Abanão na zona euro. Imagem : Getty

O euro contra os fundos especulativos

Atacada em diversas praças financeiras, a moeda única passa por uma prova sem precedentes. A imprensa europeia, que denuncia uma acção hostil e concertada, apela à reacção dos 27.

Publicado em 8 Fevereiro 2010 às 16:33
Abanão na zona euro. Imagem : Getty

A finança internacional quer a pele dos Estados da Zona Euro?” A pergunta colocada pelo Libération ecoa desde sexta-feira nas chancelarias nacionais e nos corredores das instituições europeias. Nesse dia [5 de Fevereiro], após uma jornada difícil para as Bolsas de Madrid e de Lisboa, “a Bolsa de Paris perdeu 3,40%. E a de Atenas 3,73%”, recorda o diário francês. "Quanto ao euro, passou abaixo de 1,36 dólar, pela primeira vez em oito meses. Em causa estão os 30 biliões de dívida pública acumulados pelos países do G7 e a situação da Grécia, Espanha e Portugal.

À medida que cresce a apreensão sobre a situação geral das finanças públicas, os especuladores testam a solidez da Zona Euro, atacando os seus elos fracos”, explica o La Tribune. “Um dos ídolos dos mercados, o economista norte-americano Nuriel Rubini, não evocou há alguns dias uma ‘possível cisão da União monetária'?” “Com as suas pressões sobre o euro e os juros que exigem para financiar Estados muito carenciados”, acrescenta o jornal económico, os especuladores “confrontam a segunda potência económica mundial em produto interno bruto com as suas fraquezas: a ausência de um governo europeu e o rigor do Tratado de Maastricht, que exclui a solidariedade inter-Estados”.

Unm banco e dois "hedge funds"

A desestabilização da moeda única seria, pois, deliberada, e o Libération aponta mesmo três culpados. “De acordo com as nossas informações, emanadas simultaneamente de autoridades de mercado e de instituições financeiras, um grande banco de investimentos norte-americano e dois muito importantes ‘hedge funds’ [instituições de investimento agressivas que operam fora do mercado regulamentado] estariam por trás dos ataques contra a Grécia, Portugal e Espanha. Objectivo? Ganhar o máximo de dinheiro, ao criar uma situação de pânico que lhes permita exigir da Grécia taxas de juro cada vez mais elevadas, ao mesmo tempo que promove a especulação. Porque não citar os nomes? Porque se trata de um conjunto de apreciações que correríamos o risco de ser consideradas insuficientes em tribunal, no caso de ser interposto um processo. E como diz um operador de mercado: ‘Com essa gente não se brinca’.

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O Libération explica que “os dois ‘hedge funds’ que intervêm no mercado grego ficaram furiosos por só terem recebido 2% do último empréstimo grego e estão decididos a deixar o pânico crescer no mercado do famoso 'credit default swap' [meio especulativo de cobertura de riscos de incumprimento do serviço da dívida]. O que abrange esta designação? Um título de seguros contratado para precaver o investidor contra uma eventual falência de um Estado a que emprestou dinheiro. O preço dos CDS é fixado e transaccionado num mercado paralelo, não regulado e totalmente opaco".

A tese do complô anglo-saxónico

Em Madrid, o El País considera que "nada do que está a acontecer, incluindo os editoriais de alguns jornais estrangeiros contendo comentários apocalípticos, é uma coincidência, antes obedece a interesses específicos". A deslocação da ministra espanhola da Economia, Elena Salgado, a Londres, em 8 de Fevereiro, para tentar "convencer" os investidores da City e os meios de Comunicação social da solvabilidade da economia espanhola, parece mostrar onde se situam esses “interesses específicos”.

Já o Charlemagne, blogue europeu do The Economist, contesta a tese de uma “conspiração anglo-saxónica ou parecida”. Os britânicos, “que sempre detestaram o euro e os norte-americanos que se sentem ameaçados por ele” procurariam “desacreditar o euro e desviar as atenções das dificuldades do dólar e da libra”. Ora, observa o jornal, “mesmo os jornais mais conservadores e eurocépticos, como o Daily Mail, não se congratulam assim tanto com os problemas da Zona Euro, inquietos por verem o contágio estender-se às economias britânica e norte-americana”.

"O método Isarescu"

No imediato, preconiza o Libération, os governos europeus e o Banco Central Europeu deveriam tentar “acalmar os mercados, fazendo-lhes ver que são vítimas de especuladores e que correm o risco de perder muito se forem atrás deles (…). Não é altura para se apegar ao Tratado de Maastricht, que proíbe o socorro a um Estado-membro da Zona Euro. Se os investidores tiverem a garantia de que a Grécia não vai ao fundo, a calma regressará”.

É aquilo a que o sítio de informação romeno HotNews.ro chamao método Isarescu” – baptizado a partir do nome do governador do Banco Nacional da Roménia, Mugur Isarescu. No Outono, conta o Hotnews, "um banco romeno convenceu os seus clientes de que a moeda nacional, o leu, se ia depreciar. As semanas passaram e o leu não cumpriu os desígnios dos que acreditaram nisso. Os clientes do banco acabaram por dar ordem de venda, causando uma perda monumental ao banco em causa". O Banco da Roménia, que nunca confirmou esses temores, teve até "um pequeno lucro” com o sucedido. "O BCE devia fazer o mesmo."

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