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Através de uma foto destruída do Alto Representante da UE para a Bósnia, Miroslav Lajcak, em Sarajevo, 2009.

Que papel para a União Europeia?

Dezasseis anos depois do fim da guerra, a Bósnia continua a ser um Estado dividido e sob tutela internacional. O Alto Representante, cargo atualmente desempenhado pelo representante especial da UE, desempenha um papel essencial na gestão do país. Mas daí a reaproximá-lo da UE vai um passo ainda longo.

Publicado em 10 Agosto 2011 às 16:24
Através de uma foto destruída do Alto Representante da UE para a Bósnia, Miroslav Lajcak, em Sarajevo, 2009.

A guerra na Bósnia-Herzegovina (1992-1995) fez mais de 100 mil mortos e deixou o país moral e fisicamente exangue. Os acordos de Dayton, que puseram fim à guerra, colocaram o país sob os auspícios de dois organismos internacionais: o Conselho para a Implementação da Paz e o Gabinete do Alto Representantepara a Bósnia Herzegovina.

O Alto Representante tem poderes imperiais: pode anular ou, então, impor leis, destituir eleitos, revogar juízes e respetivas decisões. Tudo isto ainda ao fim de 16 anos depois da guerra. Será um bom ou mau indício?

Em junho de 2007, Miroslav Lajčák, brilhante diplomata eslovaco, foi nomeado para o cargo de Alto Representante. Afirmou então que estava determinado a conduzir os belicosos responsáveis políticos bósnios pela via reformista, a reaproximar o país da UE e a restabelecer a ordem, mesmo que para isso tivesse de dar um murro em cima da mesa.

Em pleno marasmo

Antes dele, o cargo de Sarajevo tinha sido ocupado por Christian Schwarz-Schilling, alemão. Este não fez praticamente nada pois estava convencido de que uma intervenção estrangeira poderia ser muito mais prejudicial do que outra coisa qualquer à Bósnia. Quanto ao resto, o cargo estava prestes a ser suprimido. Schwarz-Schilling seria o último Alto Representante. Mas a situação no terreno não melhorou. A isso veio juntar-se a declaração de independência do Kosovo (fevereiro de 2008), que poderia ser uma ameaça ao equilíbrio daquela região. Foi então decidido manter o cargo de Alto Representante e nomear Miroslav Lajčák.

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Foi ele que conseguiu convencer o Parlamente bósnio a votar a reforma da Polícia. Conseguiu também que a Bósnia ratificasse o Acordo de Estabilização e Associação com a UE, a primeira etapa para a sua adesão. Mas, até hoje, os projetos de reforma da Constituição foram um malogro. Em março de 2009, Valentin Inzko, austríaco, sucedeu a Miroslav Lajčák. Mas também ainda não conseguiu fazer avançar as posições antagonistas dos responsáveis políticos. "Para mim, o único que conseguiu fazer alguma coisa foi Paddy Ashdown", afirma Tija Memisevic, a investigadora de 35 anos que fundou o Centro de Investigação Europeia, um think-tank de Sarajevo. Paddy Ashdown, britânico, ocupou este cargo entre 2002 e 2006.

"Paddy Ashdown é um homem político e não um diplomata. Além disso, vem dum país que, de facto, se está nas tintas para o que a Alemanha, a França e Bruxelas pensam. Não digo que tenha sido sempre com conhecimento de causa, mas realmente utilizou todos os poderes que emanavam da sua função. Os seus sucessores, diplomatas, viram-se sempre para Bruxelas à procura de consenso. E como não existe uma posição comum em Bruxelas, qualquer passo em frente leva anos e, entretanto, continuamos em pleno marasmo", explica.

Criminosos de guerra em ambos os lados

Os críticos de Paddy Ashdown afirmam que se comportou na Bósnia como se fosse um Rajá [o vice-rei das Índias britânicas]. Foi precisamente esta a alcunha que lhe deram. Mas Tija Memisevic considera que, tendo em conta a situação atual, não se pode agir de outra maneira. Está convencida que o seu país não é capaz, pelos seus próprios meios, de sair da espiral de conflitos e que é preciso alguém do exterior capaz de dar um murro em cima da mesa.

Mas quem poderá fazer isso hoje? Os norte-americanos, que desempenharam um papel decisivo na Bósnia nos anos do pós-guerra? Dificilmente. Para eles, os Balcãs deixaram de ser uma prioridade. A UE? Logicamente que sim. Bruxelas afirma que o destino da Bósnia lhe diz respeito. E Sarajevo, que o futuro na Europa é uma prioridade.

Mas nem tudo é assim tão simples. Há muita gente na Bósnia que sente que a UE não faz nada de significativo no país e que nem sequer tem vontade de fazer seja o que for. Acha também que a UE cede demasiado à Rússia que, por tradição, está do lado dos sérvios. Bruxelas, em contrapartida, afirma que Sarajevo não pode ficar à espera que seja a UE a regular todos os seus problemas. Recrimina os responsáveis políticos bósnios de não quererem fazer reformas, de não quererem seguir a via da reconciliação e de não tomarem ações concretas.

Haverá solução? Certamente que sim, pois o tempo corre a favor da Bósnia. Irá desempenhar o seu papel. Veja-se a Sérvia e a Croácia. Apesar das dificuldades e do facto de o nacionalismo não ter desaparecido, o Presidente sérvio pediu desculpa pelo genocídio de Srebrenica e os croatas elegeram um compositor e jurista pacifista para a presidência, que reconhece ter havido criminosos de guerra do lado croata.

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