Desculpem, estou ocupado a semana inteira. Barack Obama no Departamento de Estado, Washington, a 20 de Janeiro de 2009. (AFP)

Barack Obama, o Presidente inacessível

Angela Merkel no Congresso norte-americano, cimeira EUA-UE a 4 de Novembro: a Europa está presente em força em Washington. Mas não há que ter ilusões, previne a imprensa europeia, ninguém a espera na Casa Branca, onde o Presidente demonstra o maior desprezo por ela.

Publicado em 3 Novembro 2009 às 18:06
Desculpem, estou ocupado a semana inteira. Barack Obama no Departamento de Estado, Washington, a 20 de Janeiro de 2009. (AFP)

"Quando o presidente da Comissão Europeia se sentar, com alguns companheiros, para almoço na Casa Branca, o seu anfitrião será o vice-presidente Joe Biden”, escreve Simon Tisdall no The Guardian. "Parece uma ofensa, e é". A falta de interesse – ou mesmo o desprezo – com que Barack Obama trata os seus aliados europeus é uma fonte de apreensão no Velho Continente, constata o diário britânico. E é a própria Europa que tem a culpa disso, a fazer fé no European Council on Foreign Relations.

Num estudo sobre as relações UE-EUA publicado em 2 de Novembro, o centro de reflexão britânico considera que a Europa, eterna submissa, deve parar de mistificar a relação transatlântica, declarar o advento da era pós-americana e desembaraçar-se dos velhos mitos.

Ao contrário dos Estados Unidos, que abandonaram a doutrina da Guerra Fria, "os Estados europeus agarram-se à sua crença na hegemonia norte-americana, o que os leva a um servilismo exagerado para com Washington", constata o Spiegel-Online. Resultado: "No ardor da sua adulação aos norte-americanos, envolvem-se em iniciativas que não servem necessariamente os interesses da Europa, como a guerra do Afeganistão". Do ponto de vista norte-americano, este comportamento é o de "crianças pequenas a quererem chamar a atenção", acrescenta a versão informática do semanário alemão.

Adular o americano e eclipsar o europeu

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Não faltam provas de que o coração de Barack Obama está noutro lado: Gordon Brown viu recusado um encontro privado. Também o Presidente francês saiu frustrado: "Em lugar de um entendimento cordial e de admiração mútua, viu-se confrontado com perguntas embaraçosas sobre o número de soldados no Afeganistão, a 'turcofobia' e o arsenal nuclear francês", destaca Simon Tisdall. A Europa de Leste ainda não digeriu o abandono do projecto do escudo antimíssil, anunciado por telefone por Barack Obama. Em relação aos processos do Afeganistão, do Médio Oriente e da Rússia, a Europa investe muito dinheiro e envia o seu melhor pessoal, mas acaba frequentemente "ignorada, marginalizada e intencionalmente dividida" pelos Estados Unidos, prossegue o Spiegel-Online.

E qual é a reacção dos europeus? "Perante tais rejeições, os europeus reagem de forma previsível. Adulam o Presidente de maneira ainda mais determinada", indigna-se o comentarista alemão. Em vez de elaborarem posições comuns, "os europeus passam as suas visitas a Washington a tentar eclipsar os outros europeus". Sem política comum, a Europa continuará a assemelhar-se, como dizia o The Guardian, a "um totó associal e com acne, embeiçado pela rainha da turma".

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