O Presidente checo Václav Klaus (à esquerda) e o seu homólogo austríaco Heinz Fischer.

Inimigos e irmãos

O Presidente austríaco Heinz Fischer acaba de receber uma condecoração oficial das mãos do seu homólogo checo Václav Klaus. Mas as relações entre a Áustria e a República Checa continuam a ser problemáticas, como explica Lidové Noviny.

Publicado em 25 Maio 2009 às 12:24
O Presidente checo Václav Klaus (à esquerda) e o seu homólogo austríaco Heinz Fischer.

Entre todos os nossos amigos europeus, é com a Áustria que temos os maiores problemas. Isso explica-se talvez pelo facto de checos e austríacos se encararem mutuamente como num espelho. Karel Schwarzenberg, político de origem checa que viveu a maior parte da vida na Áustria, não perde uma oportunidade para utilizar esta ideia feita. Mas já se reparou como as relações entre a Áustria e a República Checa melhoraram nos últimos anos? É pouco provável, pois tal assunto dificilmente faria capa de jornal. Só vem ao de cima quando surge uma questão emocionalmente sensível, como um galardão austríaco atribuído a Václav Klaus ou o Tratado de Lisboa.

O Presidente austríaco, Heinz Fischer, vai a Praga para ser condecorado com a Ordem do Leão Branco. O Presidente Klaus deverá, pois, receber a mais elevada distinção austríaca, certamente! E se não se percebe porque os Chefes de Estado austríaco e checo não se deveriam homenagear um ao outro, então um pequeno recuo de dez anos no tempo esclarecerá qualquer lapso de compreensão.

A República Checa terminou as obras da central de Temelín e não teve em consideração os protestos austríacos. Após os resultados das eleições legislativas, o partido do populista Haider entrou para o Governo. Quando os Estados da União Europeia anunciaram que iam impor sanções diplomáticas a Viena, Praga, sem que nada a isso obrigasse, seguiu-lhes zelosamente os passos. Haider pediu imediatamente a organização de um referendo para vincular a entrada da República Checa na União Europeia ao encerramento da central de Temelín. O primeiro-ministro checo da época, Miloš Zeman, chamou imbecis aos austríacos.

Quem despreza a palavra progresso deve manifestar que tudo isto pertence a um passado remoto. Porque incomoda então tanto, nos meios de comunicação social austríacos, a distinção concedida a Klaus? Segundo o Der Standard, porque Klaus faz tudo o que está ao seu alcance para bloquear a ratificação do Tratado de Lisboa. Primeira vez, a não ratificação de um tratado europeu por um Estado-Membro de prática duvidosa pode ter consequências para o conjunto da União Europeia, afirma aquele periódico, que omite a recordação de que também estão em espera as assinaturas polaca e alemã. As decisões democráticas, que expressam a opinião maioritária, devem ser respeitadas, escreve o Salzburger Nachrichten. Mas então, conviria respeitar o “Não” genuíno da maioria dos irlandeses, coisa de que o articulista não fala.

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O Tratado de Lisboa pode ser considerado uma arma que se utiliza para exacerbar divisões. É certo que Klaus tem mais inimigos do que defensores; mas acusá-lo de alta traição, por exemplo, devia permanecer uma consideração do domínio interno. O projecto europeu merecia melhor do que esse tipo de intervenções mediáticas que consideram que a distinção atribuída a Klaus pode ser interpretada por Bruxelas como uma cumplicidade do bloqueio austríaco ao Tratado.

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