A melhor das experiências vazias

Para o bem e para o mal, os padrões de relacionamento mudaram. É hoje mais comum gozar um encontro passageiro do que dar o nó, e um romance de uma noite deixou de ser o tabu de outros tempos. Devemos lamentá-lo? Declinação linguística do famoso “one night stand” por essa Europa.

Publicado em 11 Setembro 2009 às 17:24

No seu surrealista filme "Nem Guerra, Nem Paz", estreado em 1975, Woody Allen explica-nos que o sexo sem amor é uma experiência vazia… "mas de todas as experiências vazias, é certamente a melhor", acrescenta. Conheço muitos que partilham esta opinião! E os interessados devem despachar-se para aproveitar: com o Verão vem o calor, o tempo livre, uma vida muito mais nocturna. É o momento, por excelência, das relações esporádicas.

"Rollitos de una noche", em espanhol, ("rebolado de uma noite") é um grande clássico e numerosas expressões europeias sublinham isso mesmo. Vejamos a Itália: numa praia perdida da Sicília, um jovem de pele tisnada, que gosta de se gabar das suas conquistas, conta a sua última noite a um grupo de amigos. Com um ar superior, explica que teve um "botta e via" ("toca e foge") com uma bonita espanhola ao luar. Mas caluda: "É uma ‘scappatella’ ("escapadela") de que Rosella não deve ouvir falar…"

Este engatatão dos mares do Sul terá remorsos quando se deita com a sua ingénua noiva? A esse regresso matinal, um bocado comprometido, chamam os ingleses "the walk of shame" ("o passeio da vergonha"), mesmo que essa relação "descartável" tenha lugar entre adultos, solteiros e seja consentida. Porque quando se escolhe parceiro sob a influência do álcool… a surpresa ao acordar raramente é agradável. Os polacos têm mesmo uma palavra para definir este desconchavo: "Moralniak" ("boca de papel de música moral"). Está lá tudo.

O famoso "one night stand" também tem os seus reveses na Alemanha, onde preferem utilizar a frase inglesa. Por pudor? Por falar em pudor, há que citar os franceses que falam de "coup d’un soir" ("coisa de uma noite") e de "plan cul" (plano Cu). São muito dados à poesia…

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Os espanhóis traçam uma espécie de acordo pré-nupcial antes de sucumbirem aos seus impulsos: "vamos allá y mañana si te he visto no me acuerdo" ("vamos a isto e amanhã se te vir nem me lembro"). Às vezes parece que vale a pena o esforço. Como diz Woody Allen em "Annie Hall" (1977): "Foi a sessão de sexo mais divertida que tive sem me rir."

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