Marwa al-Sherbini terá sido a primeira vítima de islamofobia na Alemanha? No dia 1 de Julho, esta egípcia foi apunhalada até à morte no recinto de um tribunal de Dresden por Axel W., um homem que lhe tinha chamado terrorista islamista devido ao uso do véu e cujo caso estava então em julgamento.
Terá sido necessário esperar perto de uma semana para que o Governo alemão condenasse e lamentasse oficialmente este incidente. Tem de aceitar agora as acusações de ter esperado a indignação criada por este assunto no Egipto e noutros meios de Comunicação Social estrangeiros para reagir.
As autoridades teriam mantido tal silêncio se um judeu fosse apunhalado num tribunal alemão após ter sido insultado por um anti-semita? Axel W. é talvez um caso isolado mas não terá sido contaminado por um crescente sentimento antimuçulmano na Alemanha?
Quando ocorre um atentado que implica um fanático muçulmano, os dirigentes políticos alemães não cessam de pedir à comunidade islâmica para se demarcar desse indivíduo, evitando assim qualquer risco de extrapolações indevidas. Actualmente, os alemães são unanimemente suspeitos de islamofobia, pelo menos no Egipto.
E onde estavam escondidos, na semana passada, todos os que hoje condenam o incidente de Dresda? Ninguém os viu. À excepção de um homem: "Não é preciso ser muçulmano para se insurgir contra a islamofobia, como não é preciso ser judeu para lutar contra o anti-semitismo", declarou Stephan Kramer, secretário do Conselho Central dos Judeus da Alemanha. Agradecemos-lhe aqui as suas palavras claras e sem ambiguidades. Na semana passada, os responsáveis políticos alemães ignoraram espantosamente esta mensagem, contudo evidente.
OS FACTOS
A morte que envergonha a República Federal
Marwa al-Sherbini foi assassinada no dia 1 de Julho, no tribunal de Dresden, capital da Saxónia, na Alemanha. A egípcia, que usava véu, foi apunhalada por um jovem alemão de origem russa, contra o qual ia testemunhar por este a ter insultado num parque de recreio infantil, em Agosto de 2008.
De acordo com informações do diário Tagesspiegel, Alex W. afirmou abertamente a sua simpatia pelo partido de extrema-direita NPD, antes de desferir o ataque. “Vocês têm o direito de estar na Alemanha? Não estão cá a fazer nada. Tudo isto vai acabar no momento em que o NPD tomar o poder. Votei nele”, teria declarado, antes de se lançar sobre a mulher grávida e lhe dar 18 golpes com uma faca. Desde então, a Alemanha interroga-se sobre o que está por trás deste drama. O NPD tenta mobilizar os alemães de origem russa, ainda que muitos neo-nazis considerem esses “repatriados” (Aussiedler) como imigrantes e consequentemente os rejeitem.
O Conselho de Coordenação dos Muçulmanos exige uma condenação clara por parte da classe política alemã, considerando que o ódio contra os muçulmanos e os estrangeiros terá sido responsável pela morte da egípcia. Numa declaração, o Conselho faz a relação com a controvérsia sobre o uso do véu. Desde a decisão de proibir o véu nos espaços públicos, os sites de Internet com apelos ao ódio e difamações multiplicaram-se, tornando Marwa “a vítima mais trágica das humilhações, suspeitas e discriminações sofridas pelas nossas irmãs”. No Egipto, a imprensa apresenta a jovem como “a mártir do véu”. “A Alemanha é inimiga de Deus”, bradavam manifestantes diante da Embaixada da Alemanha no Cairo.