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Iveta Radičová criou um novo estilo político na Eslováquia

Iveta Radičová, a fénix de Bratislava

Primeira mulher a conseguir penetrar nas altas esferas da política centro-europeia, Iveta Radičová marca, com o seu estilo e posições, o mundo muito masculino e viril dos assuntos públicos eslovacos. Segundo o semanário Respekt, poderá tornar-se primeira-ministra no próximo dia 12 de Junho, sob a bandeira da SDKU, a União da Democracia Cristã.

Publicado em 2 Abril 2010 às 14:03
Iveta Radičová criou um novo estilo político na Eslováquia

ComIveta Radičová, 53 ans, assiste-se na Eslováquia, para lá da habitual luta pela tomada do poder político, a um combate entre tradição e modernidade. Foi já o caso na última eleição presidencial [2004], em que perdeu [na segunda volta] para Ivan Gasparovic, protótipo do homem eslovaco, apaixonado por automóveis, hóquei e flauta fujara [instrumento típico eslovaco].

Ex-professora de Sociologia e primeira socióloga da Eslováquia, Iveta Radičová tem-se revelado um verdadeiro fenómeno social. Encarna um novo estilo na política, apresentando a imagem de uma mulher sensível e culta, e recusando as regras brutais dos seus rivais masculinos, que fizeram da política um palco de guerra. Afirma “preferir deixar a política a ter de abandonar os princípios da boa educação”. Nos debates emitidos por televisão, mostra sistematicamente um largo sorriso aos adversários.

Nova linguagem política

Este "princípio feminino" é acompanhado de uma pertença assumida à corrente liberal moderna do pensamento político europeu, quer se trate da questão religiosa (“é um assunto privado”), do aborto (“confio nas nossas mulheres”) ou ainda da sua abordagem benevolente das minorias, sejam os homossexuais ou os húngaros, passando pelos ciganos e os imigrantes.

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A sua abertura de espírito é certamente mais do que simples cálculo político, mas Iveta aprecia a atenção que lhe dão os meios de comunicação, incluindo a imprensa mundana. Não hesita em falar-lhes do seu cabelo alourado (“o meu cabeleireiro é excelente”), do seu gosto por guloseimas (“sei tanto sobre caixas de bombons ou chocolate como sobre leis”) e das suas paixões. Por tudo isso, a imprensa cor-de-rosa respeita-a e protege-a. A popularidade de Iveta Radičová vem de 2005. Até então, era conhecida apenas nos círculos intelectuais. Tinha reputação de ser uma mulher de uma inteligência rara, com um passado imaculado (em Setembro de 1989, pertenceu ao grupo de 14 sociólogos que protestou em público contra a detenção de dissidentes eslovacos). Após anos de retórica neoliberal do Governo de Mikulas Dzurinda [primeiro-ministro de Outubro de 1998 a Julho de 2006, e ex-dirigente da SDKÚ], Radičová, então a única mulher no Governo, introduziu uma nova linguagem política. Em vez de denunciar os abusos cometidos pelos beneficiários de apoios sociais, começou a falar de pobres caídos na degradação sem terem culpa disso e na obrigação que constitui para o Estado ajudá-los.

Seguir Angela Merkel ou Ségolène Royal?

No Parlamento, Iveta Radičová cometeu um erro que podia ter-lhe sido fatal: carregou no botão de voto de uma colega do seu partido, argumentando que ela estava demasiado longe do aparelho. Choveram acusações de fraude e o mundo político e os meios de comunicação trucidara-na. Consequentemente, renunciou ao mandato de deputada. E, quando o diário SME anunciou a sua morte política, parecia que a sua carreira tinha terminado.

No final de Janeiro passado, porém, tudo mudou. Iveta Radičová anunciou que encabeçaria a candidatura do seu partido às eleições parlamentares, previstas para 12 de Junho. Ganhou as primárias num confronto com Mikolas Dzurinda. Sondagens recentes prevêem uma vitória da direita, caso em que Radičová poderia tornar-se primeira-ministra.

Iveta Radičová diz que o seu modelo é Angela Merkel. Mas, nos corredores da SDKU, temem tratar-se mais de Ségolène Royal [candidata socialista que defrontou Nicolas Sarkozy na eleição presidencial francesa de 2007].

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