Quem vencerá o braço de ferro entre o primeiro-ministro Victor Ponta (à esquerda) e o Presidente Traian Băsescu (à direita)?

Ditadores de pacotilha

Golpe de Estado, deriva ditatorial… A ofensiva política do Governo, que poderá terminar na destituição do Presidente Traian Băsescu, reaviva o receio de um regresso ao regime autoritário. Para o editorialista Mircea Vasilescu, trata-se de um capricho político sem importância, contra o qual é necessário reagir.

Publicado em 5 Julho 2012 às 15:44
Quem vencerá o braço de ferro entre o primeiro-ministro Victor Ponta (à esquerda) e o Presidente Traian Băsescu (à direita)?

Não haverá outra ditadura. Exatamente da mesma forma que, durante os anos em que o poder esteve nas mãos da direita, os que gritaram ao “ditador Băsescu” [Presidente da Roménia desde 2004] falaram para a parede. O tempo em que comprávamos alimentos com senhas de racionamento [sob o regime de Nicolae Ceauşescu] não voltará. E o mesmo acontece com a época em que não nos atrevíamos a dizer o que pensávamos, com medo de sermos denunciados ao partido e à Securitate. Mas, por outro lado, a situação também não será um mar de rosas.

Não haverá outra ditadura. Traian Băsescu queria ser um “Presidente jogador”, mas jogou mal. Falou muito e não disse nada e criou vários conflitos. Hoje, o seu “estilo” conflituoso volta-**se contra si mesmo. A USL [União Social Liberal] e o seu Governo [dirigido por Victor Ponta] iniciaram uma ofensiva para demitir o Presidente – o seu único projeto. E para realizar a sua fantasia, estes menosprezam as regras democráticas e as instituições de Estado de Direito. Podem fazê-lo, por isso, fazem-no**.

Ponta acabará esquecido

S**Se conseguirem demitir Băsescu [está prevista uma votação no Parlamento para o dia 6 de julho], provavelmente também mudarão a Constituição, que significa para eles exatamente o mesmo que significava a propriedade privada para Ion Iliescu [antigo Presidente de esquerda nos anos 1990]: “um capricho”. Mudá-la-ão conforme a vontade de Crin Antonescu [eleito presidente do Senado a 3 de julho], eliminando completamente as prerrogativas do Presidente, ou passando a uma República parlamentar, para que o futuro presidente Crin Antonescu se possa instalar tranquilamente em Cotroceni [o palácio presidencial] no alto da sua autossatisfação. E mesmo os seus colegas estão a perceber que seria inoportuno confiar-**lhe qualquer tarefa, muito menos enviá-lo para o Conselho Europeu, pelo menos enquanto não for capaz de manter uma conversa numa língua estrangeira.

E Victor Ponta não parece muito interessado na sua futura carreira política, que enterra cada vez mais a cada dia que passa: entrará para a história como “o mais jovem primeiro-ministro” [tem 39 anos]. Foi fotografado no Conselho Europeu [onde se dirigiu no dia 28 de junho em vez do Presidente Băsescu, contra vontade deste último], mas já esgotou todas as suas ambições. Não poderá tornar-se um verdadeiro ditador, porque, para tal, é preciso ter uma certa vocação autoritária.

Newsletter em português

A acusação de plágio [para a sua tese de doutoramento em Direito] afetará o resto da sua carreira: pouco importa a conclusão oficial das comissões éticas, está feito de um ponto de visto moral, e, na União Europeia, a moral tem um papel primordial na política. E este sabe bem disso. Daí continuar a desempenhar, a nível interno, o seu papel de pequeno ditador de transição, levado a tomar certas decisões pelo sistema de partidos por trás dele.

The Economist tinha razão**: acabará por cair no esquecimento ocupando uma função política insignificante. E também sabe disso. Portanto, deixará de bom grado o seu cargo a outra pessoa, que saiba realmente tirar partido do sistema partido-Estado autoritário em via de construção nestes últimos dias**.

A sociedade civil tem de acordar

No entanto, e entretanto, a Roménia já começou a perder a longo prazo. A classificação do país baixou e continuará a baixar. O programa de medidas económicas estabelecido com o FMI e a Comissão Europeia está em maus lençóis, logo, não haverá ajudas internacionais. A dívida externa é já muito elevada e serão as nossas crianças a pagar a fatura. É possível que parte dos fundos europeus dos quais beneficiámos (muito poucos, porque não fomos capazes de atrair mais) também seja suspensa.

O embaixador americano expressou abertamente a sua preocupação: “A estabilidade das instituições do Estado é essencial para a Roménia e o seu futuro”. Em breve os investidores serão os próximos a reagir: alguns optarão por se retirarem, outros renunciarão vir para um país estável, onde o Governo não resolve os verdadeiros problemas, mas persiste em entrar em guerra com o Presidente. E onde a justiça é posta em causa pelo primeiro-ministro e a maioria parlamentar.

Não, não haverá ditadura, porque existe um Parlamento, certo? Claro que a oposição parlamentar poderia ser reduzida para 1%, como desejado por Crin Antonescu. Mas continuaremos a ter eleições “democráticas” baseadas provavelmente no modelo da Bielorrússia ou da Sérvia de Milosevic. Quem será ainda capaz de se opor? De qualquer forma, a imprensa deixou de ter a mesma influência do que nos anos 90 e poderá, no mínimo, ser censurada por uma lei sobre a imprensa. A sociedade civil e os cidadãos devem acordar agora para defender o Estado de Direito e a democracia. Quando chegar a altura de comprarmos alimentos com senhas de racionamento, será tarde demais.

Contraponto

Golpe de Estado, isto?!

O Parlamento romeno prepara-se para votar, a 6 de julho, a suspensão do Presidente Traian Băsescu, uma medida que tem de ser confirmada por referendo para se tornar definitiva. Um golpe de Estado suave? Não, responde o editorialista Victor Ciutacu, do *Jurnalul Naţional***:**

A propaganda pró-Băsescu parece mais viva e mais determinada do que nunca em apoiar a enormidade que defende que há um golpe de Estado na Roménia. (…) Excetuando a rapidez, que outro elemento definidor de um golpe de Estado encontramos neste caso? Nenhum! Onde, neste planeta ou arredores, se viu um golpe de Estado parlamentar, debatido em comissões, votado e combatido por quem se queixa? E onde a vítima do golpe de Estado [o presidente Băsescu] aparece na televisão e ameaça quem tencionar usurpar-lhe as funções? Talvez algures, na Constelação dos Gigantes. (…) Apesar da constância não ser uma das principais características da ação política na Roménia, não fará mal prestar atenção aos pormenores.

Tags

É uma organização jornalística, uma empresa, uma associação ou uma fundação? Consulte os nossos serviços editoriais e de tradução por medida.

Apoie o jornalismo europeu independente.

A democracia europeia precisa de meios de comunicação social independentes. O Voxeurop precisa de si. Junte-se à nossa comunidade!

Sobre o mesmo tópico