A confederação dos estúpidos

Ao contentarem-se com a imposição de austeridade aos países endividados, a UE e seus dirigentes dão prova da sua cegueira e estupidez: põem os parceiros em dificuldades, sem daí tirarem qualquer vantagem, nota um jurista português.

Publicado em 31 Maio 2011 às 16:15

Há algum tempo, e a propósito das conclusões do Conselho Europeu da primavera, interroguei-me se a rainha iria nua, procurando acentuar aquilo que me parecia ser a divergência radical entre o prometido e anunciado, patente nos escassíssimos e conservadores resultados alcançados. Daí para cá, tenho assistido, atónito, ao espetáculo da multiplicação de declarações, por vezes contraditórias e, quase sempre, incendiárias dos mercados por parte de responsáveis da União Europeia.

Com a sua capacidade analítica impar e o brilho da sua inteligência e cultura, o meu amigo José Medeiros Ferreira, tem comparado a atual situação europeia ao período final do Império Austro-Húngaro, com o poder caído na mão de uma burocracia desligada da realidade. Creio que tem absoluta razão e que a burocracia da União Europeia, que tanto tem contribuído para afastar os cidadãos da ideia de Europa, se limita a cuidar dos seus interesses, sem cuidar de saber de qualquer projeto europeu.

Quando vejo as declarações de Jean-Claude Trichet (e só posso antever que Mario Draghi, obcecado por mostrar aos alemães que é mais teutónico do que eles próprios, se não afaste muito do que tem sido a posição oficial e oficiosa do BCE) orientarem-se no sentido de impor à Grécia medidas claramente insuportáveis, ao mesmo tempo que o Banco Central Europeu começa a subir as taxas de juro, apesar do anémico crescimento da zona euro e da crise dos países periféricos, só posso interrogar-me se a independência dos bancos centrais será uma solução tão boa quanto aquilo que fomos levados a acreditar.

Aquilo que me parece verdadeiramente enigmático é, no entanto, a razão que leva os principais dirigentes políticos europeus a insistirem numa receita que ficou já amplamente demonstrado que só pode conduzir a péssimos resultados para os pacientes a quem for ministrada e, em última análise, a eles próprios ou aos interesses que representam.

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