Mais vale um engano que não fazer nada

Em 27 de maio, os Vinte e Sete decidiram levantar o embargo de fornecimento de armas aos rebeldes sírios, a partir de 1 de junho, apoiando simultaneamente a convocação de uma conferência de paz, em junho, em Genebra. Um começo de reação, que merece a aprovação do jornal “Die Tageszeitung”, para o qual a passividade deixou de ser uma alternativa.

Publicado em 28 Maio 2013 às 16:46

É verdade que se pode criticar os britânicos e os franceses por escolherem demasiado rapidamente a via militar, quando se verifica um conflito armado no mundo. Contudo, é preciso também dar-lhes crédito por estarem dispostos a tomar uma decisão, por não quererem ser testemunhas passivas de crimes de guerra, como os que são neste momento cometidos na Síria. Ao contrário do ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Guido Westerwelle, que está constantemente a chamar a atenção, a fazer advertências e a mostrar-se alarmado.

Acontece que, por um lado, as posições europeias divergem sobre a questão de armar ou não os rebeldes sírios e, por outro, são concordantes quanto a outro ponto: a Europa já não toma tão claramente como no início o partido dos rebeldes. Os ministros dos Negócios Estrangeiros europeus têm de ter em conta dois pontos de viragem que se registaram no conflito na Síria. A ingerência direta do Hezbollah libanês nesse conflito – devido a essa intervenção, a guerra civil poderá propagar-se – e o poder crescente dos grupos jihadistas e islamitas entre os rebeldes.

A ideia de esses combatentes barbudos que agitam bandeiras negras poderem vir a assumir o comando, após a queda do regime de Bashar Al-Assad, deixa o Ocidente cada vez menos à vontade. Aumentam os receios de que os grupos atualmente dominantes no seio da resistência síria façam pouco caso da democracia e do respeito pelas minorias.

Manter o distanciamento não é opção

Esse fator permite compreender o motivo por que os responsáveis europeus apelam à realização de uma conferência internacional sobre a Síria. Desde o início, a estratégia do Ocidente no que se refere à Síria tem sido manter-se de fora. Essa opção parecia sensata, mas, na altura, pensava-se que Bashar Al-Assad tinha os dias contados.

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Entretanto, tanto os europeus como os norte-americanos perceberam que Bashar Al-Assad continua a contar com numerosos apoios: os alauitas, de que ele próprio faz parte; a minoria cristã, que não confia nos sunitas; além dos fiéis do sistema e do partido Baath, no poder, e daqueles que destes tiram proveito. No total, os apoios do regime representam cerca de um terço da população.

No entanto, manter o distanciamento não é opção para os europeus, porque, até agora, essa estratégia só tem servido o regime de Bashar Al-Assad. É uma ilusão pensar que ficar de braços cruzados não faz de nós culpados. Os sírios também responsabilizarão o Ocidente pela morte dos 70 mil ou mais sírios que perderam a vida ao longo dos dois últimos anos.

Diplomacia

Aposta numa conferência de paz

“Demos uma verdadeira hipótese à conferência de Genebra”, clama o Sydsvenskan, para o qual “a ideia de uma conferência de paz sobre a Síria é muito mais atraente do que o fornecimento de armas” aos rebeldes sírios.

Para o diário de Malmö,

a guerra na Síria já provocou, segundo as Nações Unidas, mais de 80 mil mortos. Os refugiados contam-se em milhões. Nada nos diz que o conflito não provocará ainda mais vítimas, no futuro, se acrescentarmos mais armas. […] Ninguém pode garantir que os sistemas de armas avançadas não acabarão nas mãos de militantes jhiadistas ligados à Al-Qaeda. Ou a qualquer outro grupo mal-intencionado. Há muito por onde escolher, na Síria e arredores. […] O secretário de Estado americano John Kerry e o seu homólogo russo Sergueï Lavrov apostam numa conferência de paz, em junho, em Genebra. O regime sírio diz-se , “em princípio”, pronto para participar. Não é uma situação ideal. Mas vale a pena apoiar a conferência. É tempo de aproveitar completamente a diplomacia e uma solução política.

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