Após os atentados de Paris

“Os terroristas ganharam uma batalha”

Após os ataques terroristas levados a cabo por, pelo menos, oito pessoas ligadas à autodenominada organização Estado Islâmico, que fizeram 128 mortos em Paris, a imprensa francesa reage à emoção provocada em França e no mundo e questiona a fragilidade das medidas preventivas colocadas em prática.

Publicado em 16 Novembro 2015 às 10:03

Após os atentados atentados de janeiro e a intervenção militar na Síria, as autoridades francesas estavam em alerta e tinham reforçado a vigilância de suspeitos, mas não conseguiram evitar que um grupo de jihadistas cometesse o mais sangrento atentado na Europa desde 2004.

“A barbárie terrorista deu um passo histórico”, escreve Laurent Joffrin. Para o diretor do Libération,

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É a França, a sua política, o seu papel internacional, o que os assassinos atacaram, não nos ataques dirigidos contra o Charlie Hebdo ou o supermercado Hyper Cacher, mas através de uma crueldade indiscriminada, desencadeada para inspirar o terror a um povo. A sociedade francesa deve ganhar coragem para não ceder um milímetro aos assassinos, para exercer a sua vigilância e a sua vontade resoluta de enfrentar o horror apoiando-se nos seus princípios de direito e solidariedade. A República, o Estado mobilizado e as suas forças de segurança, enfrentarão a dura prova sem tremer, com toda a eficácia que lhes é própria. É impossível não associar estes acontecimentos sangrentos aos combates em curso no Médio Oriente. A França fará a sua parte. Tem de continuar sem pestanejar. Só a união do país, sólida e voluntária, apoiada nos seus valores, permitirá que este faça frente ao seu maior desafio.

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Os autores dos ataques inspiram “raiva e desgosto” ao editorialista Jean-Marie Montali do Le Parisien. Para este:

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Estes bárbaros de Deus, soldados fantoche cujo heroísmo consiste em matar inocentes, massacram às cegas, pois querem deixar a França em estado de choque. Paralisá-la. Dividi-la. Mas em nome dos verdadeiros mártires de ontem, as vítimas inocentes, e em nome da República, a França saberá permanecer unida e enfrentá-los.

Para o Le Figaro, o que aconteceu na noite de sexta-feira foi “o cenário negro temido pelas forças da ordem e os serviços secretos”. O diário cita vários especialistas que tinham denunciado como “muito provável” uma série de ataques como os de Paris, colocado em marcha por

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uma equipa mais ou menos grande de homens que provém de teatros de operações onde adquiriram experiência, talvez a Síria, a Líbia ou até o Iémen, que arranjam armas no local (em França) e passam à ação.

“É uma novidade em França em matéria de atentados”, indica o Le Monde:

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Estes ataques, considerados “complexos”, no que diz respeito ao modo de operação em várias etapas, inspiram-se noutra forma de violência que existia há vários anos em zonas de conflito como o Afeganistão, o Iraque e a Síria, onde reina uma forma de violência da qual a França se julgava protegida.

No L’Opinion, Jean-Dominique Merchet explica que “a França está a entrar numa nova fase da guerra terrorista”. Os ataques de sexta-feira constituem

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uma rutura nos modos de ação terrorista que visam a França. Tudo isto em quatro níveis diferentes: os objetivos, a simultaneidade, o alcance e o método, suicida. […] Ao cruzar uma nova etapa da guerra, os terroristas ganharam uma batalha. O terrorismo é, basicamente, uma arma de comunicação massiva: a ressonância de atos como os de sexta-feira é enorme. É este o efeito que os autores procuravam e obtiveram, pois estamos legitimamente presos nas nossas emoções. O terror é eficaz. […] Os ataques de Paris ocorrem a apenas duas semanas da COP21, que reunirá em Paris dezenas de chefes de Estado e de Governo. O desafio para a segurança, já por si elevado, torna-se fundamental. No caso da crise Síria, com uma reunião este sábado em Viena, onde se reúnem os principais países implicados na solução desta crise, devemos perguntar-nos: conseguirá a França manter a sua linha – nem Bachar, nem o Daech –, depois de o terrorismo a ter atacado com tanta força?

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