A Europa era, na bela expressão de Mário Soares, o novo destino de Portugal saído do sonho trágico do Império. Com a integração europeia, os portugueses descobriam um espaço de valores, de democracia e de solidariedade, em oposição ao cinismo da ditadura; em suma uma promessa de qualidade de vida que não se reduzia apenas ao crescimento económico.
Os portugueses pouco questionam se a grave crise que enfrentam é um problema europeu; prevalece a ideia que são os únicos responsáveis, senão mesmo culpados. Responsáveis porque quiseram ser europeus cedo demais, porque considerarem-se europeus foi uma ambição desmesurada. Deviam ter continuado por muitos e bons anos “pobres e honrados”, “analfabetos quanto baste”, a “andar de burro” por estradas onde se morria a cada curva. Foi louca a ambição de estudarem, comerem, viajarem – em suma, viverem como os cidadãos da Europa próspera. 27 anos depois da adesão, o destino europeu devia continuar a ser uma utopia!
O problema é que os dirigentes dos países-ainda-não-tanto-em-crise são os principais, responsáveis pela culpa que os portugueses sentem, são eles que afirmam que os portugueses, como os espanhóis e os gregos são cidadãos de países de uma outra Europa. O “Sul”, de uma forma genérica, continuou a ser uma categoria de divisão intraeuropeia, mesmo depois de Portugal e Espanha estarem plenamente integrados no projeto europeu e hoje a fratura norte-sul é uma ameaça séria à unidade europeia.
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