Pastor africano em Somcuta Mare (Roménia). © Raluca Brodner / Journal "Lumina".

Um somali perdido na Roménia

Desde que passou a ser membro da UE, que a Roménia passou a atrair uma vaga de imigrantes africanos, indianos, afegãos e iraquianos. Vindo da Somália, Kasim, sonhava chegar à Alemanha, mas acabou por ficar a meio da jornada quando os traficantes o abandonaram numa aldeia perdida da Roménia.

Publicado em 14 Julho 2009 às 17:25
Pastor africano em Somcuta Mare (Roménia). © Raluca Brodner / Journal "Lumina".

Percorreu milhares de quilómetros, colocando a vida nas mãos de passadores, que, há algumas semanas, o transportaram da Somália para a Ucrânia e depois para a Roménia. Kasim, de 29 anos, não dá muitos pormenores sobre o seu longo périplo de migrante. Tal como os 50 imigrantes que, no fim de Junho, se encontravam alojados no centro para refugiados de Somcuta Mare, uma aldeia situada no noroeste da Roménia, idealizava a Europa Ocidental como um paraíso que justificava que se corressem todos os riscos. A crise económica, o desemprego, a dificuldade de conquistar um lugar ao sol no Ocidente? «Passe alguns dias na Somália e verá que tudo isso são ninharias», explica. «Na Europa, pelo menos, temos hipóteses de sobreviver e isso basta-nos.»

Apesar de a miragem do Ocidente continuar a funcionar, os candidatos à imigração não estão a salvo de surpresas. A rede de passadores de Kasim tinha prometido levá-lo até à Alemanha, a troco de uma quantia elevada. Mas este somali acabaria por ir parar a uma aldeia da Roménia profunda… espantando-se de imediato com a parca semelhança com a imagem da Alemanha transmitida pela televisão.

"Todos eles falam connosco em Alemão", comenta, divertido, Vasile Alb, presidente do município de Somcuta Mare. "Quando aqui chega um africano ou um asiático, já sabemos que nos vai dizer ‘Guten Tag' (bom dia)." Na esplanada do centro, onde a empregada é uma jovem etíope, os aldeãos falam sem rodeios. "Nunca tinha visto negros, a não ser na televisão", reconhece o velho Nicolae. «Ao princípio, desconfiava deles. Mas habituamo-nos e, além disso, estes africanos são boas pessoas, trabalham e não causam problemas."

Oficialmente, há 65 000 imigrantes na Roménia, um número que está sempre a aumentar. Esta nova vaga de imigrantes – africanos, indianos, afegãos, iraquianos – é gerida localmente, graças ao centro de acolhimento da comuna de Somcuta Mare. O Estado romeno oferece-lhes alojamento, refeições, algum vestuário, mas o dinheiro para gastos pessoais limita-se a 80 cêntimos de euro por dia, o preço de uma garrafa de sumo de fruta. Para aumentar essa verba, fazem pequenos trabalhos para os camponeses da zona.

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Desde a adesão da Roménia à União Europeia (UE), em 2007, o país debate-se com escassez de mão-de-obra, devido à partida de 3 milhões de romenos, que foram trabalhar para os países do Ocidente. Mas o estatuto de Estado Membro da UE torna a Roménia mais atractiva para os imigrantes. "Ao princípio, os camponeses olhavam-me um bocado de lado», confessa Kasim. «Mas eu compreendo: nunca tinham visto negros. Agora, ficam contentes, quando me vêem chegar para trabalhar. Hoje, sinto-me cá bem e era capaz de me instalar aqui definitivamente."

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