Num ano, pouco ou nada se alterou no bairro histórico lisboeta da Alfama. Alexandre, Paula e João também faziam parte do cenário. Foi ali que planearam a manifestação que agitou as águas de março e juntou quase meio milhão de pessoas nas ruas, naquele que ficou eternizado como o “Protesto Geração à Rasca”. A vida deles sofreu algumas mudanças, o país também não é bem o mesmo.
O mais alto dos três amigos tem look de artista e a ironia na ponta da língua. Alexandre de Sousa Carvalho, de 27 anos, não parece deslumbrado com a vida pós-12 de março [de 2011].
"O que mudou na minha vida? Ganhei mais amigos no Facebook e fiquei conhecido durante uma semana", diz enquanto bebe uma imperial e fuma um cigarro.
O país nunca tinha assistido a tantas manifestações
Há dois meses deixou de receber os 900 euros da bolsa de investigação e foi obrigado a mudar-se do T1 onde vivia sozinho, em Lisboa. "Durmo num quarto sem mobília num apartamento que divido com oito pessoas, algumas delas que nem conheço." Aguarda com paciência pelo dinheiro da bolsa do doutoramento que está a fazer em Estudos Africanos, mais concretamente sobre as partilhas de poder no Zimbabué e no Quénia.
O último ano de Paula Gil, de 26 anos, aparentemente a mais tímida mas não a menos combativa do grupo, mais parece uma viagem atribulada num carrossel: terminou o estágio numa ONG, esteve desempregada (sem direito a subsídio) voltou a trabalhar, a falsos recibos verdes, e recebe um salário não muito elevado na área administrativa e de secretariado. Podia ser melhor. Podia ser pior. "Há dez anos que consigo pagar as minhas despesas."
Pior seria ficar no desemprego, que é o que acontece com João Labrincha, de 28 anos, que vive sem ajuda de subsídios mas com o apoio incondicional da família. Apesar das contrariedades, anda a fazer pela vida. "Em breve terei um emprego. Estou a preparar um projeto ligado à cidadania."
Se o protesto que criaram há um ano era apartidário e laico e apelava ao coração dos desempregados, quinhentos-euristas, subcontratados, estagiários, bolseiros ou trabalhadores intermitentes, acabou por se tornar em algo bem mais abrangente e num case-study para sociólogos e comentadores políticos.
Os organizadores orgulham-se de ter aberto a caixa de Pandora dos protestos sociais em Portugal e até na Europa. "Sem contar com o período do PREC, nunca houve um ano recheado com tantas manifestações no nosso país." Depois do 12M, seguiram-se o 15M, o 15O, o 24N e o 21J.
Social
Oitava greve em menos de um ano
Neste 22 de março, vai haver uma greve geral em Portugal. A Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP) apelou ao protesto contra as medidas de rigor adotadas pelo Governo de centro-direita de Pedro Passos Coelho. Trata-se da “oitava greve geral desde o dia 25 de abril de 2011”, realça o Público, mas, desta vez, a CGTP trava a batalha sozinha. A UGT, próxima do Partido Socialista, não participará. A CGTP opõe-se nomeadamente à reforma do Código do Trabalho negociado pelo Governo e aceite pela UGT.
No seu editorial, o diário lisboeta não considera que
a greve geral de hoje ajude a encontrar respostas para a difícil situação que vivemos. [...] As greves gerais convocadas em Portugal têm servido sempre para defrontar alterações nas leis do trabalho. A de hoje não é exceção e coincide com idênticos movimentos noutros países europeus, como Itália ou Espanha, onde as leis laborais estão a ser revistas na pressão da crise e de um desemprego cada vez maior.