o mínimo interesse em participar num governo com a Nova Democracia e o PASOK, que contam com 149 deputados entre os dois [a maioria no parlamento é de 151 assentos], e que, se o fizesse, perderia a credibilidade junto dos gregos.

A única esperança reside portanto em Fotis Kouvelis, da Esquerda Democrática, que, no entanto, não conseguiu convencer Tsipras quanto à formação de um governo de unidade nacional. Se Kouvelis acabar por aceitar juntar-se ao PASOK e à ND, os três partidos teriam, em conjunto, 168 assentos parlamentares, mas só contariam com o apoio de 38% dos gregos...

Comentário

Alemanha dissolve Europa

“Os alemães tomam a Grécia e a Europa pela Jugoslávia”, indigna-se To Vima. O sítio de Internet do semanário escreve que “as eleições na Renânia do Norte-Vestefália foram uma terrível bofetada para Merkel: neste Land federal, transformaram-se em referendo nacional contra a política de austeridade”. Mas, no mesmo dia, “Der Spiegel fez ironia com o destino da Grécia” e pediu a sua saída do euro. “Berlim, começando pela Grécia, dissolve a Europa”, acusa To Vima. “Fazem ao nosso país o mesmo que fizeram à Jugoslávia no início dos anos de 1990, com bombas financeiras.”

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