De Paris a Atenas

Publicado em 7 Maio 2012 às 15:18

Quais foram as eleições mais importantes de 6 de maio? O novo Presidente francês, François Hollande, aparece nas primeiras páginas de quase toda a imprensa europeia, um dia depois de ter vencido Nicolas Sarkozy. Assim o ditam as regras, poder-se-ia dizer, porque, devido ao peso político e económico da França, todas as mudanças ocorridas naquele país têm consequências sobre a política da União Europeia. E, desta vez, ainda mais, dado que o eleito socialista fez da política de crescimento como complemento da austeridade um dos principais pontos do seu programa. As próximas semanas vão, pois, ser marcadas pela preparação do Conselho Europeu de junho e pelas negociações entre dirigentes sobre a melhor maneira de criar esse crescimento.

Esse calendário poderá muito bem ser perturbado pelos resultados de outro grande escrutínio de 6 de maio: as eleições legislativas na Grécia. A derrota de Nicolas Sarkozy explica-se em parte pela "maldição" que presentemente recai sobre os dirigentes cessantes da Europa – nos últimos dois anos, só o polaco Donald Tusk saiu vencedor de umas eleições. Contudo, o voto dos gregos assemelha-se a uma revolta contra o sistema político do país. Acontece que, apesar dos seus defeitos e da sua responsabilidade na crise atual, esse sistema é o pilar em que se apoiam a UE e o FMI para pôr em prática as medidas económicas e a reestruturação do Estado exigidas em troca da ajuda financeira.

À primeira vista, a eleição de François Hollande poderia ser uma lufada de ar fresco para o PASOK e para a Nova Democracia, os dois grandes partidos gregos, que precisam de mostrar aos seus eleitores que podem reverter as exigências da troika. No entanto, com apenas um terço dos votos entre os dois, e um total combinado de 152 assentos no novo Parlamento, sendo que a maioria é de 151, nada indica que aqueles partidos tenham condições para formar um governo conjunto, no caso hipotético de terem desejo de o fazer. É portanto difícil ver em medida o efeito Hollande, se é que este existe, poderá ser-lhes favorável.

O PASOK, vencedor das eleições de 2009, foi agora relegado para o terceiro lugar pela esquerda radical. Por outro lado, o novo Parlamento está fragmentado entre pequenas formações, entre as quais os neonazis do Amanhecer Dourado. Assim, a saída mais provável, face aos resultados do escrutínio de 6 de maio, poderá ser a realização de novas eleições, que apenas contribuiriam para aumentar a instabilidade na Europa.

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Os receios quanto ao cumprimento das condições do plano de resgate sob a autoridade da troika e quanto ao futuro da Grécia na zona euro ressurgiram no dia a seguir às eleições. O que teve repercussões imediatas sobre os mercados financeiros. E, em Berlim, a chanceler apressou-se a dizer que não era possível renegociar o pacto orçamental assinado em março. Se se realizar, o debate sobre o crescimento será conduzido por força dos acontecimentos. Depois das celebrações na Bastilha, os próximos tempos poderão ser difíceis.

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