Um modelo de crescimento para a Europa

A UE é o maior e mais elaborado mercado interno do mundo. Se quer sobreviver, terá de procurar dentro de si mesma o seu potencial enquanto força motriz para estimular o crescimento, escreve o economista italiano Innocenzo Cipolletta. Excertos.

Publicado em 13 Março 2015 às 11:54

O modelo de crescimento económico promovido pelas exportações foi predominante durante todo o período de reconstrução pós-guerra nos países da Europa ocidental e, mais tarde, foi aplicado aos países da Europa oriental, após a queda do muro de Berlim.

Outro cenário não seria possível, já que cada país europeu tinha um mercado interno muito pequeno para permitir tal recuperação, o que significa que cada esforço nacional foi devotado ao aumento das exportações durante mais de cinquenta anos.

Este modelo de crescimento foi aplicado durante vários anos e continua enraizado na memória, comportamento e mentalidade dos europeus, ao ponto de grande parte do sistema económico da Europa continuar a basear-se nele, isto é, em medidas que favorecem a concorrência e, consequentemente, a exportação.

Quando a Europa implementou o projeto do mercado único e do euro, um dos objetivos era precisamente transformar uma área de crescimento económico onde os países eram movidos pelas exportações numa área com uma procura interna significativa, que seria relativamente indiferente às flutuações da taxa de câmbio da sua moeda.

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No entanto, [[a lógica por detrás do estabelecimento da União Europeia é praticamente uma réplica dos modelos nacionais baseados nas exportações à escala continental.]]

O motor e o combustível

A Europa não pode seguir um modelo de crescimento baseado na exportação, mesmo que vários países europeus o tenham seguido. A implementação de um mercado interno e a adoção de uma moeda única implica a transição para uma Europa em que a procura interna representa o motor e o combustível do crescimento.

Uma regulamentação inteligente, cujo objetivo é melhorar a qualidade de vida e que foi concebida para o futuro das nossas gerações, pode ser um fator de crescimento importante para as nossas economias.

Para dar um exemplo, as regulamentações que visam reduzir as emissões atmosféricas não devem ter apenas o objetivo de reduzir a poluição, mas também apoiar a investigação de novas soluções e novas tecnologias que poderiam trazer mudanças substanciais para os processos de consumo e de produção, resultando em mudanças e substituições de vários produtos e serviços. Estas soluções poderiam tornar-se o pilar fundamental da procura interna europeia.

No futuro, os países avançados, comos os da Europa, não crescerão porque as suas necessidades em termos de consumo, de alojamento e de infraestruturas aumentarão. Em vez disso, vão progredir substituindo bens, casas, serviços e infraestruturas por outros de qualidade e nível superiores, graças à inovação tecnológica.

Ambientes de produção

Isto não significa que devemos abandonar a exportação e a competitividade. Pelo contrário, esta ideia implica avançar com a produção, criar novos campos de investigação e desenvolver uma nova procura, que será em seguida exportada para outros países e áreas geográficas.

Além disso, tal foco no crescimento interno é também necessário para que as nossas atividades de exportação continuem a crescer. Na verdade, se queremos dar continuidade ao processo de desenvolvimento e de competitividade sustentável, todas as partes da estrutura da produção devem ser sólidas.

A capacidade de exportação de um país não reside apenas no custo e na qualidade dos produtos das empresas exportadoras, mas também e sobretudo num ambiente de produção envolvente que lhes proporcione as partes, serviços, profissionalismo e conhecimento necessários.

[[As políticas que apenas favorecem a exportação acabariam por erradicar o ambiente envolvente]], que se baseia essencialmente na procura interna. A diminuição dos salários, a procura de subcontratação em países onde o custo de mão-de-obra é menor, os cortes orçamentais que permitem uma diminuição dos impostos e dos custos de produção contribuem para criar um deserto em torno do ambiente das atividades de exportação, o que poderá provocar a sua queda devido à falta de fatores de produção ou porque estas eventualmente serão deslocalizadas para locais onde estes fatores ainda existem.

A União Europeia poderá tornar-se um excelente mercado interno que vai estimular o crescimento do resto do mundo ou a soma de vários pequenos mercados que lutam para guardar a sua quota do mercado internacional em detrimento dos países emergentes. E isto seria a sentença de morte da Europa unida.

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