Sobre a urna: "Economia mundial"; sobre a maçã : "neoliberalismo".

Acordar o crescimento, uma grande tarefa

No G8 de Camp David, os países mais ricos do mundo concordaram em relançar o crescimento, especialmente na Europa. Mas isso implica uma mudança radical de política em relação à austeridade praticada até agora. Os líderes estão preparados?

Publicado em 21 Maio 2012 às 14:38
Sobre a urna: "Economia mundial"; sobre a maçã : "neoliberalismo".

Em 1990, a Suécia sofreu uma crise financeira muito intensa, causada pelo rebentamento de uma bolha imobiliária (que foi resolvida, em parte, criando um "mau banco" para cada entidade com problemas). O Governo agiu de imediato no sentido de resgatar os bancos em dificuldades, cujas perdas equivaliam a 12% do PIB. À crise financeira seguiu-se uma recessão económica que reduziu o crescimento real (com ajustamento da inflação) em 4%. A economia sueca só regressou ao PIB anterior à crise quatro anos mais tarde.

Os ensinamentos que se podem retirar desta história indicam que não se pode ter bem-estar sem um sistema financeiro com um funcionamento normal (gerando crédito às famílias e às empresas), mas que o mero facto de se estabilizar o sistema financeiro não é garantia de prosperidade, sendo necessário, também, um plano de resgate da economia real, com o objetivo de aumentar a produção e criar emprego, e cujas metas sejam pelo menos tão enérgicas como as do resgate financeiro.

Estará o clima intelectual a mudar?

Isto foi esquecido na Europa, nos últimos anos, com os resultados que se conhecem: não se verificou qualquer regressão dos prémios de risco dos países com problemas, que também não reduziram como se esperava o défice público, a dívida pública de quase todos eles aumentou, o desemprego cresceu, as classes médias empobreceram e inúmeras empresas morreram. Agora, a reunião do G-8, realizada em Camp David, propõe evitar o naufrágio total e criar ajudas não só para os bancos mas igualmente para os cidadãos. Estará realmente a mudar o clima intelectual da nossa época, deslocando-se da austeridade para o crescimento? É isso que diz o comunicado final da reunião. Trata-se de sair do momento Minsky (assim designado devido ao economista com o mesmo nome), no qual os devedores não podem pagar, os credores não querem pagar e todos tentam cancelar a dívida ao mesmo tempo.

O comunicado do G-8 reconhece ainda, em termos gerais, os momentos distintos do ciclo em que se encontram as diferentes zonas geográficas do planeta: "Comprometemo-nos a tomar todas as medidas necessárias para fortalecer as nossas economias e a combater as tensões financeiras, reconhecendo que as medidas adequadas não são as mesmas para cada um de nós." Isto é válido para os Estados Unidos e para a Europa, mas também para o interior da União Europeia, onde, por exemplo, a conjuntura alemã não é a mesma que a espanhola.

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Sentido económico comum

A posição do G-8 deverá ser assumida, a partir de agora, tanto por cada uma das regiões (depois de amanhã [23 de maio] realizar-se-á na UE a chamada cimeira do crescimento), como pelo conjunto das mesmas, incluindo as emergentes, na reunião do G-20 que se celebrará em junho. Será a sétima reunião do G-20 desde que teve início a Grande Recessão. Nas três primeiras cimeiras (Washington, Londres, Pittsburg), defendeu-se o mesmo sentido económico comum: políticas de dinheiro barato, de incentivo fiscal e de ajudas à banca, para impedir que se dê um afundamento geral das finanças, como aconteceu nos primeiros anos da Grande Depressão da década de 1930.

Mas a ação política não teve, nem de longe, a força precisa para impedir o crescimento constante e intenso do desemprego, a redução da produção e a estagnação da procura. Nos encontros do G-20 de Toronto, Seul e Cannes, em vez de se reconhecer o problema de falta de resposta e de políticas de incentivo, o mundo dividiu-se em dois campos: os que entendiam que a ausência de crescimento continuava a ser o problema principal e os que apelavam a políticas de estabilização orçamental e de austeridade como forma de regresso aos equilíbrios macroeconómicos. Os resultados estão à vista. Provas e não juízos prévios.

O G-20 voltará a reunir-se em breve, desta vez no México. Trata-se de saber se os mandatários vão seguir, para a economia real, o mesmo princípio de determinação "rooselveltiana" (do nome de Franklin Delano Roosevelt, o Presidente norte-americano que salvou o mundo da Grande Depressão) que adotaram na área das finanças: as rondas de recapitalização que forem necessárias para a salvar. Esse princípio diz: se não conseguires à primeira, tenta de novo.

Visto da Alemanha

Angela Merkel contra o resto do mundo

“A Europa continua a ser o ponto quente da economia mundial. Na opinião dos seus mais importantes parceiros, só a Alemanha pode fornecer uma solução – e a austeridade de Merkel é tida como um erro grave”, escreve o Süddeutsche Zeitung. “Os conflitos em torno da austeridade e do crescimento mantiveram-se na mesma após a cimeira de Camp David: de um lado está a Alemanha, do outro, o resto do mundo”, continua o diário liberal.

A política de Merkel talvez seja popular na Alemanha mas, no exterior – e isso é o mais importante – a chanceler está isolada. A Alemanha e a França têm de encontrar um novo equilíbrio político para funcionarem no centro da crise europeia. Não se trata de realizar um gigantesco plano de conjuntura. Mas Berlim tem de tornar possível uma política de crescimento na Europa. É esta a mensagem de Camp David.

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