União monetária avança, penosamente

Com a entrada em vigor do Mecanismo Europeu de Estabilidade e do pacto orçamental, e com o consenso sobre a união bancária, a zona euro remedia, finalmente, os “defeitos de nascença” da moeda única. Mesmo que isso implique um fosso cada vez maior para com os outros países membros.

Publicado em 11 Outubro 2012 às 15:25

O espetáculo raramente é atrativo. E apenas os iniciados poderão acompanhá-lo na medida em que a Europa se constrói, nos tempos que correm, na dor e na complexidade. Mas o que está a acontecer, uma vez mais na dor e sob o efeito da crise, é a lenta transformação da zona euro numa verdadeira união monetária. Uma evolução necessária e positiva.

Os 17 países membros que aderiram à moeda única estão a caminho de uma uniformização orçamental, sem a qual uma união monetária não poderia resultar. Em Paris, a Assembleia Nacional ratificou, terça-feira, dia 9 de outubro, o Tratado sobre a Estabilidade, a Coordenação e a Governação – só mesmo a Europa para gostar de designações tão poéticas. Na quarta-feira, os deputados adotaram o projeto de lei orgânica que aplica a “regra de ouro”.

Em linguagem corrente, é um pacto orçamental que obriga os seus signatários a ter finanças públicas que promovam o equilíbrio. Numa outra designação bárbara, a de défice estrutural, o pacto introduz flexibilidade na perseguição deste objetivo.

No início da semana, a zona euro presenciou a entrada em vigor do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE). Podendo mobilizar cerca de 700 mil milhões de euros, o MEE é uma espécie de Fundo Monetário Europeu. Este ajudará os países que têm dificuldades em financiar a sua dívida nos mercados ou que devem recapitalizar o seu setor bancário. Os europeus seguem finalmente o caminho de uma supervisão comum dos seus bancos.

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Fundações fracassadas

Uniformização orçamental, solidariedade financeira e união bancária: tudo isto exige imensos sacrifícios. O custo social é pesado, a curto prazo pelo menos, como Angela Merkel teve a oportunidade de o constatar na sua visita, terça-feira, a Atenas. Os espanhóis, cujo orgulho não tem limites, hesitam em solicitar o MEE. Os alemães não querem de todo que a Europa “supervisione” os seus bancos. Os franceses estão geneticamente reticentes quanto à própria ideia de equilíbrio orçamental, etc.

Mas já estava mais do que na hora. Se queremos manter o euro, é preciso corrigir o que os pais fundadores fizeram às três pancadas: um modo de funcionamento instável que explodiu com o primeiro impacto assimétrico. Não há união monetária sem união orçamental, bancária e sem solidariedade financeira. Aos quais deverá ser rapidamente acrescentado o indispensável componente democrático: de uma forma ou de outra, a gestão deste projeto deverá ser feita sob o controlo dos eleitos dos 17 países-membros.

Entende-se que possam recusar avançar para a uniformização económica. Mas, neste caso, é preciso dizer não ao euro. O primeiro-ministro britânico teve razão quando revelou, domingo à BBC, que a Europa não pode continuar com um único orçamento. Haverá um para a zona euro, com mecanismos de transferência avançados. E outro, mais limitado, para toda a União Europeia. David Cameron quer aproveitar para renegociar, com mais liberdade, a participação do seu país na União.

Talvez seja inevitável: à medida que se cria a união monetária, destrói-se uma outra Europa. Haverá um círculo mais serrado, na zona euro, e outro muito maior mas muito menos estreito. Estão longe de acabar as noitadas em Bruxelas.

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