O líder do Syriza, Alexis Tsipras, em Atenas, a 24 de maio.

Será Alexis Tsipras um perigo para a Europa?

Alexis Tsipras, vencedor das eleições de 6 de maio e líder da coligação de esquerda radical Syriza, é a estrela do momento da política grega. A três semanas das legislativas de 17 de junho, o seu programa, que oscila entre o pragmatismo e a luta de classes, preocupa muitas capitais europeias.

Publicado em 25 Maio 2012 às 15:41
O líder do Syriza, Alexis Tsipras, em Atenas, a 24 de maio.

O facto de Alexis Tsipras ter ido a Berlim, na terça-feira, vindo diretamente de Paris, mostra como, neste momento, tem consciência da sua força. Convidado pelo Die Linke, o partido da extrema-esquerda, foi defender as suas ideias no país que se devota como nenhum outro à política de austeridade.

Antes da sua chegada, a CDU apressou-se a fazer saber que não tinha necessidade de conversar com a nova estrela da esquerda. O SPD não sabia muito bem o que pensar. É assim que Tsipras chama a atenção. No Reichstag, sempre que as câmaras estão por perto, ele exibe um largo sorriso, um sorriso demasiado grande para a vida normal, mas que fica muito bem nas imagens.

Tsipras agradece educadamente o acolhimento que lhe dão. Fala de solidariedade entre os povos, que não devem ser empurrados a lutarem uns contra os outros. “Também travamos esta luta pelos trabalhadores alemães.”

Quando chegar ao poder, começará por parar as transferências destinadas ao pagamento da dívida e declarará ilegítimas as medidas de austeridade tão duramente negociadas. Foi isso que prometeu aos eleitores gregos. Também anunciou a sua vontade de anular a dívida grega e de nacionalizar os bancos. Os seus detratores acusam-no de populismo de esquerda. Para os partidários da austeridade, Alexis Tsipras é, muito simplesmente, “o homem mais perigoso da Europa”.

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A ascensão de um “jovem corajoso”

Pelo contrário, na Grécia, onde a crise empurrou uma grande parte da população até ao limite da sua capacidade de sofrimento, Tsipras é considerado um herói. Os eleitores adoram o seu encanto juvenil e as suas declarações claras. É um “pallikari”, um jovem corajoso que não se verga perante nenhuma autoridade.

Nascido em Atenas em 1974, aos 17 anos Alexis Tsipas já se fazia notar com a organização de manifestações de estudantes do secundário. Não só lidava com a Comunicação Social como um verdadeiro profissional como negociava duramente com o ministro da Educação.

Uma fotografia dessa época mostra-o no cimo de uma colina, os cabelos compridos ao vento e rindo com o otimismo inabalável de um jovem firmemente convencido de que a única coisa que o mundo espera é ser salvo por ele.

Com o apoio de Alekos Alavanos, seu mentor político, percorreu o caminho rapidamente. Em 2006 foi eleito para a assembleia municipal de Atenas, onde ganhou fama de estar próximo dos cidadãos. Eleito líder do Syriza em 2008, entrou para o parlamento em 2009.

O seu progresso explica-se, em grande parte, por estar no lugar certo no momento certo. O ano passado, quando os gregos ainda não estavam muito desesperados com as medidas de austeridade, as suas exigências radicais eram rejeitadas por grande parte dos eleitores. Mas isso não foi a única coisa que mudou: assistimos, também, a uma mudança de clima político em toda a Europa, uma mudança que se tornou especialmente visível com a vitória de François Hollande em França.

Ofensiva mediática internacional

Antes de partir para Berlim, Tsipras sublinhou, durante uma entrevista, que Angela Merkel, com a sua política de austeridade, estava “extremamente isolada” na Europa. No New York Times, aconselhou-a a seguir o exemplo de Obama e do seu programa de apoio à economia. É assim que ele prepara as eventuais novas negociações – com uma vasta ofensiva mediática internacional.

Uma pequena aparição no grupo parlamentar do Die Linke e continua o caminho em passo apressado. Klaus Ernst, o presidente do partido, e Gysi, o líder do grupo parlamentar, querem apresentar o seu convidado à imprensa da capital – na esperança de que um pouco do seu prestígio recaia sobre a vacilante esquerda alemã. Colocam-no entre eles, à frente da parede azul da sala de conferências de imprensa. Parecem dirigentes de um clube de futebol que se preparam para anunciar a contratação de uma nova super estrela.

“O protagonista não sou eu”, começa por dizer Tsipras, humildemente, “nem tão-pouco o meu partido. O protagonista é o povo grego”. Os efeitos das medidas de austeridade são desastrosos, é preciso evitar uma catástrofe na Europa, continua. “Apelamos à solidariedade dos povos de França e da Alemanha.” Tsipras não quer mais dinheiro, quer que o dinheiro seja partilhado de forma diferente. Que reformas fará se chegar ao poder na Grécia? Quer tornar o sistema fiscal mais justo e conseguir maiores receitas.

Tsipras pede que o compreendamos, classifica os alemães como “grandes irmãos” e pede-lhes que continuem a passar as suas férias de verão na Grécia, mas mantém-se firme nas suas posições. Recusa absolutamente continuar a amortizar a dívida nas condições atuais. A conferência de imprensa termina ao fim de quase uma hora. Tsipras dirige-se com Gysi para a limusina que o espera, à porta. O tempo passa: Sigmar Gabriel, o líder do SPD, acaba por se declarar disponível para o receber.

Visto de Atenas

“Tem ar de líder, mas não lidera nada. Só segue”

O diário grego I Kathimerini insurge-se contra o líder do Syriza:

Alexis Tsipras tem razão: podemos, ao mesmo tempo, rasgar o acordo de resgate que nos liga aos nossos credores e continuar no euro. Ao mesmo tempo, podemos receber o nosso salário ou não, podemos saltar de um telhado e não nos magoarmos, podemos comer tudo o que quisermos e não engordar, beber sem ficar bêbado e fazer uma licenciatura sem estudar. Podemos fazer o que quisermos e assumir as consequências.

Segundo o jornal de Atenas, Alexis Tsipras, que neste momento percorre a Europa para se encontrar com os líderes da esquerda radical, é culpado de não encarar a realidade de frente:

Tsipras tem o mesmo defeito que muitos dos seus antecessores: em vez de dar respostas políticas aos problemas prementes, anda feliz a bajular uma nação cujos pecados mortais são a lisonja e a mentira.

E conclui, bruscamente: “tem ar de líder, mas não lidera nada. Só segue”.

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