Apoiar Ancara contra a Assad

Publicado em 17 Junho 2011 às 13:51

Há quatro meses a menos de uma hora de voo da UE, um tirano faz guerra ao seu povo. Centenas de civis presos, torturados, violados, executados, bombardeados pela tropa do presidente sírio, Bachar el Assad. E isto perante o silêncio quase absoluto, de total indiferença, do resto do mundo. A Europa impôs sanções — restrições à deslocação dos líderes sírios, à venda de armas e suspensão das ajudas económicas no essencial — sem que tenham surtido qualquer efeito. Foram raros os dirigentes, como o britânico David Cameron, que exigiram ao regime sírio o fim da violência, mas esqueceram-se de acrescentar as verdadeiras ameaças. Quanto aos intelectuais, o apelo que fazem à UE, "para que cesse o massacre na Síria", não teve, até ao momento, o impacto da mobilização feita pela Líbia.

No entanto, há mais condições para uma intervenção na Síria do que havia quando foi da Líbia: o objetivo deixou de ser proteger a população — como, então, o da cidade rebelde de Benghazi — contra a ameaça da utilização da força, algo suficiente para convencer a ONU a dar luz verde a um ataque contra a Líbia. Aqui, a força foi utilizada por um tempo.

Por que motivo, então, é que a UE não reage com mais firmeza? Será a ausência de imagens capazes de suscitar emoção e indignação o carburante da reação? Talvez. E não é por acaso que o país que exige com mais veemência — e credibilidade — o fim da violência e reformas democráticas seja a Turquia. Com efeito, é na fronteira turca que se aglomeram milhares de refugiados sírios fugidos aos confrontos e que dão os seus testemunhos. Testemunhos únicos e preciosos, depois de o regime de Damas ter encerrado as suas fronteiras à imprensa e aos observadores independentes.

Mas há também a noção de que, pura e simplesmente, não dispomos de meios para pressionar Bachar el Assad a pôr fim à repressão. Pressioná-lo a deixar o poder, então, está completamente fora de questão: não existe um consenso democrático (Pequim e Moscovo opõem-se a qualquer tipo de intervenção), o que impossibilita a adoção, pelo Conselho de Segurança da ONU, de qualquer resolução neste sentido. Não existe assim um cenário líbio. A via das sanções económicas — a UE é o principal parceiro comercial e o principal financiador da Síria — revelou os seus limites. Resta a via diplomática. Se, sozinha, não consegue ter peso, a UE devia apoiar com mais convicção as iniciativas de Ancara, um aliado incontornável numa região onde a Europa tem dificuldade em se afirmar.

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