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Não tenham medo dos eurocéticos

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Ao que parece, os políticos da UE não só querem que as pessoas pensem sobre a UE como também querem decidir o que elas pensam. Deviam estar mais abertos ao debate com os eurocéticos de todas as camadas da população.

Publicado em 16 Outubro 2013

Nos últimos dias, os jornais De Standaard, Le Soir e Le Nouvel Observateur conseguiram juntar um imponente grupo de caras e filósofos europeus. Mais impressionante ainda, conseguiram organizar um debate em que foram manifestadas diferentes opiniões sérias. Por tal facto, tanto os organizadores como os participantes, merecem o nosso elogio. No entanto, apenas um orador explicitamente eurocético foi convidado/esteve presente. Mas, ao mesmo tempo, foi essa a razão pela qual cada um dos debates que segui me deixou sentimentos contraditórios.

É provável que os nossos líderes europeus e quem está à sua volta tenham medo do euroceticismo e que nunca consigam chegar aos cidadãos, quanto mais envolve-los. Todos os sistemas políticos podem ser posicionados num contínuo entre eficácia e legitimidade. Na UE, esse equilíbrio desfez-se claramente a favor de uma clara vontade de encontrar soluções eficientes para os desafios que a comunidade, no seu todo, enfrenta. Ao mesmo tempo, a UE proclama-se orgulhosamente a si própria como sendo a defensora dos valores da democracia, mesmo para além das suas fronteiras. E é aí que reside o busílis da questão, uma vez que a participação dos cidadãos e a legitimidade do sistema político daí resultante são vitais para a democracia.

Eurocéticos: ameaça ou desafio?

Não nos equivoquemos, as instituições estão preocupadas com o que os cidadãos pensam. Mas os meus dedos crispam-se quando oiço Herman Van Rompuy dizer que não é fácil comunicar com os cidadãos porque só se contentam com uma mensagem positiva una. [[Ao que parece, os políticos da UE não só querem que as pessoas pensem sobre a UE como também querem decidir o que elas pensam]]. Isso é totalitarismo com a doutrinação como estratégia de comunicação. E tal afirmação também demonstra que os eurocéticos são quase sempre vistos como uma ameaça e não como um desafio. Por que é que a UE não permite um debate em que estejam presentes as várias opiniões? Por que é que a UE não comunica através do debate – com apoiantes e opositores – que está a decorrer? Para além da diversidade, também precisamos de um debate mais acessível.

Durante o debate de abertura ficou muito claro que é necessária uma alteração de pensamento da UE perante a multidão. Fiquei de boca aberta quando o público, quase unanimemente, se riu de uma mulher que se referiu a Van Rompuy como presidente da Comissão Europeia, em vez de presidente do Conselho. Se alguém que se dá ao trabalho de ir a um debate sobre a UE comete um erro destes, o mínimo que posso esperar é que os participantes percebam que apresentar os candidatos à liderança da Comissão não resolve nada. Certamente, não aumenta o interesse dos cidadãos nas eleições para o Parlamento Europeu de maio do próximo ano.

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Assim sendo, gostava de fazer um apelo a todos os que estão envolvidos na política das instituições da UE. Primeiro, sacudam o vosso medo das opiniões alternativas e entrem num debate aberto. Segundo, levem a cabo esse debate na vossa base política local com um público que inclua jovens, pessoas pouco qualificadas e mulheres. E terceiro, oiçam quem dentro das instituições reconhece o desafio e tem propostas realistas e concretas para o resolver. Restam-nos sete meses.

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