Os frágeis revolucionários de Atenas

Numa altura em que o primeiro-ministro Alexis Tsipras continua em busca do apoio dos seus colegas europeus, a imprensa polaca tenta desvendar a sua estratégia e pesar as suas possibilidades de convencer Angela Merkel a aliviar a pressão que se faz exercer devido à austeridade.

Publicado em 10 Fevereiro 2015

Embora tenha chamado Ernesto ao seu filho mais novo e, recentemente, tenha pendurado um cartaz de Che Guevara na parede do seu escritório, Alexis Tsipras não está disposto a alimentar a chama da revolução, revela o Newsweek Polska. Não é um “ideólogo cego, mas um excelente estratega que adora jogos políticos”, acrescenta o semanário, realçando que o novo líder grego preencheu de forma habilidosa o vazio criado pelo colapso do sistema bipartidário de longa duração na Grécia. Tal como explica o histórico e sociólogo grego Iannis Carras,

o seu principal trunfo é o facto de muitos gregos o verem como um político que se ergueu e defendeu o país. É por isso que Tsipras vai continuar a usar a retórica patriota e nacionalista partilhada pelos partidos gregos de direita e de esquerda.

Contudo, Tsipras não conseguirá cumprir as “promessas irrealistas que fez durante a campanha eleitoral”, mesmo que tenha começado a desmantelar algumas das reformas do seu predecessor, ao suspender o processo de privatização do porto de Pireu e do fornecedor de energia DEI, bem como ao aumentar o salário mínimo e planear a reintegração de alguns funcionários do setor público que tinham sido despedidos. Os especialistas estimam que o custo das promessas de Tsipras ascenda aos 10 mil milhões de dólares, dinheiro que a Grécia não tem.

É por esse motivo que, Yanis Varoufakis, apresentou um plano de recuperação crucial para a sobrevivência do Governo baseado em quatro pontos. Este implica uma ligação dos juros da dívida pública ao crescimento do PIB, a continuação de reformas mas “a laser e não à faca”, o estímulo do investimento por parte do Banco Europeu de Investimento, não apenas na Grécia mas em toda a Europa e, finalmente, a criação de um novo programa de assistência social na zona euro.

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Os fatores chave do plano dependem do consentimento dos seus parceiros europeus e de Bruxelas, motivo pelo qual Tsipras e Varoufakis têm percorrido de forma incansável o continente em busca de apoio e de aliados. Quando questionado sobre o que aconteceria se os líderes europeus e a Comissão rejeitassem as suas propostas, Varoufakis admitiu que, nesse caso, “a morte seria melhor”.

Não admira, portanto, que Tsipras tenha suavizado a sua retórica revolucionária antes do confronto final com a chanceler alemã. No entanto, o Newsweek Polska realça que Angela Merkel parece atualmente menos disposta a ceder do que em 2012, quando temia que o colapso da Grécia pudesse resultar no desmoronamento da zona euro.

Atualmente, a chanceler alemã está mais inclinada para aceitar a teoria do elo mais fraco, isto é, livrar-se do fardo do membro mais fraco pode ajudar a zona euro. As negociações entre Atenas e Berlim serão extremamente difíceis. Um dos jornalistas alemães disse-o sem rodeios: “Merkel livrou-se de todos os seus inimigos internos e externos, a começar por Helmut Kohl. Facilmente se livrará de Tsipras”.

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