O primeiro-ministro esloveno, denominado "príncipe das trevas" por um dos seus antecessores, em 2008.

Janez Janša, o todo-poderoso

Regressado ao poder apesar de ter perdido as eleições de 2011, este veterano da política agarrou com toda a força as rédeas do país e coloca os seus fiéis seguidores em postos-chave, a começar pela justiça e pelos serviços secretos.

Publicado em 5 Abril 2012 às 09:46
O primeiro-ministro esloveno, denominado "príncipe das trevas" por um dos seus antecessores, em 2008.

Tal como os vencedores após a batalha, como se a Eslovénia fosse o seu troféu de guerra, Janez Janša, alcunhado de “príncipe das trevas” pelo antigo primeiro-ministro Janez Drnovšek, demonstrou novamente que é um fiel adepto da teoria do general Sun Tzu, autor do célebre “A Arte da Guerra”, o seu livro de cabeceira.

Uma vez mais, aplicou a teoria do ilustre estratega chinês segundo a qual, para ganhar uma guerra, é preciso enganar o inimigo e é necessário mostramo-nos poderosos mesmo nos momentos de fraqueza.

Apesar da sua derrota nas eleições legislativas [em dezembro de 2011] e sem complexos por ter chegado ao poder [já tinha sido primeiro-ministro entre 2004 e 2008] graças à “engenharia” eleitoral e ao regateio político, Janša levou imediatamente a cabo alterações institucionais radicais ao suprimir ou ao reagrupar sete ministérios com o pretexto da poupança orçamental.

Tentativa de submeter a justiça ao poder executivo

No entanto, é incorreto explicar a sua firmeza e a sua intransigência unicamente com o seu caráter e revanchismo. Sendo, como é, um homem politicamente experiente, percebe a enorme importância de controlar o mais possível todos os níveis do poder.

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Ainda assim, parece que por trás da tentativa de “racionalização do aparelho de Estado” se esconde o desejo de controlar politicamente o sistema judicial, que desde há meses se ocupa do caso Patria [um escândalo em que Janša é suspeito de ter recebido subornos para a compra de blindados finlandeses]. O que Berlusconi tentou fazer em Itália, ou seja, a tentativa de submeter a justiça ao poder executivo, está em vias de ser alcançado por Janša na Eslovénia, sem que na Europa se levante uma única voz de protesto.

Janša conseguiu fazer depender o gabinete do procurador do Estado - que dirige o inquérito criminal sobre as suas implicações num dos maiores casos de corrupção desde a independência da Eslovénia - do ministro do Interior, instalando no cargo um “apparatchik” e antigo polícia, Vinko Gorenak. Inédito, mesmo para os frágeis padrões democráticos da Europa atual.

Menos de meia hora depois da chegada de Janša à cadeira do Governo, começaram a rolar cabeças. O primeiro a cair foi o chefe dos serviços de imprensa do Governo. O jornalista e antigo diretor do diário Delo, Darjan Košir, escolhido para o lugar por concurso público, foi substituído por um acólito do partido de Janša (SDS, Partido Democrático Esloveno).

Também o chefe dos serviços secretos civis, Sebastijan Selan, foi substituído logo nas primeiras horas do novo mandato de Janša. Para o seu lugar foi nomeado o atual diretor dos serviços de informação militar e Janša anunciou que, provavelmente, os serviços de informações militar e civil vão ser fundidos.

Lista de pessoas a eliminar

Apesar de haver quem tenha ficado surpreendido pelo facto de a terceira pessoa saneada ter sido o chefe da comissão governamental para as relações com as comunidades religiosas, uma função pouco importante no organigrama governamental, trata-se de uma forte mensagem simbólica dirigida à Igreja Católica, fiel aliada política de Janša.

Desde que Aleš Guli, um ateu de cabelos compridos e amante do ciclismo, anunciou que estava encarregue desta função – coisa que os bispos eslovenos classificaram como um provocação insolente – que a Igreja sonhava com este dia.

No entanto, isto foi apenas o início do terramoto que teve lugar entre os quadros [da função pública]. Desde há muito tempo que, no sítio de Internet do partido de Janša, existia uma lista de 244 pessoas nomeadas “segundo critérios políticos”, uma espécie de lista de pessoas a eliminar. Entre elas estão historiadores, jornalistas e economistas de notoriedade pública que o antigo governo de Borut Pahor nomeou para conselhos de administração e para algumas instituições.

Alguns deles figuram na lista de saneamentos de Janša por terem assinado petições “mal vistas”, especialmente a que dizia respeito ao apoio aos “apagados” [os ex-jugoslavos que foram privados da nacionalidade eslovaca depois da independência].

Outros, porque têm ligações familiares com pessoas “incorretas” ou porque têm amigos “politicamente pouco corretos”. Os seus pecados foram anotados à frente dos seus nomes, com muito pedantismo, pela gente de Janša.

Enquanto Janša não perde tempo, a Europa cala-se, tal como o Partido Popular Europeu se calou quando um dos seus membros eslovenos, Lojze Peterle, pessoa respeitada e influente, espezinhou os direitos dos “apagados” e dos ciganos durante o primeiro mandato de Janša.

Se Janša tivesse ousado tocar na autonomia do Banco Central, a Europa teria uivado, mas quando se trata de depuração política e da autonomia do gabinete do procurador do Estado, não reage.

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