Nas ruas de Lisboa.

Excluídos do clube dos ricos, e agora?

O rigor que acompanhará o plano de ajuda do FMI e da UE deixa duas soluções aos portugueses: voltarem ao estilo de vida que tinham antes de entrarem na Europa ou arregaçarem as mangas. Um editorialista incita os seus compatriotas para que se esforcem e sejam otimistas.

Publicado em 14 Abril 2011 às 16:31
Robsike  | Nas ruas de Lisboa.

Sejam quais forem as consequências do pedido de resgate que Portugal, previsivelmente, fará, às instâncias internacionais, o país, e todos nós, devemos repensar a nossa vida. E se, de repente, ficássemos numa espécie de limbo entre a Europa e o Portugal dos nossos pais e avós? Corre-se esse risco. Objetivamente, e olhando para o exemplo da Grécia e da Irlanda, a população portuguesa deixará de viver segundo padrões europeus. Ai ele é isso? Então, a resposta (em nome da sobrevivência) poderá ser a de deixarmos de nos comportar como tal. Na verdade, sairemos do "clube dos ricos". Em breve, teremos de assumir o nosso terceiro-mundismo.

Fomos nós os principais culpados da situação a que chegámos. Mas foi, também, a Europa, a sua falta de solidariedade com os seus mais fracos, que nos deixou cair. A Europa impôs-nos um conjunto cada vez mais apertado de regras. Dispensávamos a maioria. Outras, bem pensadas, ideais para ricos, tornam-se, objetivamente, antieconómicas, quando os países empobrecem. Do calibre da fruta às exigências relativas ao funcionamento de um restaurante. Ler versão integral do artigo na Visão.

Visto dos Estados Unidos

Os mercados ameaçam a democracia

Newsletter em português

"O pedido de ajuda para resolver os problemas da dívida, que Portugal apresentou, na semana passada, ao FMI e à UE deveria ser um aviso para as democracias", escreve o sociólogo americano Robert M. Fishman, no New York Times. Na sua opinião, ao contrário da Grécia e da Irlanda, relativamente às quais "o veredicto dos mercados refletia problemas económicos profundos e facilmente identificáveis", a situação de Portugal não era muito má, ainda há alguns meses. "Não havia uma crise subjacente genuína": o país "apresentou bons desempenhos económicos nos anos 1990 e estava a recuperar melhor do que muitos outros países europeus da crise económica mundial", escreve Fishman. "Mas foi alvo de uma pressão injusta e arbitrária dos investidores em obrigações e das agências de notação de crédito, que, por falta de visão ou por razões ideológicas, conseguiram fazer cair um Governo democraticamente eleito e – potencialmente – atar as mãos ao seu sucessor."

"Se não forem alvo de regulação, estas forças de mercado ameaçam a capacidade de os governos democráticos fazerem as suas próprias opções em matéria de impostos e despesa", adverte Fishman. É por isso, acrescenta, que "o destino de Portugal representa um aviso claro para outros países. […] É muito provável que 2011 assinale o início de uma vaga de desgaste da democracia por mercados selvagens, sendo a Espanha, a Itália e a Bélgica potenciais próximas vítimas". "Só os Governos eleitos e os seus líderes podem garantir que esta crise não acabe por minar os processos democráticos. Até agora, parecem ter deixado tudo entregue aos caprichos dos mercados obrigacionistas e das agências de notação."

Tags

É uma organização jornalística, uma empresa, uma associação ou uma fundação? Consulte os nossos serviços editoriais e de tradução por medida.

Apoie o jornalismo europeu independente.

A democracia europeia precisa de meios de comunicação social independentes. O Voxeurop precisa de si. Junte-se à nossa comunidade!

Sobre o mesmo tópico