Um novo mapa da Europa

Publicado em 12 Fevereiro 2010 às 11:59

A semana que a Europa acaba de viver vai deixar marcas. Pela primeira vez, os 27 decidiram ajudar um Estado-membro em dificuldades financeiras. As garantias dadas à Grécia, anunciadas na cimeira extraordinária de Bruxelas, a 11 de Fevereiro, não se deveram unicamente ao facto de a Alemanha, empurrada pela França, ter aceite a ideia de pagar por um país menos escrupuloso. Tratava-se da existência da própria Zona Euro e, por conseguinte, a prazo, da UE como a conhecemos.

Com este episódio (e haverá outros nesta crise), desenha-se uma nova geografia da UE. Os mercados, ou mais precisamente alguns dos seus actores, como os fundos especulativos, tornaram-se adversários reais do projecto europeu, atacando as economias enfraquecidas, como a da Grécia, da Espanha ou de Portugal. Estes agentes económicos demonstraram que podem ser uma ameaça existencial, que ataca a Europa onde muito bem entende.

Aquelas a que costumávamos chamar economias periféricas estão hoje no centro das preocupações. Desta crise pode nascer um reequilíbrio da criação de riqueza e das práticas económicas entre os 27. Após anos de gestão da vida económica da Zona Euro, nomeadamente através da fixação das taxas de juro, o Banco Central Europeu, que não tem competência para intervir numa situação como a da Grécia, teve de entregar o assunto aos Estados. Nem tudo se decide em Frankfurt.

A Comissão Europeia, investida em 9 de Fevereiro, não desempenhou nenhum papel no plano de apoio à Grécia. Na geografia bruxelense, é o Conselho que detém firmemente as rédeas. Com o Reino Unido fora da Zona Euro, Londres fica duplamente marginalizada de todas as decisões tomadas esta semana, enquanto capital política e centro financeiro. O eixo Paris-Berlim retomou as rédeas na Europa, graças a esta crise. Resta saber o que Nicolas Sarkozy e Angela Merkel, que nem sempre se entendem, farão desta liderança.

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A ideia de um governo económico europeu, recusada durante muito tempo, instala-se agora. A longo prazo, por trás do mapa sem fronteiras da Europa de Schengen desenha-se o de uma federação económica. Alguns dias após a humilhação que constituiu a anulação da visita de Barack Obama, a UE debate-se com uma emergência. Mas para recuperar o seu prestígio, vai ter de assumir esta nova geografia e extrair dela os meios para funcionar correctamente e retomar um peso internacional digno desse nome. Eric Maurice

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