Crise das soluções possíveis

Uma pausa para respirar que sai muito cara

Países da zona euro reúnem em cimeira de urgência e aprovam, finalmente, um novo plano de resgate à Grécia. O problema subjacente, no entanto, está longe de ser resolvido. E, entretanto, a conta vai ficando mais cara, avisa o Die Welt.

Publicado em 22 Julho 2011 às 14:41
Crise das soluções possíveis

Muitos poderão ver um copo meio cheio: os chefes de Estado e de governo dos 17 países do euro fizeram, ao que parece, progressos significativos na sua cimeira de Bruxelas. Agora, o resgate à Grécia envolve credores privados – como insistia Angela Merkel, que conseguiu vencer a oposição do governo francês e, especialmente, do Banco Central Europeu.

É um notável sucesso para a chanceler. E, ao que parece, em Bruxelas também foram feitos progressos noutros aspetos muito significativos. Comparada com o que se esperava, ainda há uns dias, a cimeira acabou por ser uma agradável surpresa.

De facto, o copo está meio vazio. O objetivo da cimeira era acalmar os medos de que a crise se espalhasse para cada vez mais países. É discutível que tenha sido alcançado. E o problema fundamental da crise do euro – de que a Grécia já não consegue pagar a sua dívida pública com os seus próprios recursos – continua. A reestruturação anunciada é excessivamente limitada para restaurar a capacidade de pagamento da Grécia. O país continuará a ser alimentado, gota a gota, pelos seus parceiros europeus.

As garantias as obrigações a longo prazo recentemente emitidas pelo governo grego – garantias essas que são dadas pelo fundo de resgate europeu – têm, também, o caráter de um subsídio permanente. Visto assim, a reunião de Bruxelas foi mais um passo no sentido de uma união de transferência. Ainda ontem, as taxas de juro exigidas pelos compradores das obrigações alemãs subiram imediatamente.

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Quem falar de sopro conclusivo e libertador para por um fim à crise é acusado de irrealista. As políticas podem ser simplificadas a esse nível, os argumentos continuam; tal como noutros problemas igualmente complexos – tal como a reforma do sistema de segurança social – é apenas possível uma abordagem gradual.

Esse argumento, no entanto, desconhece a natureza da crise do euro. Sempre que a política europeia fizer uma pausa para respirar o preço será demasiado alto. Porque, entretanto, os problemas tornam-se ainda maiores e a um ritmo dramático. Se, na primavera de 2010, tivesse sido encontrada uma solução para o problema da Grécia, talvez Portugal não tivesse sido obrigado a pedir ajuda.

Este pragmatismo que teima em resolver apenas o que é absolutamente necessário, no entanto, tornou a dívida grega numa montanha imensamente maior do que era há um ano atrás – e, agora, até um país como a Itália é candidato a uma crise da dívida. A política de pequenos passos foi experimentada durante um ano e meio. A Europa não aguenta outro ano e meio assim.

Contraponto

Foi o BCE que ficou a ganhar

O Banco Central Europeu perdeu uma batalha, mas ganhou a guerra, considera o Handelsblatt. Os responsáveis políticos, ao aumentarem os meios de resgate à Grécia e ao consolidarem as competências do mecanismo de resgate, levaram a UE "a intervir muito mais na ajuda a prestar a Atenas. Era isso exatamente que o BCE desejava há muito, tendo sido muitas vezes obrigado a comprar sozinho obrigações para lutar contra a queda do país endividado".

No final de contas, refere o Handelsblatt, "os políticos aliviaram o BCE. Doravante, este último poderá concentrar-se na política monetária deixando a política financeira para os ministros das Finanças. Por causa disso, o BCE pode perfeitamente reconhecer uma pequena derrota".

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