Timo Soini, verdadeiro finlandês, falso gentil

A dois meses das eleições legislativas, o líder populista, anti-imigração e anti-UE, sobe nas sondagens. Tirando partido de uma imagem simpática, volta a pôr em causa o sistema político do seu país.

Publicado em 10 Março 2011 às 15:17

Quem conheça Timo Soini não deixa de ficar cativado. O homem é engraçado, simpático e eloquente. Não aparenta ser vociferador ou estúpido, e a sua devoção profunda mantém-se discreta. É conhecedor dos assuntos de fundo e geralmente responde sem fugir às questões. Mas é também um populista declarado, um político que navega no ambiente de descontentamento e apresenta soluções simplistas para problemas complexos.

Timo Soini é o líder do Verdadeiros Finlandeses. Ainda há alguns anos, o partido operava à margem da cena política. Por altura das eleições legislativas de 2007, obteve uns modestos 4,1% dos votos.

Nas últimas sondagens de opinião, o partido saltou para 17% das intenções de voto - um aumento que apanhou de surpresa todos os dirigentes do país. O Verdadeiros Finlandeses colocou-se ao nível dos três principais partidos do país, o Kokoomus [partido da coligação nacional], o partido centrista e o partido social-democrata. Hoje, a dois meses das legislativas, o partido de Timo Soini está quase em pé de igualdade com os social-democratas (17,3%). Esta é a maior ascensão de um partido político na Finlândia desde há décadas.

A crise da democracia finlandesa

A popularidade de Timo Soini é, antes de mais, uma consequência da crise que a democracia finlandesa atravessa. Durante anos, depois de cada eleição, a formação do Governo implicou altercações entre os três primeiros partidos nacionais, o que levou a um crescente sentimento de impotência e frustração entre os eleitores. Na Finlândia, a percentagem de votantes é mais baixa do que em qualquer dos outros países nórdicos - nas legislativas de 2007 atingiu 67,9% contra os 84,6% registados nas últimas eleições na Suécia.

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Naturalmente, o apoio conseguido por Timo Soini deve ser considerado com prudência. No entanto, tudo indica que o seu partido poderia alcançar pelo menos 10% nas legislativas. Passaria a ser o quarto partido da Finlândia, tornando-se difícil, nessas condições, mantê-lo afastado do Governo. Soini tem alardeado com altivez que o seu partido poderá vir a obter pelo menos dois postos ministeriais, e que ele próprio poderia assumir a pasta da indústria.

"O povo é que sabe"

Aqui reside a grande diferença entre a política sueca e finlandesa. Na Suécia, poucos responsáveis políticos estarão dispostos a conviver, mesmo que de longe, com os Democratas da Suécia [extrema direita]. Na Finlândia, pelo contrário, os Finlandeses Verdadeiros são vistos como uma alternativa perfeitamente credível. Principalmente porque não têm um passado neonazi. O partido é, por assim dizer, uma criação exclusiva de Timo Soini, cujas raízes políticas vêm do partido rural da Finlândia, um partido populista da década de 1970 liderado pelo lendário Veikko Vennamo, um orador talentoso que deixou algumas frases nos anais da política finlandesa, como por exemplo "Kyll Kansa tietää" [o povo é que sabe].

É precisamente esta tradição que Soini perpetua, forjando uma imagem de defensor do povo contra o poder estabelecido. Os seus cavalos de batalha são a saída do país da União Europeia e a limitação da imigração. Considera ainda que a Finlândia deveria retirar-se do Protocolo de Quioto e que a Igreja não deveria aceitar o casamento entre homossexuais.

Soini faz questão de se distanciar dos racistas. Refere frequentemente a sua fé católica (converteu-se quando era estudante, na década de 1980) como argumento da sua convicção de que todos os homens são criados iguais. Os seus opositores apontam que, apesar de tudo, a sua demagogia agrada ao eleitorado xenófobo, a quem conscientemente deixa crer que representa seus valores.

Os grandes partidos têm os nervos à flor da pele

Na verdade, o sucesso de Timo Soini não está relacionado com a política de imigração, mas com o facto de ter conseguido tocar a franja de eleitorado, cada vez mais ampla, que se afasta da política. Para muitos responsáveis políticos, este fenómeno deve-se ao facto de Soini se ter tornado a coqueluche da comunicação social, cujos jornalistas admiram a sua ascensão meteórica, em vez de a questionarem.

Porém, a credibilidade de Timo Soini foi um pouco abalada com o lançamento do seu programa em matéria de política ambiental. Veio a saber-se que este programa era uma cópia fiel do programa do Metalliliitto [sindicato dos metalúrgicos], incluindo as gralhas tipográficas. Depois de reconhecer o erro, continuou a traçar o seu caminho como se nada tivesse acontecido.

A solução para os " partidos antigos" poderia residir em deixar os Finlandeses Verdadeiros fazerem parte no próximo Governo. O poder instituído espera que se repita o que aconteceu com Veikko Vennamo, que não conseguiu manter as suas promessas eleitorais, e Soini sofra uma derrota esmagadora nas próximas eleições. Mas esta é apenas uma hipótese. E é por isso que os grandes partidos estão atualmente com os nervos à flor da pele.

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