Fake Oddity num concerto em Lyon (França). Foto: Eva E. Davier

Fake Oddity, uma ponte entre a França e a Turquia

O grupo de rock Fake Oddity nasceu em Lyon fruto do encontro entre um jovem francês e um estudante turco, e quer fazer o pleno na mostra turca que decorre este mês em França: Concertos de grupos turcos, contos e encontros para derrubar barreiras culturais.

Publicado em 3 Julho 2009 às 17:31
Fake Oddity num concerto em Lyon (França). Foto: Eva E. Davier

Lyon, estação de metro de Gambetta, a alguns passos da Guillotière e da cidade velha, outrora local de chegada de mercadores e viajantes. É aqui que me encontro com Fred Bassier e Faik Sardag, os dois elementos que dão alma rítmica e melódica aos Fake Oddity, um jovem grupo rock lionês, nascido do encontro entre Faik, estudante turco chegado a França em Setembro de 2001, e Antoine, guitarista. “Queriam formar um grupo”, conta Fred, “depois encontraram o Tom, o baixo, e eu, através de pequenos anúncios. Foi em Outubro de 2002.” O grupo começou por se chamar Ascolein. O seu repertório era constituído por reinterpretações dos Radiohead, dos Pixies e dos Strokes, mas também de grupos e cantores dos anos 60 e 70, como os Doors ou David Bowie. “Durante os dois primeiros anos, fazíamos apenas interpretações; depois, decidimos levar as coisas a sério e mudámos de nome”, recorda Faik.

Foi assim que o Fake Oddity entrou em cena, fruto da união entre Fake Plastic Tree,dos Radiohead, e Space Oddity, de David Bowie. Mas é também o encontro de dois países, a França de Fred e a Turquia de Faik, que este último deu a descobrir ao grupo, em férias (pela primeira vez em 2003) e através de uma experiência única: a gravação do seu último álbum, “Runfast”, nos famosos estúdios IMAJ de Istambul, no início de 2007, seguida de uma minidigressão pelas salas da grande cidade. Nessa altura, Fred foi atraído por uma fotografia numa discoteca, a Pulp: “Nas paredes, tinha fotografias de um cantor rock e de um grupo de música tradicional. Aquilo representava efectivamente o país. O mesmo público vai ouvir, sem distinção, os dois tipos de música.”

Após mais de um ano em pós-produção, mistura e “mastering”, “Runfast” chegou às bancas francesas e teve um bom acolhimento. O grupo efectuou, pois, uma digressão pelas principais cidades francesas. Entretanto, os membros do grupo concentraram-se na mostra da Turquia em França. “Quando Lyon entrou na corrida para ser Capital Europeia da Cultura em 2013, decidimos participar na organização porque temos muitos contactos”, explica Fred. “Propusemos trocas culturais entre Lyon e Istambul, mas quando soubemos que ia haver uma mostra da Turquia, contactámos a Cultures France para lhes apresentarmos propostas.”

Foi o início de uma verdadeira odisseia em busca de patrocinadores, de parceiros institucionais e não institucionais, a fim de dar vida às suas ideias. “Vamos organizar concertos gratuitos de grupos turcos, talvez acompanhados de exposições de artes plásticas, num quadro com decoração típica”, explica o cantor. Mas os adolescentes e os jovens não são o único alvo do seu projecto. “Queremos atrair um público mais amplo. Previmos animações para as crianças e para os pais nas margens do rio Rhône, com histórias cantadas e contadores de epopeias turcas e de histórias romanceadas”, explica Fred.

Newsletter em português

Faik acena com a cabeça e sorri. Para ele, os cruzamentos culturais são naturais: “Fazem parte de mim”, afirma. “Venho de uma família muito cruzada e muito aberta.” O pai é albanês, a mãe meio-italiana: a avó fazia parte de uma família levantina de armadores venezianos instalados em Istambul. No início da entrevista, esclarecia: “Não queremos difundir uma mensagem política, mas unir as culturas”, ainda que, na sua opinião, “a França não deve julgar a história dos outros”. Fred apoia-o: “Quando falamos com alemães, não os acusamos pela sua história.” Faik conseguiu ultrapassar numerosas barreiras ideológicas, incluindo as que opõem os turcos aos arménios: “O meu patrão é de origem arménia, tal como um grupo com quem toquei”, brinca. “Nunca falámos de história e as nossas relações foram sempre boas.” Hoje, o desafio deles é dar a conhecer a Turquia aos franceses, influenciados pela “mediatização negativa”, explica o cantor. “Após a mostra turca em França, as coisas vão mudar.”

Não pensamos ser um exemplo de integração no sentido moral; não somos um modelo a seguir. Somos um exemplo entre tantos de uma integração bem sucedida e do potencial das trocas culturais”, afirma modestamente Faik. “Existimos porque estamos juntos. Não seríamos nada sem o Faik e ele não seria nada sem nós”, prossegue Fred. Para eles, o tema das relações entre a França e a Turquia “toca-nos particularmente e estamos comprometidos nisso. Foi o acaso que fez com que nos empenhássemos neste projecto”, conclui Fred.

Andrea Giambartolomei

Tags

É uma organização jornalística, uma empresa, uma associação ou uma fundação? Consulte os nossos serviços editoriais e de tradução por medida.

Apoie o jornalismo europeu independente.

A democracia europeia precisa de meios de comunicação social independentes. O Voxeurop precisa de si. Junte-se à nossa comunidade!

Sobre o mesmo tópico