A Praça da Nação (Ulus meydani) de Ancara, capital da Turquia

Ancara e “Os Miseráveis”

Há cada vez mais responsáveis turcos, incentivados pela dinâmica económica e política do
seu país, a criticar uma União Europeia enterrada na crise. Mas isto não deve comprometer a
vontade de Ancara de aderir à UE, considera um editorialista turco.

Publicado em 13 Dezembro 2011 às 15:29
A Praça da Nação (Ulus meydani) de Ancara, capital da Turquia

Ultimamente, as críticas dirigidas à União Europeia estão na moda na Turquia. Doravante, essas críticas são proferidas por altas personalidades políticas, quer por ministros ou até mesmo pelo Presidente da República, que seguem as pisadas dos que culpabilizam fortemente a União Europeia ou que a ridicularizam.

As declarações do Presidente Abdullah Gül durante a sua visita oficial ao Reino Unido [no final de novembro de 2011], qualificando a UE como “miserable” [em inglês no original turco], ilustram esta nova situação. Foi neste contexto que começou a surgir a tendência de designar a UE como uma “organização que se dispersa e desmorona”. Os que falam deste postulado concluem que uma Turquia “que continua a reforçar-se já não precisa, de qualquer forma, de uma União Europeia à beira do precipício”.

Complexo de superioridade

Será que devemos concluir, através destas afirmações, que a política do Estado turco está a mudar relativamente à UE? Tendo em conta que a UE é uma organização “miserável” prestes a cair, por que haveria a Turquia de se esforçar tanto para se tornar um membro? A não ser que este objetivo e a visão que o acompanha estejam a ser postos de lado? Por que haveria uma Turquia que avança rapidamente para a prosperidade de se juntar a este tipo de clube e integrar o elenco de “*Os m*iseráveis”?

Conhecemos perfeitamente as razões que levaram Abdullah Gül a proferir aquilo. A atitude muito negativa adotada, há já algum tempo, pela UE relativamente à adesão da Turquia, desapontou a opinião turca em geral, mas também os defensores da UE que deixaram de esconder a sua desilusão, rancor e desespero. As graves perturbações económicas e políticas com as quais os europeus foram confrontados numa altura em que estamos em plena ascensão económica e política geraram esse tipo de sentimento.

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Neste contexto, as acusações dirigidas à Europa manifestam uma ausência de confiança que substituiu, de certa forma, um antigo complexo de perseguição. Mas quando este estado de espírito provoca um complexo de superioridade excessivo que minimiza a União Europeia, inundada de qualificações inapropriadas, isto abre caminho para uma desconsideração do projeto europeu no nosso país e fornece novos argumentos aos opositores europeus à adesão da Turquia.

A UE não está prestes a desmoronar-se

A UE vive hoje, de facto, um dos períodos mais difíceis da sua história. A crise financeira levou à falência tanto os pequenos países como os considerados ricos e desenvolvidos. Uma situação que provocou uma agitação social e política. Contudo, é também verdade que a União Europeia ainda não está prestes a desmoronar-se ou a dissolver-se. Apesar de a Europa aparecer hoje como um ser “infeliz” ou “doente”, ainda possui meios para se recompor e recuperar a autoridade que lhe falta.

Os responsáveis políticos turcos não desconhecem esta realidade e estão completamente conscientes da filosofia e dos valores que a União Europeia representa para a Turquia. Por consequência, a opinião pública turca não deve interpretar as reações dos seus responsáveis políticos como uma renúncia ao projeto europeu. O mesmo se aplica aos dirigentes europeus irritados por essas reações.

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