"Às vezes, não há nada melhor do que uma boa crise, para revelar tudo aquilo em que não se tinha pensado antes, no momento em que, com fé em Deus e com as melhores intenções, se aderiu a um grande projecto." Às vezes, como diz Dieter Wermuth no seu blogue do Zeit-Online, a necessidade impõe-se. E as ameaças que pairam sobre a zona euro poderão levar a União Europeia a criar um embrião de governo económico.
"No caso da União Monetária, não podemos satisfazer-nos com um simples ‘Vamos em frente!’", garante Wermuth. "Precisamos de novas garantias ou, então, o projecto deve ser abandonado. Uma União Monetária tem de envolver uma política financeira comum ou, mais exactamente, uma união política." Nesse sentido, congratula-se este jornalista, a decisão de colocar a Grécia sob a "supervisão de Bruxelas é um passo na direcção certa".
A necessidade de um governo comum
A verdade é que "Paris, Londres e Berlim nunca falaram tanto de coordenar as políticas económicas da UE", salienta o editorialista Bernard Guetta, no Libération. "Em muito pouco tempo, os ataques especulativos contra os elos mais fracos da UE acabaram por colocar na ordem do dia a ideia de uma ‘governação económica comum’ – uma expressão cruel, cuja utilização traduz a derradeira resistência à necessidade evidente de um governo comum para um conjunto que já tem uma moeda, instituições, um Banco Central, eleições, um Parlamento e um mercado comum mas que não tem um sistema fiscal comum nem políticas comuns."
Esta evolução traduz-se já por algumas medidas inesperadas. "Reviravolta espectacular: a Alemanha vai ajudar os gregos que estão sem dinheiro", titula o Financial Times Deutschland, ao revelar que Berlim pondera uma solução europeia mas não exclui a hipótese de agir isoladamente, perante a primeira prioridade: um euro estável.
Escapar à intervenção do FMI
De um modo mais geral, garante por seu turno o Le Figaro, os países da zona euro teriam elaborado um acordo de princípio para socorrer a Grécia, que será apresentado durante a reunião informal dos dirigentes europeus em Bruxelas, em 11 de Fevereiro. O salvamento "poderá assumir a forma de ajudas bilaterais, ou seja, de empréstimos de excepção, de Estado a Estado", em condições muito rigorosas. Vários países iriam contribuir, designadamente a Alemanha, "primeira economia da zona euro".
Outra opção em estudo, segundo o Figaro, consistiria em "garantias de empréstimos em favor da Grécia, no âmbito de um fundo europeu". Essas medidas, explica o Le Monde, permitiriam evitar que a Grécia tenha de recorrer ao Fundo Monetário Internacional para este a ajudar a reestruturar a dívida. Essa intervenção seria sentida como uma humilhação e como um reflexo da impotência da União Europeia.
Van Rompuy quer tomar o comando
Resta saber quem será o responsável por esse governo económico em gestação. O The Independent revela que Herman Van Rompuy está a "aproveitar-se da crise financeira para lançar uma tentativa audaciosa de assumir o poder sobre os orçamentos nacionais". Este diário de Londres teve acesso a um anexo confidencial à convocatória aos dirigentes europeus para a reunião de Bruxelas. "Quer se fale de coordenação de políticas ou de governo económico, só o Conselho Europeu tem condições para propor e manter uma estratégia europeia comum, destinada a favorecer o crescimento e o emprego", escreve o presidente permanente do Conselho. A crise, acrescenta, revelou "as fraquezas da Europa".
"Os projectos de orçamento, os programas de reformas estruturais e os relatórios em matéria de alterações climáticas deveriam ser apresentados simultaneamente à Comissão." Como explica uma fonte em Bruxelas, "a ideia é colocar sob vigilância todas as economias europeias. Esta semana, vão ser tomadas decisões importantes".