Adeus canalizadores polacos, Guten Tag carpinteiros alemães

O mito do canalizador polaco que tira o pão da boca aos trabalhadores alemães já foi ultrapassado. Segundo a Foreign Policy România, chegou a vez dos trabalhadores da Europa Ocidental rumarem aos países da Europa Central, onde os empregos não faltam.

Publicado em 12 Agosto 2010 às 13:53

Com um crescimento económico de 1,7% em 2009, a Polónia continua a ser o país menos afectado da Europa de Leste. Nem o desaparecimento da maior parte das elites responsáveis por este sucesso desviou a ascendente trajectória polaca. Por isso, hoje, milhares de alemães de leste atravessam o Oder à procura de um emprego.

Oficialmente, há mais de dois mil e quinhentos alemães nos call centres, na construção civil e noutros sectores nos arredores da cidade de Szczecin, mas os números não oficiais que circulam são muito mais altos. Um trabalhador alemão qualificado pode ganhar cerca de mil euros por mês na Polónia – não é muito, mas é melhor do que nada. Ali mesmo ao pé, no distrito alemão de Uecker Randow, a taxa de desemprego chega aos 20%.

Este novo fenómeno constitui mais uma prova de um movimento inverso de transumância. Se, nos anos de 1950-1960, os turcos e os gregos emigravam para a Alemanha, a crise económica incita, agora, os alemães a emigrarem para a Polónia ou... para a Turquia.

Os germano-turcos voltam "para casa"

De igual modo, os jovens germano-turcos deixam a terra onde nasceram e voltam para o país dos seus pais. Segundo um estudo do Instituto Futureorg de Dortmund, 38% dos jovens turcos licenciados querem regressar à Turquia. Metade deles afirma “não se sentir em casa na Alemanha”, onde dizem ser tratados como estrangeiros. Em 2008 foram cerca de cinco mil os que emigraram.

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Para além deste sentimento de não integração, a outra razão que os faz partirem é a discriminação no mercado de trabalho. Segundo um estudo realizado pela Universidade de Konstanz, quem tem um apelido turco tem menos 14% de possibilidades de ser chamado para uma entrevista de trabalho. Por outro lado a Turquia, que desde há vários anos conhece um período de boom económico contínuo, oferece oportunidades de emprego tentadoras e mostra-se interessada em absorver uma mão-de-obra altamente qualificada e, ainda para mais, poliglota.

Os licenciados em gestão de empresas e engenharia, bilingues e impregnados de uma ética laboral à alemã, representam o perfil favorito dos empregadores turcos. “A Alemanha, com isto, não só perde mão-de-obra altamente qualificada a quem pagou a educação, como também perde pessoas que podiam contribuir de forma decisiva para uma boa integração da minoria étnica”, lamenta Astrid Ziebarth numa análise para o German Marshall Fund.

Os refluxos grego e irlandês

Como era de prever, os estados mais violentamente atingidos pela crise registam, também eles, um êxodo de jovens qualificados. São muitos os jovens gregos que, depois de terem estudado no estrangeiro, voltaram ao seu país de onde e agora depois de terem perdido os seus empregos - se preparam uma vez mais para partir.

Durante o período de grande crescimento económico o Tigre Celta regozijava-se pelo facto das novas indústrias empregarem os autóctones dos país e atraírem os irlandeses da diáspora dispostos a trabalharem na construção e no sector financeiro. Hoje, as vítimas dos cortes salariais fazem fila para emigrar.

A ex-colónia portuguesa em África

Com um desemprego que ronda os 10% no seu próprio país, dezenas de milhares de portugueses tentam agora a fortuna em... Angola, antiga colónia lusitana na África Austral. Graças aos elevados lucros do petróleo, a economia angolana registou um crescimento de 16% nos últimos cinco anos, contra 1,1% da economia portuguesa.

O boom angolano garante mais oportunidades profissionais, por causa da enorme falta de mão-de-obra qualificada nas áreas da engenharia, telecomunicações, comércio de retalho e no sector bancário.

Quase 25 mil portugueses emigraram para Angola ao longo dos três últimos anos. Entre eles estão donos de pequenas empresas, quadros e operários especializados (pedreiros, electricistas, mestres-de-obras, etc.). Apesar de marcados pelos traumas do período colonial e da luta pela independência, os fortes laços linguísticos, históricos e culturais que unem os dois países facilitam a integração dos portugueses.

Visto da Roménia

Viva a fuga de cérebros!

“Uma vez que o próprio chefe de Estado faz a apologia da emigração, isto marca o fracasso do país”, escreve o Journalul National, sobre as recentes declarações do Presidente Traian Băsescu. O Presidente louvou a “coragem” dos romenos que deixaram o país e que tiveram o bom gosto de contribuir para a riqueza nacional com as suas remessas sem serem um peso para o sistema de segurança social. Que importa se a Roménia “correr o risco de ficar sem médicos, com os pacientes a serem abandonados, sem remorso, pelo Estado e os cérebros abandonem o país!”, ironiza o jornal. A fuga de cérebros não diz respeito, apenas, à Roménia: numa altura em que o desemprego volta a subir um pouco por toda a Europa, o Lidové noviny explica que em alguns países como a Alemanha e o Reino Unido, os caçadores de cabeças procuram cada vez mais no estrangeiro pessoas cujos perfis correspondam a lugares estratégicos como engenheiros, informáticos, cozinheiros e médicos.

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