Desfile em traje tradicional Târgu Secuiesc, na Transilvânia, por ocasião do Dia Nacional da Hungria, 15 março de 2011.

Sículos semeiam a discórdia

A região de minoria magiar na Roménia acaba de abrir um gabinete em Bruxelas. Bucareste vê nisso uma provocação húngara. O jornal Romania Libera considera tratar-se apenas de um exemplo do interesse das regiões europeias em conseguir mais dinheiro e autonomia.

Publicado em 3 Junho 2011 às 15:08
Desfile em traje tradicional Târgu Secuiesc, na Transilvânia, por ocasião do Dia Nacional da Hungria, 15 março de 2011.

Os magiares desejam autonomia territorial e, como não conseguem obtê-la dos romenos, agarram o que podem e como podem através de Bruxelas.

A abertura em Bruxelas de um gabinete simbolicamente chamado "Terra dos Sículos", através do qual os habitantes das regiões de Covasna, Harghita e Mures poderão aceder mais rápida e facilmente aos fundos europeus, reabriu a caixa dos medos identitários romenos.

Desde 1919, a elite política romena manifesta-se regularmente angustiada com a ideia da perda da Transilvânia, devido à influência de Budapeste na província – que foi modernizada, ao mesmo tempo que o resto da Europa Central, pelos últimos Habsburgos – e à habilidade dos húngaros da Roménia em fazer propaganda fora das fronteiras do país.

O gabinete Terra de Sículos, em Bruxelas, criado a partir dos esforços do pastor Laszlo Tokés [vice-presidente do Parlamento Europeu] não é "inútil para a UE e uma provocação gratuita", conforme sugeriu o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Cristian Diaconescu, nem "um ataque sem precedentes contra a soberania e a integridade territorial da Roménia", como referiu – em pânico – a eurodeputada liberal Ramona Manescu. É antes uma solução em duas vertentes: prática e sentimental.

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Obter benefícios em Bruxelas

Laszlo Tokés, o arquiteto do gabinete de pressão da capital europeia, está a tentar, sobretudo, com esta inovação, atrair para si os magiares da Transilvânia, mostrando-lhes que podem obter benefícios não apenas estendendo a mão para Bucareste, como faz a UDMR [União Democrática dos Húngaros da Roménia, membro da coligação governamental], mas também abrindo caminho através das instituições de Bruxelas. Tokés quer, nas próximas eleições, assumir as rédeas de uma nova formação, o Partido Popular dos Magiares da Transilvânia, que irá competir com a UDMR.

Laszlo Tokés abre perante os magiares da Transilvânia um mapa de possibilidades que ultrapassa os dois centros de poder dos quais os húngaros esperavam favores, Bucareste e Budapeste. O gabinete Terra dos Sículos está instalado na Casa das Regiões Magiares em Bruxelas mais por motivos económicos do que políticos; mas a sua localização sob supervisão de Budapeste reacendeu sentimentos romenos de medo, frustração e ansiedade.

O ministro romeno dos Negócios Estrangeiros, Teodor Baconschi, expôs, em nome do Governo, o medo tradicional em relação à Hungria, como se Budapeste pudesse realmente deitar a mão a pedaços da Transilvânia. A Roménia "não se escandaliza sem razão", declarou o chefe da diplomacia, alegando que a designação de Terra dos Sículos seria "um processo pelo qual um nome popular é erroneamente apresentado como uma marca identitária de uma região".

Um processo sem consequências políticas

Os dirigentes do PSD (Partido Social-Democrata) e do PNL (Partido Nacional Liberal) desejam "tomar uma posição" contra as intenções separatistas dos magiares dentro do próprio Parlamento romeno, como já aconteceu no passado. Mas nem eles nem o ministro dos Negócios Estrangeiros sabem explicar de que forma o gabinete Terra dos Sículos compromete a integridade do país.

O Presidente Traian Basescu tem um "parecer negativo" sobre esta iniciativa, mas reconhece que não tem "consequências políticas" e que é apenas "um elemento de falta de consideração para com a Constituição e os romenos".

A sensibilidade dos dirigentes romenos perante as ideias dos Sículos, que querem obter mais dinheiro para as suas regiões, negligenciadas durante anos pela governação de Bucareste, revela que a elite política continua escrava de certos estereótipos e preconceitos historicamente ultrapassados. Vista de fora, a exagerada reação dos políticos romenos a perigos latentes pode ser interpretada como insegurança: um grande Estado, membro da UE e da NATO, assustado pela história imperialista de um vizinho.

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