Um cartaz da coligação União Social-liberal (USL), num edifício do centro de Bucareste, a 30 de novembro de 2012.

Votar, sim, mas para quê?

A 9 de dezembro, os romenos elegem os seus deputados e senadores, na sequência de um ano marcado por uma longa crise entre o Presidente Traian Băsescu e o primeiro-ministro Victor Ponta. Nesta situação, é difícil levar a cabo um debate sobre o estado real da sociedade.

Publicado em 6 Dezembro 2012 às 12:18
Um cartaz da coligação União Social-liberal (USL), num edifício do centro de Bucareste, a 30 de novembro de 2012.

Penso que o que está em jogo nestas eleições foi perfeitamente resumido pelo primeiro-ministro Victor Ponta [membro da União Social Liberal, centro-esquerda], quando, durante uma visita à Roménia profunda, disse que, se nos tivessem dito que teríamos de lidar com a DNA [Direção Nacional Anticorrupção] e com a ANI [Agência Nacional de Integridade] e que não ficaríamos apenas com dinheiro nos bolsos, talvez tivéssemos pensado duas vezes antes de aderir à UE.

Isto faz-me recordar uma mulher que vi um dia, no telejornal de uma cadeia belga: tinha tido um filho que sofria da síndrome de Down [ou trissomia 21] e dizia que, se tivesse sabido, teria tratado de interromper a gravidez a tempo, porque – dizia – "a saúde da criança está acima de tudo".

Adesão à UE fez bem à Roménia

Pondo de lado o absurdo da situação, penso que o primeiro-ministro tem razão, do ponto de vista político: a adesão à UE fez um bem enorme à Roménia e a todos os romenos, antes mesmo de se tornar efetiva. As pessoas habituaram-se aos seus benefícios, que consideram como dados adquiridos, aos quais já nem sequer prestam atenção. Já só reparam no que lhes acontece de mal.

Analisemos mais de perto os dois temas principais, que, diz-se, ocupam os pensamentos dos eleitores, nesta campanha mole e adulterada. Em 2012, os rendimentos mensais das famílias, calculados em lei (moeda nacional), foram 73% superiores aos de 2006, o último ano de crescimento económico máximo antes da adesão (e da crise). Por outras palavras, os romenos vivem incomparavelmente melhor do que então. Mas quem quer saber disso?

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Os eleitores não raciocinam contra a corrente dos factos, perguntando-se como viveriam se não tivéssemos entrado na UE, e também não fazem cálculos objetivos a longo prazo. Não: quando votam, as pessoas vão buscar as expectativas subjetivas que projetavam, de maneira um tanto utópica, por alturas de 2006-2007, quando parecia que tudo – os salários, os preços dos terrenos, os empregos – ia aumentar 30% por ano, indefinidamente.

É esta carência subjetiva que modela o comportamento eleitoral, e não apenas na Roménia. Pedir à população que leia as excelentes análises da Comissão Europeia sobre os "custos da não adesão" seria inútil, do mesmo modo que mandá-la numa viagem iniciática à República da Moldávia não serviria de nada.

Danos colaterais

O outro tema caro às pessoas, pelo menos em teoria, é a corrupção, ou seja, a maneira como "eles" nos roubam, sejam quem forem os "eles", tanto faz, são todos iguais. Tanto quanto se pode avaliar, não é de esperar que sejam recompensados aqueles que, depois de 2005-2006, tornaram possível que, pela primeira vez em 150 anos de Estado romeno moderno, altos funcionários possam ser julgados e considerados culpados de corrupção. Esta novidade concretizou-se na sequência de pressões diretas da UE e seria de pensar que a população a inscrevesse na coluna dos "benefícios".

O combate à corrupção não podia realizar-se sem choques, o que nos reconduz diretamente ao que está em jogo nestas eleições: aqueles que são ameaçados pelo reforço do Estado de direito apoiado pela Europa são numerosos e não deixarão que lhes arranquem, sem luta, as rédeas do país.

Na verdade, representam uma maioria na classe política, embora estejam divididos entre mais moderados e mais radicais. Nos últimos meses, temos tido a sensação de que o primeiro-ministro Ponta, por exemplo, pouco controlo tem da situação, instalado como está numa posição desconfortável de grande distância entre os dois campos, tentando dizer a cada interlocutor aquilo que este quer ouvir. Daí todas essas contorções verbais oficiais que divertem a galeria.

Por outras palavras, enquanto para os eleitos o que está em causa nas eleições é o regresso ou não à impunidade perante a lei, o povo votará inevitavelmente de acordo com uma lógica paralela, movido pelos ventos antiBăsescu [o Presidente Traian Băsescu, do Partido Democrata Liberal] que começaram a soprar há dois anos. Porque foi o Presidente quem [a pedido do FMI] reduziu os seus salários e as suas reformas. Com o tempo, esses ventos abrandarão – mas é ainda demasiado cedo. A ideia da Europa parece estar sofrer os danos colaterais de tais ventos.

Prognóstico

Caminho quase livre para o USL

Apesar de as eleições serem só a 9 de dezembro, tudo está decidido, escreve o România liberă. O diário afirma que dentro da União Social-liberal, o partido do primeiro-ministro cessante Victor Ponta,

já se distribuem lugares no futuro Governo, prepara-se o tratamento a dar ao Presidente [Traian Băsescu], elaboram-se as listas de futuros eurodeputados. […] Todos os argumentos que indicam uma vitória da União Social-liberal (USL) com um resultado superior a 50% são irritantes, tal como a campanha eleitoral no seu conjunto. O resultado eleitoral não pode ser contraditado pela USL. E o partido tudo faz para que assim seja.

A arrogância assim descrita pelo diário poderá levar os eleitores a absterem-se ou a desmentirem as sondagens votando no ARD, Aliança Romena Direita, apoiada por Traian Băsescu. É uma das razões pelas quais o Jurnalul Național, que apoia Victor Ponta, apela ao voto dos cidadãos:

O que devemos fazer? Devemos vencer a apatia e a preguiça. Devemos votar, é tudo o que nos resta. Votem, como se esta fosse a última vez. Falem com os vossos amigos e com os vossos parentes e digam-lhes que esta é a última oportunidade para se pronunciarem contra a ocupação, porque a Roménia vive sob ocupação. Vão votar como se quisessem parar o fim do mundo. […] Deem um primeiro tratamento, através do voto, pelo boca a boca, à nossa democracia moribunda, enquanto ainda estamos a tempo.

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