Gdansk, 18 de junho de 2010: simpatizantes do candidato conservador às presidenciais polacas Jarosław Kaczyński, durante a sua última reunião.

Leste em agitação permanente

Deviam ser o motor emergente de uma Europa unida, mas, duas décadas depois da queda do muro de Berlim, a instabilidade política e a crise económica fizeram sobressair a instabilidade de alguns novos pareceiros comunitários do Leste.

Publicado em 21 Junho 2010
Gdansk, 18 de junho de 2010: simpatizantes do candidato conservador às presidenciais polacas Jarosław Kaczyński, durante a sua última reunião.

O simples facto de, de uma forma rápida e surpreendente, o ultraconservador e eurocético ex-primeiro-ministro polaco Jaroslaw Kaczysnki ter obtido um avanço nas sondagens que antecederam as eleições de ontem – não pelos seus argumentos políticos mas devido à compaixão gerada após a morte do seu irmão –, o incremento do nacionalismo na Hungria e as ameaças de crises políticas na Roménia e nos Estados do Báltico estão a causar um clima de insegurança na União Europeia.

Na Polónia, onde existe uma das democracias mais consolidadas da zona, o jogo político tem dificultado a acção do Governo. Os analistas consideram que, apesar do seu potencial económico, o crescimento da Polónia tem estado aquém das suas possibilidades. Em 2007, o Executivo prometeu lançar algumas reformas (cortes orçamentais, mudanças no mercado de trabalho, saúde e pensões) para modernizar o país mas o recém-falecido Presidente, Lech Kaczysnki, utilizou o direito de veto para bloquear ou ameaçar bloquear as leis indispensáveis.

Governantes instáveis nas novas democracias

A partilha de poder entre o chefe do Estado, que actua como guardião do sistema, e o chefe do Governo, que representa o poder executivo real, é habitual no Leste e constitui um foco de instabilidade. Basta recordar a crise vivida na UE, em 2009, por causa da recusa do Presidente checo, o eurocético Václav Klaus, em assinar o Tratado de Lisboa, apesar de este ter sido aprovado pelo Parlamento do país.

Outro problema habitual no Leste é a dificuldade em constituir governos que contem com um apoio suficiente e sólido. E, no caso da Hungria, cujo novo Executivo de centro-direita obteve, em Abril, uma maioria absoluta histórica, este feito foi ensombrado pela sua controversa estreia no poder. Em fins de Maio, um porta-voz insinuou que as contas públicas tinham sido manipuladas e que a Hungria, que atravessa a pior crise económica dos últimos 18 anos, estava numa situação semelhante à da Grécia. O FMI e a UE tiveram de desmentir estes comentários irresponsáveis, para tentar acalmar os mercados.

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Corrupção continua a minar na Roménia e na Bulgária

Estas declarações foram antecedidas pela aprovação de uma lei no mínimo polémica, que pôs em destaque as tendências nacionalistas e populistas do novo Governo do partido Fidesz. A lei concede a nacionalidade a pessoas de etnia magiar que vivem no estrangeiro (entre dois e três milhões, na Eslováquia, Roménia, Sérvia e Ucrânia), mesmo que não residentes na Hungria, uma coisa que reabriu velhas feridas em alguns países vizinhos e sobretudo na Eslováquia.

A verdade é que o Leste vive em agitação quase permanente desde 1989. Duas décadas depois do fim do comunismo, alguns dos países da zona que aderiram à UE ainda têm dificuldade em estabelecer sistemas democráticos estáveis. Os especialistas atribuem esse facto, entre outras coisas, à falta de consolidação das formações políticas, após anos de poder do partido único comunista.

Outro motivo é a corrupção, que continua a ter grande peso na Roménia e na Bulgária. Nestes países, a crise económica intensificou o debate sobre se estariam preparados para entrar na UE. Em Bucareste, a frágil coligação no poder salvou-se por um triz na semana passada. O primeiro-ministro Emil Boc conseguiu travar uma moção de censura apresentada por causa das duras medidas de austeridade que o Executivo está a preparar para manter o crédito concedido pelo FMI e evitar a bancarrota. Tentar pôr em prática planos de austeridade já saiu caro aos Governos da Lituânia e da Letónia que, em março, perderam a maioria no Parlamento.

Polónia

O grande ponto de interrogação

O resultado final das eleições ainda é incerto, escreve o diário Dziennik Gazeta Prawna, no comentário à primeira volta das presidenciais na Polónia. Para já, em destaque está o candidato do partido no poder, Bronisław Komorowski, da Plataforma Cívica (PO), que obteve 41,2% dos votos. O seu rival na segunda volta, marcada para 4 de julho, será o líder do partido de oposição Lei e Justiça (PiS), Jarosław Kaczyński, que ficou em segundo lugar, com 35,8% dos votos. Por conseguinte, o resultado das eleições poderá vir a ser decidido por aqueles que votaram em Grzegorz Napieralski, o líder da Aliança da Esquerda Democrática (SLD), que teve a preferência de 14% do eleitorado. PiS e PO irão tentar conquistar os seus eleitores, embora, como destaca o diário Polska, referindo-se a uma sondagem recente, 66% dos que votaram em Napieralski já tenham decidido apoiar Komorowski na segunda volta. Para o Gazeta Wyborcza, a vitória do candidato do PO dependerá da capacidade de mobilização dos seus apoiantes. Este diário adverte que, "se prevalecer a falsa crença de que a competição já está ganha, Komorowski poderá perder". Entretanto, o conservador Rzeczpospolita lamenta a "posição política estática" de muitos polacos que, apesar da tragédia de Smolensk e dos seus "muitos erros e falta de carisma", ainda votaram em Komorowski. Muitos comentadores de direita mostram-se igualmente surpreendidos com o apoio de 40% de que, ao fim de quase três anos no poder, continua a beneficiar a formação conservadora centrista PO.

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