Centro comercial de Rosengard.

O falhanço da integração ao estilo sueco

Os bairros populares de Malmö, que foram recentemente palco de escaramuças entre jovens imigrantes e a polícia, são testemunho da dificuldade em integrar uma população que parece recusar o modelo escandinavo e que se fecha naquilo que já é qualificado como o "gueto da nova Suécia multiétnica".

Publicado em 11 Maio 2010 às 16:38
Centro comercial de Rosengard.

O Volvo rola com velocidade e mete pela Amiralsgatan, a via que atravessa o bairro popular de Rosengard, o "jardim das rosas" de Malmö. A música grega que invade o habitáculo contrasta com a tímida Primavera sueca. Andreas Konstantinidis ultrapassa uma série de quiosques de venda de kebabs [carne assada num espeto vertical] e falafels [bolinhos de grão-de-bico fritos] com dísticos em Árabe, em seguida entra numa pequena avenida ladeada de árvores e estaciona. Para lá da cerca de madeira, rodeada por três edifícios de apartamentos de renda social, podemos ver o parque onde Zlatan Ibrahimovic deu os primeiros pontapés numa bola. Em toda a volta, só se vêm mulheres de véu, que regressam a casa com as compras.

Não há um dia sem confrontos entre imigrantes e polícia

Andreas Konstantinidis é o presidente daquilo a que aqui se chama o gueto da nova Suécia multiétnica. Chegou a Malmö em 1974, ano da invasão de Chipre pela Turquia. Conhece cada uma destas ruas, cada um destes edifícios e as histórias da difícil integração dos seus 23 000 habitantes de 170 nacionalidades diferentes, com uma esmagadora maioria de nacionais de países mergulhados na guerra e em conflitos: Iraque, Afeganistão, Palestina, Somália. A percentagem de desempregados ronda os 90%: estes sobrevivem graças às famosas prestações sociais escandinavas.

Os incidentes violentos de finais do mês de Abril não são novidade [entre 28 e 29 de Abril, um grupo de jovens do bairro, de cara tapada, vandalizou escolas, quiosques, caixotes dos lixo e automóveis, para protestar contra a detenção de um deles. A rebelião só acalmou com a intervenção da polícia]. Não há um dia em que os jornais não noticiem confrontos com a polícia e tensões entre as minorias imigrantes e a maioria – cada vez mais reduzida – de suecos de gema (180 000 pessoas, num total de cerca de 270 000 habitantes).

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Os jornais sublinham que, na origem destas tensões, está o facto de a maioria dos estrangeiros serem refugiados políticos. Por outras palavras, não vieram para a Suécia em busca de uma vida melhor: estão aqui apenas por necessidade e acabaram por exportar para esta zona pacata os conflitos que incendeiam os seus países distantes.

Uma cidade pós-industrial convertida em esquizofrénica

Que fazer? No seu pequeno escritório da Câmara Municipal, Mattias Karlsson, de 33 anos, membro da direcção nacional da Sverige Demokaterna, uma espécie de Liga do Norte à moda sueca, é claro: "O único meio é bloquear a imigração. As estatísticas oficiais, já preocupantes, escondem o descalabro dramático de Malmö. Não referem, por exemplo, que as crianças filhas de pais suecos já são uma minoria em relação às crianças com pelo menos um dos progenitores nascido no estrangeiro. Na Administração Pública, já há muitas pessoas contratadas com base num único critério – falar Árabe. Nas piscinas, organizam-se aulas separadas para homens e mulheres. A celebração do Natal está a perder-se, por receio de discriminar a população muçulmana. Sem falar nos delitos, 90% dos quais são cometidos por estrangeiros e cujas vítimas são suecas, em 90% dos casos.

" Karlsson não esconde as intenções do seu partido: "Nas eleições de Setembro próximo, vamos ultrapassar a barreira dos 4% e entrar no Parlamento. Em Malmö, já estamos nos 7,5% e contamos duplicar a nossa votação."

O que se passa é que Malmö, como muitas cidades pós-industriais, parece ter uma vida esquizofrénica. Feita de receios alimentados por uma boa dose de populismo fácil mas, também, de expectativas diversas. Por um lado, a fatia dos rendimentos produzidos pela indústria – a começar na indústria portuária – caiu, nos últimos 40 anos, de 50 % para 12%, mas, por outro lado, o enorme impulso dado pela imigração contribuiu para baixar a média de idade da população para níveis que fazem sonhar o resto da Europa e que elevaram Malmö ao estatuto de cidade jovem e na moda.

Muitos judeus têm medo e mudam-se para Israel

"É uma questão de ponto de vista", admite Kent Andersson, o social-democrata que é presidente da Câmara adjunto de Malmö. E explica: "Como todas as grandes mudanças, aquela por que esta cidade está a passar tem aspectos positivos e negativos. Vejo isso quando apresento as estatísticas sobre a idade média dos habitantes. Os professores universitários ficam entusiasmados: ‘Que sorte, têm o futuro garantido!’ Em contrapartida, se falar sobre isso com um polícia, tenho a certeza de que ele vai abanar a cabeça e dizer: ‘Tenho muita pena de si, deve ter cá uma destas taxas de delinquência juvenil…’ Uns e outros têm razão mas, pessoalmente, acho que é preferível ter todos estes jovens para educar – sejam quais forem as dificuldades de integração – do que não ter nenhuns, como acontece na Dinamarca."

É uma questão de ponto de vista, de facto. Andreas Konstantinidis, por seu lado, recusa-se a baixar os braços: "Um grande número das pessoas que vivem em Rosengard não se sentem suecas e não querem ser suecas. Talvez seja preciso investir mais meios na escola para os fazer mudar de ideias. Acontece que acredito no modelo deste país e tenho a certeza de que essas pessoas acabarão por ter sucesso, como aconteceu comigo." Entre os 2 000 membros da comunidade judaica muito poucos partilham esta opinião: "Está a iludir-se. Malmö tornou-se uma província do Médio Oriente. Os nossos estudantes recebem ameaças de morte. Quando entramos nas turmas para falar sobre o Holocausto, os estrangeiros saem porque se recusam a ouvir-nos. Muitos dos nossos já fizeram as malas e partiram para Israel."

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