Diz-se que são precisos 20 anos para termos uma geração. Talvez seja esse o tempo necessário para saldar as contas associadas ao desmembramento da antiga Jugoslávia. Depois da prisão, em 16 de maio, de Ratko Mladić, o último dos principais acusados pelo Tribunal Penal Internacional de Haia, vai poder ser feita justiça pelo massacre de Srebrenica, o maior crime das guerras fratricidas que assolaram a Croácia, depois a Bósnia de 1991 a 1995 (e o Kosovo em 1999). É possível agora virar uma página e a Sérvia pode ter esperança numa adesão, em breve, à União Europeia.

Coincidência ou não, este acontecimento verifica-se na semana em que a Croácia ficou a saber que, ao contrário do previsto, as negociações com vista à sua adesão poderiam não estar concluídas antes do fim de junho. "O novo alargamento da UE é uma decisão estratégica que provoca um novo braço de ferro geopolítico entre países ocidentais", salientava esta semana o diário croata Novi List. "Tal como no início dos anos 1990, temos de um lado os países liderados pela Alemanha e pela Áustria, apoiados pelos países do grupo de Visegrado (Polónia, Hungria, República Checa e Eslováquia), que consideram que a Croácia é, há demasiado tempo, vítima de preconceitos, e que apoiam firmemente a sua rápida adesão à UE. Do outro, encontram-se o Reino Unido e os seus grandes aliados do continente, Holanda, Dinamarca e países escandinavos, que desejam concluir as negociações, que duram há anos, no momento em que a Sérvia reunir as condições para a sua candidatura à UE." Este cenário torna-se credível com a detenção de Mladić. Mas os Vinte e Sete terão de agir com discernimento, porque os Balcãs continuam a ser um fulcro de muitas crises potenciais.

Em Belgrado, é ainda demasiado cedo para se avaliarem as consequências políticas da prisão de Mladić, mas, em Zagreb, a recente condenação em Haia do general Gotovina reforçou alguns sentimentos hostis à UE. E, nos dois países, a corrupção e o nacionalismo excessivo continuam a ameaçar a perspetiva de uma adesão sem choques.

Na Bósnia e Herzegovina, os sérvios, aqueles que Mladić comandava, ainda ameaçam organizar um referendo sobre a independência, o que indicaria o fracasso da paz precária alcançada em 1995. E no Kosovo, que continua a recusar-se a reconhecer cinco Estados da UE e onde a criminalidade e a corrupção prosperam, a hipótese de separação entre a maioria albanesa e a maioria sérvia continua a pôr em risco o equilíbrio regional.

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Na véspera da prisão de Mladić, o Comissário Europeu para o Alargamento e para a Política de Vizinhança, Stefan Fülle, apresentou a nova estratégia da UE para a vizinhança, centrada principalmente no mundo árabe, em detrimento de países como a Bielorrússia, a Ucrânia e a Geórgia, até agora considerados como prioritários. Como se a UE tivesse dificuldade em agir de forma constante em várias direções. É nos Balcãs que se cruzam essas duas perspetivas: o alargamento e a política de vizinhança. A Croácia e agora a Sérvia estão nos postos avançados. Mas os esforços a desenvolver em relação a estes dois países não devem esconder o que está em jogo em toda a região. A prisão de Mladić é apenas um capítulo de uma história em que os riscos são muitos.

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