Diz-se que os milagres duram três dias. Neste caso, deve ser verdade. Pois apenas esgotados esses três dias após o fim da cimeira europeia, as agências de notação esfolam-nos vivos [a 25 de julho, a Moody’s baixou a nota da Grécia, que fica a apenas um passo da bancarrota]
Dir-me-ão que era de esperar. Um resultado esperado e, diria, até indiferente. De qualquer modo, as decisões da cimeira serão julgadas pelo seu conteúdo e a longo prazo, e não durante um fim de semana estival. Faria, no entanto, três observações:
Em primeiro lugar, as decisões da cimeira europeia são muito claras e positivas em termos do enquadramento da dívida soberana e do apoio à Grécia através da concessão de um empréstimo suplementar. É um balão de oxigénio, como se costuma dizer. Em segundo lugar, é preciso dizer que os elementos são muito ambíguos no que respeita a redução da dívida grega, que dentro de seis meses deveria ser superior a 162% do PIB, um nível impressionante.
Neste momento nada é claro, pois não era possível fazer de outro modo. A partir do momento em que o processo de “participação voluntária” do setor privado foi escolhido para aligeirar a dívida, ninguém consegue de prever como se expressará a generosidade voluntária de cada um.
Em terceiro lugar, os juízes finais do esforço feito pelos gregos serão (para o bem e para o mal) os mercados internacionais, a quem esperamos recorrer em 2014 – de acordo com as declarações do ministro das Finanças, Evangelos Venizelos. E a interação entre os mercados e as agências de notação é conhecida e faz parte do sistema.
Não há, portanto, dúvidas de que a crise geral e a inviabilidade de dívida vão pesar substancialmente sobre a dívida. Mas como reduzir a dívida para a tornar viável?
Logo após a cimeira europeia, o Wall Street Journal calculou que a dívida andaria abaixo dos 100% do PIB. A estimativa é tão mais importante quanto este jornal têm uma grande influência sobre os mercados e as agências de notação.
Falamos, então, de uma redução na ordem dos 135 a 140 mil milhões de euros, que não podem vir da participação voluntária do setor privado. É ridículo manter uma tal teoria!
De onde poderá surgir a solução? Do desenvolvimento! Isto significa que o peso da dívida só diminuirá drasticamente se o peso do PIB aumentar na equação.
É por isso que a receita se mantém: desenvolvimento, desenvolvimento, desenvolvimento... Não existe outra forma, nem outro caminho.
Por isso, espero que afinal o plano Marshall de Bruxelas não venha a assemelhar-se aos investidores que aparecem todos os verões para voltar a comprar a equipa de futebol do PAOK Salonika e que acabam por partir sem investir.
Cimeira de Bruxelas
Os dirigentes europeus emaranham-se nos milhões
O que é que eles decidiram em Bruxelas a 21 julho? Para certos líderes presentes na cimeira da zona euro, não ficou bem claro. “Eles estão conscientes de que assinaram um acordo, mas a explicação do conteúdo difere”, nota o NRC Handelsblad. “Não é satisfatório”, refere o diário holandês. “Deveríamos ser capazes de esperar que os chefes de Estado e o Governo nos informassem, sem equívocos, sobre as cimeiras em que participam em conjunto.”
Na Holanda, por exemplo, o valor total do plano de resgate grego despoletou alguma confusão. Enquanto o primeiro-ministro Mark Rutte anunciou um plano de resgate de um total de 109 mil milhões de euros, os seus colegas italianos e alemães referiram um total de cerca de 159 mil milhões. Segundo o NRC, esta diferença deve-se ao montante da participação dos bancos, estimado entre 37 e 50 mil milhões, que deverá ser adicionado ao financiamento oficial de 109 mil milhões.