Como se dirige uma economia? Na Bolsa de Frankfurt. (AFP)

Rumo a um federalismo em crise

A reunião dos 27 que se realiza esta quinta-feira, em Bruxelas, em plena crise financeira, poderá ver nascer uma espécie de governo económico europeu. Essa ideia, durante muito tempo combatida por alguns Estados-membros, parece hoje incontornável, constata a imprensa.

Publicado em 10 Fevereiro 2010 às 17:07
Como se dirige uma economia? Na Bolsa de Frankfurt. (AFP)

"Às vezes, não há nada melhor do que uma boa crise, para revelar tudo aquilo em que não se tinha pensado antes, no momento em que, com fé em Deus e com as melhores intenções, se aderiu a um grande projecto." Às vezes, como diz Dieter Wermuth no seu blogue do Zeit-Online, a necessidade impõe-se. E as ameaças que pairam sobre a zona euro poderão levar a União Europeia a criar um embrião de governo económico.

"No caso da União Monetária, não podemos satisfazer-nos com um simples ‘Vamos em frente!’", garante Wermuth. "Precisamos de novas garantias ou, então, o projecto deve ser abandonado. Uma União Monetária tem de envolver uma política financeira comum ou, mais exactamente, uma união política." Nesse sentido, congratula-se este jornalista, a decisão de colocar a Grécia sob a "supervisão de Bruxelas é um passo na direcção certa".

A necessidade de um governo comum

A verdade é que "Paris, Londres e Berlim nunca falaram tanto de coordenar as políticas económicas da UE", salienta o editorialista Bernard Guetta, no Libération. "Em muito pouco tempo, os ataques especulativos contra os elos mais fracos da UE acabaram por colocar na ordem do dia a ideia de uma ‘governação económica comum’ – uma expressão cruel, cuja utilização traduz a derradeira resistência à necessidade evidente de um governo comum para um conjunto que já tem uma moeda, instituições, um Banco Central, eleições, um Parlamento e um mercado comum mas que não tem um sistema fiscal comum nem políticas comuns."

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Esta evolução traduz-se já por algumas medidas inesperadas. "Reviravolta espectacular: a Alemanha vai ajudar os gregos que estão sem dinheiro", titula o Financial Times Deutschland, ao revelar que Berlim pondera uma solução europeia mas não exclui a hipótese de agir isoladamente, perante a primeira prioridade: um euro estável.

Escapar à intervenção do FMI

De um modo mais geral, garante por seu turno o Le Figaro, os países da zona euro teriam elaborado um acordo de princípio para socorrer a Grécia, que será apresentado durante a reunião informal dos dirigentes europeus em Bruxelas, em 11 de Fevereiro. O salvamento "poderá assumir a forma de ajudas bilaterais, ou seja, de empréstimos de excepção, de Estado a Estado", em condições muito rigorosas. Vários países iriam contribuir, designadamente a Alemanha, "primeira economia da zona euro".

Outra opção em estudo, segundo o Figaro, consistiria em "garantias de empréstimos em favor da Grécia, no âmbito de um fundo europeu". Essas medidas, explica o Le Monde, permitiriam evitar que a Grécia tenha de recorrer ao Fundo Monetário Internacional para este a ajudar a reestruturar a dívida. Essa intervenção seria sentida como uma humilhação e como um reflexo da impotência da União Europeia.

Van Rompuy quer tomar o comando

Resta saber quem será o responsável por esse governo económico em gestação. O The Independent revela que Herman Van Rompuy está a "aproveitar-se da crise financeira para lançar uma tentativa audaciosa de assumir o poder sobre os orçamentos nacionais". Este diário de Londres teve acesso a um anexo confidencial à convocatória aos dirigentes europeus para a reunião de Bruxelas. "Quer se fale de coordenação de políticas ou de governo económico, só o Conselho Europeu tem condições para propor e manter uma estratégia europeia comum, destinada a favorecer o crescimento e o emprego", escreve o presidente permanente do Conselho. A crise, acrescenta, revelou "as fraquezas da Europa".

"Os projectos de orçamento, os programas de reformas estruturais e os relatórios em matéria de alterações climáticas deveriam ser apresentados simultaneamente à Comissão." Como explica uma fonte em Bruxelas, "a ideia é colocar sob vigilância todas as economias europeias. Esta semana, vão ser tomadas decisões importantes".

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