Não devemos ter medo de confrontos desta natureza, devemos habituar-nos a eles, mas com uma condição: não os perdermos. Porque, se atacarmos cegamente, se nos batermos contra todos os que nos são hostis, passaremos a ser os brigões de serviço e toda a gente irá tratar-nos como se fossemos leprosos.
Tudo começou com o anúncio, a 16 de setembro, da firme oposição da Holanda à entrada da Roménia no espaço Schengen. Uma oposição ostensiva com a qual os neerlandeses não pretenderam apenas fechar-nos a porta, mas também bater-nos com a porta na cara.
Os especialistas afirmam que a Roménia preenche uma grande parte dos critérios técnicos de adesão a Schengen, impostos pela União Europeia. O país investiu milhares de euros, mas, como se encontra no mesmo cesto dos búlgaros, teremos de esperar que também eles atinjam um nível aceitável.
Mas é frustrante ficar à entrada da porta depois de termos passado semanas a tratar de tudo, depois de termos comprado uma roupa nova e engraxado os sapatos. Antes de sair, levantaste o dinheiro todo, comeste um bom pedaço de queijo, puseste o melhor perfume francês e compraste o enorme ramo de flores (neerlandesas, evidentemente!). Chegas, bates à porta, dizes, "Bom dia, minha Senhora!" e, surpresa, no patamar aparece uma matrona mal disposta que te manda com as flores à cara porque cheiras a queijo.
Varrer a Holanda do mapa
E a pergunta é esta: Como devemos reagir a uma coisa destas? Mandar a dama dar uma volta, ou ir embora sem esquecer que, para a próxima, é melhor não tocar no queijo quando a formos visitar? Ou será preferível levar uma funda e partir a janela da bruxa e dizer-lhe que é linda como Baba Yaga [a bruxa desdentada do folclore da Europa de Leste)?
Daria ideia de que adotamos uma tática de tiro com uma funda quando as frustrações aumentam. Terá sido em vão que fizemos detenções? [No início de fevereiro, a Direção Nacional Anticorrupção (DNA) deteve e enviou para Bucareste, de helicóptero, 140 agentes de postos alfandegários acusados de corrupção]. De nada nos valeu mostrar os culpados a toda a gente, para que os estrangeiros vissem bem como somos impiedosos perante a praga da corrupção das nossas alfândegas?
Os holandeses anunciaram que não nos deixam entrar no espaço Schengen e nós não nos esquecemos, como por milagre, que eles também têm as suas pragas. Não estão contentes com os nossos controlos fronteiriços? Então vamos mostrar-lhes o que é fazer vigilância!
Evidentemente que isto poderia passar por uma simples coincidência. Até à data, os bolbos das tulipas deles nunca nos interessaram. Será que têm uma forma suspeita? Ou, pior, talvez escondam uma bactéria mortífera capaz de dizimar a nossa querida pátria. Neste momento, andamos à procura da bactéria. Ainda não a encontrámos, mas vamos no seu encalço. Enquanto esperamos, eliminámos a Holanda do espaço Schengen das Tulipas. Para a próxima, talvez sejamos mais compreensivos, se eles cumprirem melhor os seus deveres…
Visto da Holanda
“Reforçar o Estado de Direito”
Numa entrevista à rádio pública neerlandesa, o ministro da Imigração, Gerd Leers, explica que ao aceitarmos a entrada da Roménia e da Bulgária na Zona Schengen, “dar-lhes-íamos a chave da nossa porta de entrada em matéria de vigilância das fronteiras. Há pessoas que não têm o direito de entrar e que não o deveriam fazer graças à corrupção. Daí ser necessário verificar se o Estado de Direito [na Roménia e na Bulgária] está em ordem”.
Baseando-se nos relatórios da UE que constatam a ausência de progressos por parte de Bucareste e Sofia, o ministro considera, segundo o Volkskrant, que “o Estado de Direito [na Roménia e na Bulgária] não está preparado, assim como o combate à corrupção e à criminalidade organizada” […]. É uma questão de confiança, porém, esta confiança não está presente”.